Capítulo 38

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Eu saio do quarto de hóspedes e caminho até o meu. Sento-me na cama desnorteado, sem entender as minhas próprias atitudes.
Eu deveria ter falado para ela.
E não fugido como um covarde. Mas do quê adiantaria se ela me vê de uma forma monstruosa?
E com razão.
Depois de tê-la tirado daquele lugar, eu comecei a dirigir e pensei em levá-la para a casa de Ricardo, mas preferi trazê-la para a minha. Eu sabia que ela não iria gostar assim que acordasse, mas era o mínimo que eu poderia fazer. Subi os degraus e a depositei na cama no quarto de hóspedes que nunca recebeu ou recebia hóspedes. Ela tinha adormecido e o efeito da droga ainda estava forte, então só a deixei dormindo e fiquei velando o seu sono a noite inteira. Em um momento da noite, eu acariciei sua face de uma forma carinhosa mas me afastei rapidamente. Eu esperava que ela ficasse com raiva ao me ver, mas não que pensasse determinadas coisas a meu respeito.

Principalmente que eu me aproveitaria da situação. Tudo bem que ela não se lembrava de nada, mas me acusar de ser um abusador era o ápice. E o pior é que por mais esclarecido que tenha sido o assunto, suas palavras não saíam da minha cabeça. Foi nítido o ódio que ainda nutria e mais nítido ainda o quanto eu não tenho nenhuma chance com ela.
Ela sentia desprezo e eu me senti mal com suas palavras. Pois me recordei das inumeras vezes em que ela deve ter se sentido assim. Eu fiz muito mal à ela, e lhe falei muitas coisas horríveis. Com certeza ela se lembra de tudo e sempre se lembrará. Não importa o que eu faça, ou o tanto que eu tente, ela nunca verá mudança em mim. 

_Eu não vou desistir tão fácil.

Levanto-me da cama e pego o meu celular para fazer uma ligação. O telefone toca até cair na caixa postal, então eu tento novamente e reviro os olhos pela demora.

_O que você quer, Cristopher? - Atende de mau humor

_Bom dia, senhor Alencar. O atrapalho em algo? - Uso o seu tom sarcástico

_Não é hora para o seu sarcasmo.

_Eu estou te ligando para informar que a sua protegida está aqui em casa.

_Daqui a pouco estou aí...

Ele desliga rapidamente e eu fui vê-la em seu quarto. Ela estava dormindo, então a deixo descansar.
Desço e ouço a campanhia tocar.
Realmente ele foi rápido mesmo.
Abro a porta e ele entra, revistando a casa e me ameaçando.

_Onde ela está? O que você fez com ela? - Se aproxima tentando me intimidar - Fale!

_Ela está no quarto de hóspedes. - Ele faz menção de subir - Você precisa saber de algumas coisas antes.

_Se você teve a coragem de... - Reviro os olhos

_A situação é muito pior, Ricardo.

Conto da noite anterior à ele e o seu semblante muda radicalmente. Ele estava mais decepcionado e culpado do que enfurecido. Ele manuseava a cabeça diversas vezes e eu sabia o que ele estava sentindo.
Ele se culpava por não tê-la protegido e se o pior acontecesse, ele jamais se perdoaria.

_Você não teve culpa e está tudo bem agora.

_Eu deveria protegê-la.

_O pior foi evitado.

_Eu nunca terei palavras suficientes para te agradecer por isso.

_Eu fui recompensado.

_Espero que algum dia ela te perdoe. É nítido o quanto você está tentando.

_Espero que algum dia eu também consiga me perdoar.

_Posso vê-la? - Assinto brevemente

Olho pela fresta da porta e eles conversavam.
Ricardo estava sentado na cama e segurava as suas mãos. E ela sorria, aparentemente feliz, com a sua visita. Sorriso que nunca foi direcionado à mim. Me entristeço e saio, não quero se intrometido ouvindo a conversa deles.

A imagem deles juntos me veio a mente, e eu começo a me questionar.
Será que ela gosta dele?
Isso é algo provável, ele sempre foi bom para ela. E talvez ele merecesse ficar com ela, merecesse todo o amor que ela transparece sentir e para mim sobraria apenas sua indiferença. Sinto meu peito doer ao pensar nisso. Como é ruim ser rejeitado.
Eu não pensei que essa dor fosse real, pensava que era só invenção das pessoas, mas me enganei. Esse desprezo incomoda, dói de uma forma que eu me sentia sufocado. E eu só soube agora o quanto era nocivo. O quanto as minhas palavras machucaram, as minhas atitudes feriram e a minha estupidez a afastou de mim. Mas eu merecia. Mereço seu ódio, e também nunca merecerei tê-la.

Talvez fosse melhor deixá-la em paz e parar de insistir. Ela encontraria alguém melhor, alguém digno dela. Talvez fosse Ricardo ou até outro, mas eu, com toda certeza, não sou esse homem. Fecho os olhos em uma tentativa de ser levado pelo sono e desacelerar os pensamentos. Mas rapidamente desperto ao ouvir gritos. Desesperado, eu corro até o seu quarto. Quando entro me deparo com uma cena impactante. Só consigo ficar paralisado, sem saber o que fazer. O meu corpo e cérebro não me obedeciam e eu fiz uma tremenda força para abrir a boca e me pronunciar.

_O que está acontecendo? - E paraliso





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O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora