Capítulo 22 - Bônus

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A noite foi tão tranquila. Depois que eu e Aline fomos à sorveteria, caminhamos na praça e ela recebeu a notícia que estava livre de toda a acusação do roubo.
Foi de longe uma das melhores notícias que recebemos. Eu estava muito feliz pela companhia dela, de alguma forma ela me fazia bem. Despertava em um instinto protetor que até eu desconhecia. Ela é uma moça boa, extremamente carinhosa e destemida.
E ao mesmo tempo também era sensível e tímida.
A forma que age, a maneira que enfrenta de frente os seus problemas me deixa impressionado. Uma menina que sofreu tanto na vida, e independente de tudo o que aconteceu ainda acumula uma força sobre-humana. Ela é realmente muito interessante. Eu sinto um carinho imenso por ela e jamais deixarei que alguém a faça mal novamente.

Sento em minha cama e abro a galeria do meu celular. Tinha uma foto minha e do Cristopher, em um réveillon. Estávamos na praia, somente nós dois, depois de irmos à um evento social. Já estávamos com a gravata frouxa e de pés na areia. Eu segurava uma garrafa de champanhe, estava completamente embriagado e ele sóbrio. Ele nunca bebeu, nunca gostou de qualquer coisa que faz mal ao corpo. Neste dia nós entramos na água fria e comemoramos a virada de ano. Desde cedo me recordo de conhecê-lo, nossas famílias eram amigas, então criamos um vínculo muito forte. Apesar de ser alguns anos mais velho, nós nos dávamos bem. Ele sempre teve esse lado perverso e preconceituoso, mas eu ignorava, pensava que fosse algo passageiro e que ele não seria capaz de fazer mal à alguém. Mas eu estava enganado. Os meus pais também eram como o o pai dele, mas eu decidi ser diferente. Não acredito que estejam certos em suas narrativas, todo esse ódio descarregado em pessoas só os fizeram mal. Com o tempo eu acabei me afastando deles por não concordar com suas atitudes. Faz quase dezenove anos que sequer trocamos uma mensagem ou uma ligação. Eu sigo com os meus princípios e eles que sigam com o seu preconceito, talvez algum dia se toquem do quão ignorantes são.

E com o Cristopher é a mesma coisa. Eu não pensei que terminariámos assim, mas depois das incontáveis maldades que ele fez, além das humilhações para com a Aline, eu não encontrei outra opção a não ser me afastar.
Deleto a foto e me deito. Após a nossa caminhada na praça, ainda assistimos um filme de comédia quando chegamos em casa. Pelo que percebo, ela é romântica mas infelizmente não deu sorte no amor. Ela contou-me do ex tóxico e abusivo, e eu fiquei chocado com a idiotice de alguns homens. Eu não sou nenhum santo, mas em hipótese alguma eu trataria uma mulher mal, e isso é mínimo em qualquer tipo de relação.
Adormeço em alguns minutos e quando abro os olhos a luz lá fora já se fazia presente. Levanto-me e visto a minha roupa para ir trabalhar. Desço as escadas e encontro a mesa posta. Ela tinha feito o café da manhã e estava parada, sorrindo, ao lado da mesa.

_O dia hoje com certeza será maravilhoso, devido a minha primeira vista.

_Você não vai acreditar no que aconteceu. - Seu entusiasmo era evidente

_Você não deveria estar na rodoviária?

_É sobre isso mesmo que eu quero falar.

_Eu já estou ficando curioso.

_A minha família não precisará mais sair de casa.

_Como assim? Aconteceu alguma coisa?

_Eu recebi uma ligação do meu vô ontem à noite, ele disse que a obra foi cancelada.

O que será que ele estava aprontando agora?

_Isso só pode ser coisa do Cristopher. Alguma ele está armando.

_O que ele estiver planejando, eu estarei aguardando. Mas por enquanto eu fico feliz por eles não precisarem sair da terra que tanto amam.

_Temos que ficar preparados mesmo, nunca se sabe...

_É verdade. E o dinheiro das passagens será devolvido à você, não se preocupe.

_Você sabe muito bem que isso não é o mais importante. E sim a sua segurança e bem estar. - Seguro sua mão e ela esboça um sorriso - Você precisa se alimentar. Nada de sair de barriga vazia.

_Como sabe que eu irei sair?

_Segredo...

_Aposto que viu o envelope com os currículos.

_Não. Eu simplesmente concluí que você não se aquietaria, sei que pensa que está me dando prejuízo ou incomodando e por isso quer se sentir útil.

_Como sabe disso tudo?

_Está explícito em seu rosto.

_Eu não consigo disfarçar o que sinto.

_Isso é algo impressionante e muito bom. Algumas pessoas acreditam que demonstrar emoção significa fraqueza.

_Como são estúpidas algumas pessoas. - Sorrio fraco

_Nem me fale. - Me levanto - Vamos, eu te dou carona.

Ela se limpa e carrega seus pertences para sairmos. E eu dirijo até o meu novo emprego. Eu era conhecido,
então consegui um emprego rápido. Apesar de não precisar trabalhar para ninguém. E pela primeira vez eu encontro o dono do estabelecimento.
Pedro Silveira.
Ele nunca fazia questão de estar presente, mas coincidentemente estava hoje. Ele apenas me cumprimenta e me encara com os olhos cerrados. Ignoro o seu olhar e começo a trabalhar, aguardando o dia passar.

Edit 🌵

O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora