Capítulo 72

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Quando a vi entrar no quarto cirúrgico deitada naquela maca, sem consciência, o meu coração ficou ainda mais apertado. Eu confiava nos médicos, mas ainda sim eu estava extremamente nervoso com aquela cirurgia. Mesmo que não demonstrasse, eu tinha medo de dar errado e eu a perder, mas tentava afastar esse pensamento para não acabar ficando louco.

_Vai dar tudo certo, Cristopher. - Ricardo tenta me acalmar pela milésima vez

_Eu sei que vai. - Tento soar confiante - Porque eu não saberia o que fazer se não der.

_Ela vai sair sã e salva.

Volto a me sentar, para não ficar andando em círculos. Abaixo a cabeça e agradeço aos céus por esse doador ter aparecido. Nem eu nem Ricardo fomos compatíveis, mas com certeza alguém da família dela era, mas como convencê-la a falar com eles?!
Essa menina era um poço de teimosia.
Mas é a minha teimosa!
Sorrio instantaneamente com esse pensamento.
Então por alguns breves minutos, eu começo a pensar nos nossos momentos juntos. Claro que em conjunto eu me recordei das vezes que fui hostil. E como eu me arrependo amargamente disso. Eu passei tantos anos sendo um babaca, perdendo a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas simplesmente por pura intolerância. O meu pai por muito tempo conseguiu criar um monstro, mas ainda bem que eu deixei de ser domado por tanto ódio.

_Eu soube que o seu pai esteve na sua casa.

_Sim. - Respondo com pesar - E você já imagina o que aconteceu quando ele a viu na minha casa.

_Eu posso imaginar. Você sabe que ele não vai deixar as coisas assim como estão.

_Ele gritou aos quatro ventos todo tipo de injúria. Disse que não vai aceitar, que eu sou um fraco e uma vergonha para ele. - Abaixo a cabeça

_O Jorge é extremamente duro nas palavras. Eu sinto muito por isso tudo.

_Não será ele quem irá nos separar. E você e sua família?

_Nada mudou. Agora são vinte anos sem nos falarmos.

_Nas vezes que estive com a sua família foi perceptível que não havia chances de vocês conviverem.

_Eles e o seu pai devem estar se juntando para dizer o quanto nós somos péssimos filhos.

_O meu pai disse uma vez que odiaria ter um filho como você.

_Eu também odiaria ter um pai como ele. - Diz pensativo - Se bem que nossos pais são semelhantes, então...

_Não faz muita diferença. - Esboçamos um sorriso - Eu realmente não sei como consegui viver por tanto tempo daquela forma.

_O seu pai foi o seu maior influenciador, era quase improvável você ser diferente dele.

_Mas você também. Os seus pais são horríveis.

_Os meus pais tentavam enfiar na minha cabeça esses tipos de coisas, mas de alguma forma eu sabia que era errado.

_E como você poderia saber? Nunca teve ninguém em seu meio que dissesse.

_A consciência é para isso. - Diz como se fosse óbvio - Veja como exemplo, a própria Aline.

_Seja mais explícito, por favor. 

_Ela é uma moça tão adorável. Você acha certo tratá-la mal pela sua cor de pele?

_Agora não mais.

_Se tivesse focado mais na pessoa que ela é ao invés de sua cor, perceberia o quão nojento era a sua postura. - Começo a refletir sobre suas palavras - Eu tentei ser o que os meus pais queriam, mas é horrível a sensação de saber que fez alguém sofrer ou chorar.

O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora