Capítulo 96

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Eu nunca havia presenciado o Cristopher tão devastado e triste como agora. É certo que, quando ele foi enganado, ele ficou péssimo também mas depois de ouvir toda a verdade sobre sua vida, ele estava em um estado irreconhecível. Eu sabia que ele queria chegar em casa para assim poder despejar sua tristeza. Ele é um homem que não se permite chorar na frente de outras pessoas, e estar segurando este choro sofrido deve estar sendo horrível para ele.

_Desculpe-me, senhor. Mas não poderia passar mais tempo sem saber de tudo. - Diz Inácio enquanto caminhávamos para a saída - Ele não está em boas condições, por isso insisti para que contasse.

_Eu agradeço a sua preocupação, Inácio. Cuide dele, por favor.

Nós caminhamos para fora, sentindo o ar ficar mais leve do jardim. O clima estava pesado naquela casa, o ar parecia estar nos sufocando. Cristopher estava com a mão em minha cintura, olhava sem desviar para frente e seu rosto estava vermelho. Ele não pronuncia uma palavra desde o trajeto até sua casa. Seus olhos estavam vidrados na estrada e eu respeito o seu silêncio. Talvez ele estivesse buscando a sua própria paz interior. Quando chegamos em casa, ele apenas tira a sua gravata e os sapatos. Senta-se no sofá e encosta a cabeça, sem me olhar. O observo pegar o celular e avisar que não voltaria para o escritório. Eu realmente sinto muita pena da mãe dele, foi a maior vítima de toda essa história. O preconceito dos pais a impediram de ser feliz e o Jorge queria também acabar com a vida do filho. Eu sabia que ele era um péssimo pai, mas sentir inveja do próprio filho, é o cúmulo do absurdo.

Me sento ao seu lado e começo a acariciar sua perna. Ele mantém a cabeça recostada no sofá, o que me impossibilitava de ver seu rosto. Somente quando ouço a sua fungada que pude perceber que ele chorava. O meu coração dá uma apertada e eu não hesito em puxá-lo para um abraço. O seu corpo estava duro, inerte e quando ele retribui o abraço, eu pude sentir o seu peso recair sobre mim e a tensão em seu corpo se aliviar um pouco. O rosto dele estava encharcado, seus olhos brilhavam devido as lágrimas e sua respiração falhava diversas vezes. A cena era de partir o coração, eu só queria remover aquela dor que ele sentia e tomá-la para mim.
Ele deita-se em minhas pernas e abraça a minha cintura, me apertando sem muita força. As suas lágrimas molhavam a minha calça, mas eu pouco me importo. Eu queria consolá-lo, queria que ele se sentisse seguro comigo e dar o apoio que ele precisava neste momento, como ele fez tantas vezes comigo.

Eu nunca pensei que a história de sua mãe fosse tão triste assim. Mas analisando cada detalhe, eu começava a pensar em minha mãe. O vovô nunca falou realmente tudo sobre ela, apenas que teve eu e Anne com um homem que a abandonou. Mas ele nunca nos disse o nome, como era e onde mora. A única coisa que sabemos é que ela morreu de complicações na gravidez, devido a minha irmã ter nascido antes do tempo. Fora isso, mais nada. Então provavelmente eu nunca saberei quem é o meu pai, se está vivo ou morto. Mas isso não é ruim como parece, eu tenho certeza de que ele é um homem desprezível e eu não gostaria de conhecê-lo também.

Ele fez muito mal à minha mãe, e quanto a nós nunca quis saber. Ele não me faz falta, pelo menos não mais. Mas quanto a minha irmã ainda é preocupante, ela é apenas uma criança, com certeza deve ser difícil para ela, quanto para mim, quando tinha a sua idade.

_Daqui a pouco você precisará trocar de calça. - Diz me tirando dos meus pensamentos

_Não tem problema. - Acaricio suavemente seu rosto

_Obrigado por estar comigo nesse momento.

_É o mínimo que eu poderia fazer. Como se sente?

_Eu me sinto vazio. É como se tudo na minha vida fosse uma mentira.

_Eu nunca imaginei que fosse tão triste a história de sua família.

_Eu sempre soube que o meu pai é uma pessoa desprezível, mas ele conseguiu me surpreender.

O outro lado do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora