O outro lado do amor

Capítulo 10 - Cristopher

Eu estava obcecado. E eu não poderia negar isso.

Pode parecer algo infantil da minha parte, mas eu não deixaria passar todas as vezes que ela me respondeu com grosseria.
Quem ela pensava ser?
Não passava de uma negra insignificante.
Eu a odiava, a odiava com todas as minhas forças.
Eu nunca senti esse sentimento, mas com ela é inevitável. Sua petulância era irritante.
Por que mesmo foi abolida a escravidão?
É óbvio que pretos são diferentes de mim, tanto no caráter quanto na educação. Sem dizer as mulheres, que são muito mais atraentes do essas desclassificadas.

Na faculdade tinha alguns colegas que gostavam de se exibir dizendo o quanto elas eram quentes e atendiam a seus fetiches, como se isso fosse algo relevante para se vangloriar. Mas namorar somente um do grupo namorava e muitas das vezes ele parecia se envergonhar, além da família não aceitar. Algo que eu não precisarei temer, nunca me interessei e jamais pretendo tocar em uma. E não é nem pela rigidez do meu pai mas também porque só em ter esse pensamento, eu me arrepio por inteiro. O asco que eu sinto é como um barulho ensurdecedor.

Levanto-me para beber água e quando olho para o copo, me sobe uma raiva imensa, pois me lembro dela imediatamente, do dia em que bebeu água sem a minha autorização. Volto a me sentar, mas assim que encosto na cadeira, a porta é aberta, e eu reviro os olhos sabendo quem era e o que viria a seguir.

_Por que você a demitiu? - Ricardo interroga parando em minha frente e me olhando com raiva

_Ela me faltou com respeito.

_Você quer mesmo falar de respeito?! E todas as vezes que você a humilhou com injúrias e calúnias?

_Ela merecia ter ouvido muito mais. Por que está tão fissurado neste assunto?

_Ela é uma boa moça, fazia muito bem o seu trabalho.

_Pelo visto exercia outro trabalho para você.

_Nunca tivemos nada, deixe de ser estúpido.

_Não é isso que parecia. E se não tiveram porque provavelmente você não quis.

_Se não tivemos algo a mais é porque ambos não tiveram vontade, mas saiba que eu adoraria ter uma mulher tão linda e inteligente como ela ao meu lado.
- Aponta o dedo no meu rosto

_Você acha mesmo que mulheres como ela são para apresentar para a família e sair como casal?

_Você não a conhece, então pare de julgá-la como se fosse perfeito.

_A única coisa que preciso ver para saber do caráter é a sua cor . - Suas pupilas chegavam a dilatar de raiva

_Você é mesmo um merda. Eu não sei como não enxerguei isso antes ou talvez eu não quisesse enxergar. - Começa a caminhar

_Você é um idiota que gosta de bancar o bom samaritano. Mas se gosta tanto daquela negra suja, fique com ela. - Cessa os passos - Saia daqui. Está demitido!

_Obrigado por me poupar de pedir demissão. - Bate a porta

_Desgraçado! - Murmuro com raiva

Até nisso aquela morta de fome estava envolvida, ela conseguiu me tirar o meu único amigo.
Saio da minha sala e caminho até a recepção.
Eu precisaria de uma nova secretária e alguém para o RH. Entro no meu carro em direção ao edifício ao qual ela ainda mora. E ao chegar, noto que era um lugar aterrorizante, sequer havia um porteiro.

Ligo para o ex dono e soube tinha uma síndica, que não servia para nada visto que o prédio era um lugar totalmente aberto e sem segurança. Bato no apartamento dela e ela rapidamente abre a porta e assim que me vê dá um sorriso de lado.

_Avise aos moradores que o novo dono almeja falar com todos no pátio do prédio. E que sejam rápidos.

O meu coração estava acelerado, não sei o porquê.
E a cada morador que chegava ficava ainda mais. Eu estava apreensivo e quando ela surge eu sinto o suor em minhas mãos. O seu olhar se cruza com o meu e eu me mantive impassível, enquanto ela olhava com curiosidade.

_Eu comprei este edifício. E pretendo fazer algumas mudanças.

_Quais seriam estas mudanças, senhor? - Um rapaz questiona

_Podem continuar seguindo normalmente suas vidas. - Comemoraram alegres - Exceto uma única pessoa.

O sorriso em seus rostos sumiram instantaneamente, com excessão dela. Ela sabia que eu me referia à ela, portanto sequer esboçou um sorriso. O seu olhar foi tomado por suas lágrimas, que ela limpou rapidamente. Em seguida levanta os olhos e não deixo de notar que estavam inchados. Ela devia ter chorado muito para estar daquela forma.
E se depender de mim choraria mais...

_Por que você tem prazer em me machucar?

_Isso é apenas o começo. Como sei que você não tem como pagar o aluguel precisará sair daqui.

_Eu não tenho nenhum aluguel atrasado.

_Em breve terá. Até porque você não tem um emprego.

_Não. Mas eu irei arrumar outro emprego.

_Eu não irei alugar o meu apartamento para você transformá-lo em um âmbito de perdição.

_Eu nunca lhe fiz nenhum mal para me tratar assim.

_Você cruzou o meu caminho e isso é o suficiente.

_Eu tenho muita pena do senhor. Deve ser horrível viver nessa carcaça cheia de ódio.

Ela se vira, deixando-me falando sozinho e some das minhas vistas. Suspiro profundamente e sorrio vitorioso ao vê-la na ruína.
E isso é apenas o começo...