Capítulo 53

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Eu não conseguia discernir se o que eu via era real ou ilusão. Eu não quero acreditar que era o Pedro na minha frente, não podia ser. Depois de tantos anos, o causador de tantas lágrimas minhas estava bem aqui na minha frente. Também paralisado com a minha presença, mas não mais do que eu. Ele estava um pouco mais maduro, com barba e cabelos bem cortados. Em outros tempos eu me derreteria, mas hoje, eu só consigo me lembrar de tudo o que ele me fez e sentir um tremendo desprezo por ele.

_É você... - Ele disse se aproximando - Que coincidência, você trabalhar justamente aqui.

_Vocês se conhecem? - O senhor Magalhães intervém

_É claro que sim. Ela é a minha amada! - Retiro a mão do carrasco e me afasto de ambos

_Como é? - Pergunto atônita com o cinismo

_Nós namorávamos quando mais jovens e infelizmente o destino nos separou.

Eu saio do meu transe e recobro a consciência com as palavras tão inescrupulosas dele.
Como ele pode dizer tais mentiras tão descaradamente?
Começo a rir de raiva e nervoso chamando a atenção para mim.

_O destino? Você é muito ardiloso mesmo não é, Pedro?

_Meu amor...

_Não me chame assim! - Grito histérica - Você perdeu esse direito desde que fez o que fez comigo.

_Isso tudo é passado, nós podemos tentar novamente. Se lembra o quanto éramos felizes? - Ele se aproxima sorrateiramente

_Eu me lembro de todas as noites em que eu chorava. Me lembro das suas mentiras, me lembro das traições e principalmente me lembro de como você me manipulava.

_Eu mudei, meu amor. Aquele Pedro não existe mais.

_Eu não acredito em você. Aliás não acredito em nada do que me disser.

_Eu não queria ter feito nada disso com você, meu amor. Foram decisões precipitadas que eu me arrependi. Depois daquele dia eu tentei te reconquistar, mas você vivia se esquivando.

_E eu deveria ter cedido?

_Talvez, aquilo foi apenas um deslize sem importância.

_Eu nunca aceitaria uma traição!

_Mas também não cedia nunca. O que queria que eu fizesse? Esperasse a vida inteira por você e sua boa vontade?

_Se me amasse mesmo você esperaria.

_Eu ainda te amo. Por isso te procurei por tanto tempo e aqui estou, veja como o destino nos uniu novamente. Temos a chance de reconstruir nossa história, de sermos felizes. E agora, sem esperas.

_Você é louco se pensou que algum dia teria outra chance comigo.

_Eu sou um louco sim, mas um louco apaixonado. E estou disposto a tudo para ter você de volta.

_Saiba que está perdendo o seu tempo insistindo.

_Eu sei que no fundo você ainda me ama.

_Depois de tanto tempo, eu acredito que eu nunca te amei. Talvez fosse só uma paixão platônica na qual eu te idealizava.

_Eu a conheço melhor que si mesma, e sei que ainda sente o mesmo por mim. Do contrário já teria seguido a vida.

_E quem disse que eu não segui? Eu estudei, eu tenho um trabalho, eu me livrei de qualquer sentimento bom ou ruim que sentia por você.

_Mas ainda continua sozinha. - Seu sorriso presunçoso estava ali

_Ela não está sozinha!

_Senhor Magalhães, o agora meu rival. Havia me esquecido de sua presença.

_Não somos rivais, Pedro. Ela já especificou que você não tem chances.

_E você por acaso tem? Pelo que disse não é correspondido sentimentalmente. E da forma que ela o enfrentou naquele dia no seu escritório, é perceptível que você também não tem nenhuma chance.

Ele estava lá, como eu não o vi?

_Você estava lá?

_Sim, meu amor. E foi aí que comecei a procurar você. Descobri o seu endereço, seu número e passei a ligar e te observar dia após dia.

_Então é você... - Passo a mão no rosto abismada - E como descobriu o meu número?

_Ricardo trabalha em minha loja. Foi só conseguir pegar o celular dele. - Ele disse na maior simplicidade - Era tão bom ouvir a sua voz...

_Meu Deus! - Exclamo surpresa

_E a propósito, você e Ricardo. Eu soube que moram juntos, que história é essa?

_Você não tem o direito de me cobrar nenhuma explicação.

_Eu já entendi, vocês estão juntos e não se assumem...

_Não! E isso também não lhe interessa.

_Me interessa sim, porquê você é minha. E se esse Ricardo estiver no meu caminho eu terei o prazer de tirá-lo. - Ameaça com raiva - Aliás, qualquer um que estiver.

_Com o Ricardo pode ficar despreocupado. Agora comigo...

_Pode ter me ajudado no caso, mas acredite, eu não levo isso em relevância.

_Casos à parte, senhor Silveira.

_Tem algo que me surpreende senhor Magalhães. Eu soube que você tem um certo distanciamento e o próprio admitiu não gostar dela por ser negra. Mudou de idéia tão rápido para quem há meses atrás odiava tanto.

_Felizmente eu tenho tentado me reconciliar com a vida, tentando ser alguém melhor para mim mesmo.

_Não se faça de bom samaritano, senhor Magalhães. Sabemos muito bem o que te fez mudar de idéia.

_Sim, ela teve uma grande participação nisso, se quer saber.

_Ou será que para conseguir executar o seu plano daquele dia? Você sabia, meu amor? - Ele se vira para mim - Sabia que ele pediu uma idéia de como conseguir transar com a empregadinha dele?

_O que? - Pergunto temerosa - O senhor fez isso?

_Sim, ele fez. Eu até sugeri que a oferecesse dinheiro, mas ele disse que ganhou foi uma marca de 5 dedos na face.

Então era verdade...
Começo a me sentir tonta com toda aquela situação e me sento no sofá, impactada, com tudo aquilo. Os dois eram estúpidos, os dois eram sem escrúpulos.
Meu Deus, porque eu tinha que conhecer esses homens?

_Isso foi antes de conviver com você, de te conhecer de verdade. - O senhor Magalhães tenta se explicar

_O senhor não me conhece, não sabe nada sobre mim. Mas isso não importa mais.

_Está vendo o que fez, senhor Magalhães? E ainda acha que ela ficará com você ao invés de mim?

_Saia da minha casa, imediatamente! Eu não vou permitir que você a faça sofrer novamente. - Ordena com uma raiva explícita

_Ela não é para você. Ela vai voltar a ser minha, você queira ou não.

_Saia daqui! - Rosna

O carrasco o empurra, fechando a porta e volta ao meu lado. Eu saio de perto dele e me sento no chão, chorando. Ele veio para perto, mas eu não queria a companhia dele.

_Aline...

_Saia de perto de mim. Eu quero ficar sozinha.

_Por mais que a casa seja minha, eu irei respeitar o seu espaço.

_Eu devo agradecer?!

Ele sai cabisbaixo e sobe para o quarto dele.
E eu fico sentada, sozinha, derramando algumas lágrimas. Ele tinha voltado para a minha vida. E não mudou nada, continua o mesmo imbecíl, manipulador de sempre. Não sei quanto tempo fiquei encolhida, só sei que me senti ser levada por braços fortes a um lugar macio e confortável.

Então aproveito e me acomodo, me cobrindo do frio. A minha cabeça estava doendo tanto, o meu corpo cansado e o meu coração apertado, então dei lugar ao sono para esquecer esses problemas e descansar, por algum tempo, de tudo o que aconteceu.





Edit 🌼

O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora