Capitulo 1. Caçada

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Uma figura se esgueira pela sombras, entre os troncos largos dos pinheiros que cobriam a descida da montanha, branca pela neve. É noite de lua e por isso as sombras se projetam, escondendo a figura, dos homens agrupados no centro de uma clareira.

São quatro homens troncudos e agasalhados com grossos casacos de pele de urso. Vestem calças grossas e botas próprias para andar na neve. No centro da clareira, em uma fogueira, assam a carne de um animal que caçaram. Uma pilha de peles, se encontra à parte, ainda sujas do sangue dos animais a quem pertenciam.

A figura que os olhava era franzina e se vestia precariamente, suas roupas não eram forradas e nos seus pés usava um par de tênis surrado. Mas não sentia o frio gelado e cortante do Alasca, já se acostumara, mesmo porque não tinha com o que comprar coisas melhores.

É uma fêmea, está só, mas não tem medo. Estava seguindo a trilha daqueles homens a semanas e não seria agora que os encontrou, que se acovardaria. Observa o movimento deles com atenção, vai esperar eles comerem e talvez deitarem, ou algum deles sair para se aliviar. O certo é que pegaria um a um, pois o que estão fazendo não é certo e nem legal.

Esperou com paciência, agachada atrás de um pinheiro de tronco largo, que ficava distante do acampamento, o suficiente para eles não perceberem sua presença, mas que dava para ela ouvi-los com clareza. Seu olfato é bem potente, ela é uma shifter de lobo e além de ouvi-los bem, também os enxerga bem a noite.

Ela também tem a vantagem de ser um animal noturno e por isso, fica bem desperta durante a noite. Passa-se o tempo, eles comem, bebem vodka para esquentar e se preparam para dormir. Armaram pequenas barracas camufladas de neve, com sacos de dormir forrados de pele também, que a fêmea vê pela abertura das barracas.

Um deles se afasta para aliviar-se, como ela imaginou. Depois que se distancia, para próximo a uma árvore e começa a abrir o zíper da calça, mas não termina, uma flecha chega zunindo e atravessa sua cabeça, fazendo-o cair morto no chão. A figura esguia continua se esgueirando entre as árvores e volta ao acampamento.

Dois já entraram em suas barracas e o terceiro cuida de guardar as coisas e apagar o fogo. Mas quando se abaixa, para jogar neve sobre a pequena fogueira, que ainda queima, cai sobre ela, também com uma flecha cruzando sua cabeça. Mas ele solta um gemido e seu corpo pesado faz barulho ao cair e chamava atenção de um dos que estão se arrumando para dormir.

O homem se ergue um pouco para sair da barraca, já perguntando o que aconteceu, mas nem consegue ver de onde veio a flecha, pois nem chegou a erguer a cabeça e já lhe atravessou, entrando pelo topo e saindo pela nuca. Seu corpo também caiu sem vida e agora só resta um.

A fêmea corre até a abertura fa barraca do quarto homem e ele esta saindo com uma espingarda na mão e se assusta:

-Quem é você? - pergunte levantando a espingarda para apontar para a figura a sua frente.

-Não interessa... - apertou o gatilho da besta.

O quarto homem não conseguiu terminar de levantar a espingarda e logo caiu com a flecha atravessada entre os olhos. A caçadora de caçadores olhou à sua volta e vou a sujeira que tornava a aparência daquele lugar tão lindo e singelo, manchada com sangue podre de homens gananciosos e sem honra. Do mesmo jeito que eles caçaram e mataram tantas vidas inocentes, foram caçados e mortos, só que eram culpados de chacina de animais.

Pensou no que fazer com tudo aquilo, não teria condições de aproveitar alguns daqueles materiais, pois seria muito peso para ela carregar até sua cabana, oculta no alto da floresta de pinheiros. Optou por entrar em uma das barracas que estava vazia e pegar o saco de dormir, viu também um casaco de pele de raposa e um par de botas de neve e embrulhou tudo numa trouxa e saiu.

Conforme se deslocou para a outra barraca, para ver se tinha algum mantimento, ouviu um som distante de lobos correndo na neve. Olhou rápido a barraca, encontrando algumas barras de chocolate. Rasgou o fundo da mesma e saindo, correu pela neve dura, deixando o local antes dos lobos chegarem.

Aprendera a correr na neve com os ursos, que mesmo pesadões, correm sem afundar na neve espessa. Assim ela correu subindo pela floresta, se ocultando nas sombras e esfregando as coisas que pegara do caçador, nas árvores, para camuflar seu cheiro. Os lobos que estavam chegando ao acampamento, talvez seguissem o cheiro, mas o identificariam como sendo de um dos caçadores mortos.

Chegou em sua cabana, antes de entrar, tirou toda a roupa e mesmo nua, fez um buraco na neve, atrás da cabana e enterrou a roupa. Entrou correndo, acendeu a lareira e pendurou um caldeirão com água para esquentar. Vestiu um roupão grosso para proteger seu corpo e pegou uma das barras de chocolate e comeu.

Agora podia relaxar. Missão cumprida.

**

Um outro grupo de quatro, estava um pouco distante do acampamento, mas também procuravam os caçadores, que estão matando indiscriminadamente, em suas terras. Se engana quem pensa que aquele lugar longínquo e inóspito, não tem dono. Pelo contrário, ali é uma reserva de animais muito diferentes e exóticos. Shifters.

O grupo segue o cheiro diferente, de quatro humanos fedidos e uma fêmea, que tudo indica, seja da sua própria espécie: uma shifter de lobo. Eles seguem preocupados, pois nevou sobre os rastros das pegadas na neve e só podem se guiar agora pelos cheiros.

Não sabem se a fêmea está com eles ou foi caçada por eles e está aprisionada. Prosseguem seu caminho, pois o Alfa ordenou que não voltassem sem respostas, pois o povo está quase a passar fome. Seguem devagar farejando o ar, até que um cheiro forte inunda suas narinas lupinas.

Em sua forma lupina, eles correm em direção ao cheiro forte de sangue humano e quanto mais se aproximam, mais sentem o odor pútrido do sangue de animais mortos a dias e de humanos, ainda fresco. Chegam a um acampamento e a cena era horrível. Uma pilha de peles de vários tipos de animais, que embora congeladas, exalava o odor pesado que tinham sentido.

Um corpo jazia sobre a fogueira ainda queimando e o cheiro da carne queimada também estava no ar, olharam as barracas e encontraram mais dois corpos, mas pela quantidade de barracas, devia haver mais um corpo pelas redondezas ou conseguiu fugir. Voltaram à forma humana para pegar as roupas quentes dos humanos, apesar de fedidas, serviriam para aquecê-los e um deles saiu a procura do quarto corpo.

Depois de olharem tudo, juntaram os corpos nus em uma pilha e junto com vários materiais encontrados, incluindo gasolina, atearam fogo e queimaram tudo. Juntaram todo o material aproveitável e acondicionaram. Tinham um bom estoque de comida não perecível, como leite em pó e café solúvel. Olharam tudo aquilo pensando em como levariam, sabiam que eles tinham um carro em algum lugar, pois acharam a chave. Mas devia estar longe.

Iniciaram uma busca na área do entorno do acampamento e encontraram dois trenós com cordas para puxar, eles com certeza preferiam fazer forca do que barulho, caso utilizassem um Jet Ski. Puxaram os veículos até o acampamento e distribuíram o despojo sobre eles, verificaram as cordas e tirando as roupas, amarraram sobre as coisas nos trenós.

Transformaram-se em seus grandes lobos e cada par, abocanhou a corda de um dos trenós e puxaram.

Demoraram um pouco a ajustarem os passos com os do parceiro, mas quando conseguiram, deslizaram rápido sobre a neve. Pensavam em quando chegassem na Alcateia com aquela comida, que não era muita, mas alimentaria bem as crianças. Todos ficariam contentes e o Alfa mais ainda, ao saber que os caçadores estavam mortos.

Ao aproximarem-se da Alcateia, o líder do grupo uivou alto, avisando da chegada e logo puderam avistar lobos correndo para ajudá-los. O Alfa aguardava parado, de pé, na entrada da aldeia e sorriu ao ver toda aquela carga. Claro que parte dela era triste de ver, pois eram peles de animais que foram mortos por ganância. Mas era melhor trazer e dar uma utilidade a elas, para que a morte de seus donos não fosse totalmente vã.

O grupo entrou na Alcateia, acompanhado do Alfa e de alguns familiares, antes de falarem com qualquer um, precisavam entrar, tomar um banho e comer algo quente para aquecerem o corpo, depois de tanto tempo na neve. Só então o Alfa poderia satisfazer sua curiosidade sobre tudo o que aconteceu.


Alfa AbandonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora