Capítulo 9 - Aline

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Amanhã eu completaria um mês no escritório e eu estava surpresa por ter sobrevivido a tanto. Pelo menos ainda tinha o Ricardo. Ele era um homem muito gentil, desde que eu cheguei aqui sempre foi o único a me tratar bondosamente e eu aprendi a gostar muito dele. Não era aquela coisa de que poderia acontecer algo entre nós dois, eu gostava dele como um amigo. E também, ele nunca teria olhos para alguém como eu.

_Um real pelos seus pensamentos... - Abre um sorriso encantador

_Estava justamente pensando em você. - Me olha surpreso e eu tento me explicar para que ele não me interprete mal - Estava pensando no quanto você é gentil comigo, o único na verdade a me tratar bem aqui.

_Eu só a trato como uma pessoa normal.

_As pessoas aqui nem isso fazem. Eu me sinto uma aberração com os olhares.

_Algumas pessoas ainda não aprenderam a conviver em sociedade e respeitar as diferenças dos outros, mas eu ainda acredito que aprenderão.

_Eu estou começando a achar que não. Estamos no século vinte e um e algumas pessoas agem como se estivéssemos em mil e quinhentos. Todo o racismo e o preconceito são tão normalizados que é difícil acreditar na evolução humana.

_É realmente horrível mesmo. Eu nunca vivi, mas procuro sempre ouvir as vítimas e tentar passar o conhecimento adquirido ao próximo.

_O senhor é sempre tão inteligente. Às vezes não parece ser real. Eu não sei como consegue conviver com aquele idiota.

_É muito difícil conviver com o Cristopher, nós somos muito diferentes. - Diz pensativo - E você quem tem se mostrado muito inteligente, além de ser linda.

_Aparentemente os seus dias são dedicados a tentar transar com a minha secretária, Ricardo. Não tem um trabalho a exercer não!? - A voz do carrasco soou atrás de nós tirando da paz do momento

_Eu não estou tentando seduzi-la, e por favor a respeite.

_Quem não te conhece que te compre.

_Eu vou para a minha sala. Eu te vejo mais tarde, Aline.

O idiota observava e reviro os olhos sabendo que ele iria falar alguma estupidez.

_Aline... que íntimos vocês estão. - Diz em tom de sarcasmo

_Somos amigos, algum problema com isso?

_Eu conheço muito bem o tipo de amizade que o Ricardo mantém com as mulheres. E ele te cantou no maior cinismo.

_Ele não me cantou coisa nenhuma, o senhor está delirando.

_Só um idiota não perceberia. Ou não ouviu que ele disse que você é bonita?

_Foi somente um elogio sem más intenções. Eu não sei porque estou explicando algo para o senhor. Não faz a mínima idéia do que é gentileza.

_Eu apenas trato com gentileza pessoas que me convém ou acrescentam em algo. - Fecha a cara - E o Ricardo usa de sua simpatia, ele faz isso com todas. Acredite, você não é tão especial assim como pensou.

_Eu não pensei nada, somos somente amigos. E se eu me interessar por ele, eu ficarei. Somos livres e adultos.

A sua expressão era neutra, exceto seus olhos que estavam mais pretos.

_Está demorando muito para ceder. E cá entre nós, não precisa dificultar as coisas, porque difícil você com certeza não é.

_O senhor não se cansa? - Pergunto cansada - Esse seu estresse e mau humor só pode ser falta de sexo. Não é possível alguém tão ranzinza como o senhor.

_O seu palavreado é deplorável. - Cruza os braços - E a minha vida íntima não é de seu interesse.

Coloco a mão na testa e sinto o suor escorrer ao me dar conta das minhas palavras. Começo a trabalhar e evito falar qualquer coisa mais impertinente.
Na volta do meu almoço, noto que os meus pertences estão em uma caixa, e quando ia questionar o motivo, o senhor Magalhães surge em minha frente.

_Você voltou... - Ele tinha um sorriso no rosto

_Por que as minhas coisas estão na caixa?

_Você está demitida!

_Por favor, senhor...

_Saia desse escritório imediatamente. - Ordena friamente

_Se for pelo o que eu te disse, eu peço perdão. Mas por favor, eu preciso deste emprego.

_Eu estou te demitindo porquê não suporto sua presença. - Se afasta me dando as costas

_Por favor... - Imploro - Eu prometo ficar quieta, mas não faça isso. Eu preciso muito do emprego.

Toco o seu ombro e ele se vira rapidamente, segurando o meu braço com ódio no olhar.

_Não encoste em mim, sua estúpida.

_Por favor, senhor. Não me demita... - Ele faz uma ligação e em seguida dois seguranças entram

_Pode levar tudo o que contamina o local.

Os seguranças seguraram nos meus braços, pegaram a caixa com os meus pertences e foram me arrastando.

_Me soltem! Eu sei andar sozinha. Por favor, não façam isso...

Eles me empurraram e eu caio na rua. Jogaram a caixa e o porta retrato se quebra.
Eu estava humilhada!
Eles entraram no escritório, e eu começo a recolher as coisas e a minha dignidade.
Por que eu, Deus?
Enquanto seco as lágrimas, caminho lentamente para esperar o ônibus. Eu estava desolada e só queria chegar em casa.

Entro em casa e tomo um longo banho. Me deito e sinto o pudim vir para cima. Os pensamentos começaram a me assombrar e eu não conseguia relaxar. Seguro a foto, que eu usava na mesa do escritório e deixo as lágrimas descerem livremente. Vovô e Anne precisavam de mim, e eu teria que ser forte.
Eu não poderia desistir.
Amanhã eu iria tentar recomeçar novamente, eu tentaria de novo.
E de novo...
E quantas vezes forem necessárias.




Edit 🌼

O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora