Capítulo 3 - Aline

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O café da cafeteria havia se tornado um pouquinho mais amargo ao me lembrar de que outro dia havia iniciado e eu ainda não havia conseguido absolutamente nada. Suspiro profundamente e começo a mexer no açúcar, com uma preocupação evidente na minha face. Um casal passa em minha frente. Eles pareciam apaixonados e instantaneamente me vêm algumas memórias do meu passado.

Eu estava tão feliz, havia completado 17 anos e me sentia pronta para me entregar ao Pedro. Nós namorávamos já faziam 2 anos e ele sempre insistia, mas eu me esquivava pois não me sentia preparada, e com isso vinha uma chuva de reclamações. Ele era muito gentil, sempre respeitoso, conversou pessoalmente com o vovô pedindo a sua permissão. Depois do 3° mês, ele começou a agir estranho, não me deixava pegar em seu celular, sempre dizia que eu deveria confiar nele, mas eu confiava, ele jamais me faria mal, pensava eu. Depois de um tempo começou a dizer que minhas roupas eram de moças vulgares, e para não chateá-lo fiz algumas adaptações. Então ele me proibiu de conversar com algumas colegas que eu tinha no interior e de sair para ficar na rua atoa, ele dizia que eram más companhias e mulher que fica na rua atoa está atrás de homem. E eu acatei, eu gostava dele. Foi então que ele disse que eu não deveria ir para a escola mais e quando tentei retrucar, ele me xingou de vadia e disse que eu gostava de ter outros homens me desejando, e eu me senti culpada. Mais tarde naquele dia, ele me pediu desculpas, chorando, dizendo que havia se excedido, que eu era culpada por tê-lo levado ao extremo. Cheia de remorso, eu o perdoei e para não o irritá-lo mais fazia a tudo o que ele pedia, afinal era para o meu bem porquê ele gostava de mim e só queria me proteger. Ele morava a poucos passos da minha casa, os pais não estavam em casa e ele não trabalhava então sabia que ele deveria estar sozinho, era o momento certo, eu sentia. Eu não tinha experiência nessas coisas mas o pouco que ouvi é que diziam que doía, mas era algo bom. Pedro saberia manusear a situação, ele era 6 anos mais velho, então era hora. Ele não deixava a porta trancada mas também não permitia que entrassem sem sua autorização. Assim que me aproximei do portão, o chamei mas ele não ouviu, então, nervosa eu entrei. Cheguei na porta e bati. Eu conseguia ouvir risadas ao fundo, será que ele estava com algum amigo? era melhor voltar outra hora, ele não gostava de me ver perto de outros homens. Mas assim que ia voltando, eu paralisei, era a voz dele, eu reconhecia, mas também uma voz diferente e era feminina. Fiquei curiosa e fui me aproximando até encostar o ouvido na porta, a moça fazia sons estranhos e ele batia nela, pois dava para ouvir uns tapas sendo desferidos e ambos se xingavam. Não resistindo a curiosidade abri a porta da sala e fui andando até o seu quarto e a cada passo meu coração pulsava acelerado, quando olhei pela fresta da porta uma cena que nunca saíria da minha cabeça...

Pedro estava em cima de uma moça!

Eles estavam transando!

Meu coração se moeu no meu peito, as lágrimas começaram a cair e minhas pernas estavam bambas. Para não cair me recostei na parede e me sentei inconsolável ouvindo ao fundo os gemidos de prazer. Eu pensava que ele gostasse de mim, que nunca teria coragem de me machucar e agora estava se satisfazendo com outra. Talvez fosse culpa minha por não ter cedido, assim pensei, mas não. A minha consciência insistia em dizer que ele era o errado e quando caí em mim logo entendi o porquê de tanto "ciúme", de não me deixar ter redes sociais e sair para lugar algum. Eu era uma idiota! Não vi algo que estava bem debaixo do meu nariz, todos deveriam saber, menos eu. Quantas vezes ele deveria ter rido de mim, das minhas declarações. E eu senti raiva, muita raiva, raiva de mim mas muito mais dele. Me levantei, limpei as lágrimas e me virei para a porta. A abri com força fazendo um barulho que os fizeram se assustar. Assim que viu que era eu, Pedro se levantou mostrando sua intimidade e em seguida vestiu sua cueca, a moça ficou enrolada no lençol, sequer se preocupou em se vestir. Eu olhava para o Pedro com decepção, e ao mesmo tempo ódio. Ele veio para perto de mim e começou a tentar se explicar.

_Amor, não é nada disso que você está pensando... - Começa a tentar se justificar com essa desculpa absurdamente esfarrapada

Não o esperei falar mais nenhuma mentira, tomada pelo ódio eu lhe dei um tapa, o barulho foi audível, a moça na cama se assustou e o Pedro me olhou com raiva assim que virou o rosto, mas eu não me importava, eu não tinha mais medo dele. Ele me segurou forte no braço, me causando ainda mais dor.

_Como você ousa me bater, sua vagabunda? - Seu olhar era sombrio

_Me solta! - Gritei histérica - Nunca mais ouse encostar em mim. Você não tem vergonha? Enquanto eu fazia de tudo para e por você, você estava me traindo, transando com outras pelas minhas costas.

_E qual é o problema disso? Eu insisti tanto para você transar comigo, mas você sempre com essa castidade, se negando. Você esperava o quê? O que não tem em casa o homem busca na rua, se eu transo com outras a culpa é sua, porquê você me negou o que me era de direito. - Me soltei de seu aperto

_Eu não tinha obrigação nenhuma de transar com você, e agradeço a Deus por nunca ter me entregado a você, um homem tão asqueroso e medíocre, nunca será digno da minha entrega.

_Você é mesmo uma idiota! - Ele sorri sarcástico - Você não é nada, não passa de uma negra ridícula, não sabe como eu ria de você, da sua ingenuidade, de como você é estúpida. Eu nunca gostei de você, sentia asco de tocar sua pele, beijar essa sua boca e ter que fingir que gostava de você, tudo isso por um cabaço, que não veio. Não sabe como eu me sinto liberto por não precisar mais ter que suportar essa sua melancolia.

Depois de alguns segundos em silêncio, eu não me preocupei em discutir, ele não valia a pena.

_Eu tenho nojo de você! - Começo a caminhar

Cheguei em casa e contei ao vovô sobre o ocorrido. Anne não entendia nada, era pequena demais para compreender. Foram dias sombrios, eu chorava quase todos os dias e não sentia vontade de fazer nada. Após meses consegui me recuperar do trauma, mas ainda sofro ao recordar.

Saio de meus pensamentos com o toque do celular e era o meu vô.

_Irmãzinha!

_Oi minha princesinha!

Eu amava minha irmã. Ela era o meu coração fora do peito. Apesar das condições precárias, nós sempre fomos muito unidas.

_Calma Anne. Deixa o vô falar aqui...

_Oi vovô. Como o senhor está?

_Eu estou bem. Estou ligando para saber como você está, minha filha.

_Eu estou bem. E ainda bem que ligou, preciso contar algumas novidades.

Passamos alguns minutos conversando, e faço a promessa de trazê-los para conhecer a cidade. A nossa despedida era sempre a parte mais difícil, mas infelizmente necessário.
Volto a mexer no café e o meu celular toca novamente. Atendo sem olhar o visor e desato a falar.

_Aconteceu alguma coisa, vovô?

_Aline Dias? - Era uma voz masculina

_Sim. Sou eu.

_Você enviou um currículo para a vaga de secretária e seu perfil foi aprovado. Você tem uma entrevista amanhã às 7:30, no escritório B&M.

_Está falando sério?!

_Boa sorte e não se atrase. O chefe odeia atrasos.

_Está bem. Obrigada!

Eu tinha uma entrevista!

Me recordo de enviar o currículo na lan-house, mas nunca imaginei que seria selecionado.
Eu abro um sorriso enorme e dou uma breve olhada para os céus. Eu precisava e conseguiria essa vaga, mesmo sem experiência.
Eu daria o meu melhor e eu iria conseguir.




O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora