Capítulo 19. Lição 1.

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Como da primeira vez, o furacão Sophia entrou pela porta, choramingando e reclamando, e com o susto, Ava quase caiu do colo do Alfa, que a segurou e colocou-a no sofá, sem muita gentileza, levantando para atender Sophia.

-O que foi agora, Sophia? Não te avisei para não entrar mais assim pela minha casa. - Mal ele terminou de falar, Sophia se jogou nos braços dele, reclamando.

-Ele foi ver ela e nem voltou para se despedir de mim…- queixou-se.

Ava olhou a cena e percebeu o que estava acontecendo: Sophia fora mimada por ser órfã e o principal a fazê-lo, era o Alfa. Agora, qualquer coisa Sophia corria para ele e ele, habituado a atendê-la, não sabia dizer não. Mas agora ela lhe daria a primeira lição de como respeitar sua companheira.

Levantou-se do sofá e subiu para seu quarto. Eles nem notaram. Quando, finalmente, Zoren conseguiu acalmar Sophia e faze-la sentar-se no sofá, viu Ava descendo as escadas, com uma mochila e algumas bolsas na mão.

-O que é isso Ava, vai devolver as roupas? - Perguntou Zoren, ficando preocupado.

-Não. Estou levando para a casa da minha mãe. Agora que já conversamos e nos entendemos, será melhor eu ficar lá - explicou ela.

-Como melhor? Seu lugar é aqui do meu lado, esta é a sua casa, nossa casa. - Redarguiu ele.

-Esta casa só será minha quando eu for respeitada dentro dela, por todos, incluindo Sophia. Enquanto você proteger a fêmea de outro em deterimento da sua própria, esta não será minha casa. - Respondeu e se dirigiu para a porta.

-Não faz assim Ava, não vá! - Pediu Zoren.

Ava chegou a porta, que ainda estava aberta, do jeito que Sophia deixara e se virou, dirigindo-se a jovem.

-Aprenda uma coisa Sophia, seu companheiro nunca a verá como sua fêmea, se você continua se comportando como uma menininha e correndo para os braços de outro macho. Porque se ele a vice como mulher, se jogando assim em outro homem, já teria arrancado a cabeça do amigo. Zoren tem companheira, a próxima vez que eu vê-la se jogar nos braços dele, lhe darei a surra que seus pais não puderam lhe dar. - Virou-se e saiu.

Os dois ficaram olhando ela sair, parados, sem ação. Zoren sequer lembrou que sua fêmea estava em recuperação. Ficou estático, mas feliz por sua fêmea tomar posse dele. Virou-se para Sophia e disse:

-Você ouviu, agora vê se obedece sua Luna e cresce. Vá para casa Sophia e não volte mais aqui deste jeito. Vá - Mandou o Alfa, tomando uma atitude.

Ava foi sozinha para a casa de seus pais, carregando sua bagagem. Se aproximando do portão da casa, gritou por sua mãe, que logo apareceu na porta e correu para ajudá-la, sem fazer perguntas. Depois Ava explicou tudo e todos ficaram mais tranquilos.

***

Duas semanas se passaram. Ava ficou só dois dias na casa dos pais e foi para a casa de Uchôa. Todos os dias ela se exercitava e Arlon levou combustível para que ela usasse a snowmobile que os caçadores deixaram. A justiça se apossou delas, como pagamento da fiança dos filhos do caçador morto e destinou-as a reserva.

Ava fazia a visita a reserva, dia sim dia não, prestando atenção e anotando o que via de diferente. Alguns animais que vieram por causa do terremoto, ainda estavam por ali, outros já haviam voltado.
A equipe de socorro aos animais, estavam se organizando para pegarem os animais e leva-los de volta à costa.

Enquanto isso, Ava caçava para comer e estava se alimentando bem. Blanca já estava bem e nos dias que não fazia a ronda, visitava eles para acompanhar o crescimento dos filhotes. Um dos lenhadores gostava de Ava. Admirava sua coragem e ousadia e vivia cercando-a e foi em um desses dias, que aconteceu o inevitável.

-Ava, tudo bem? - Cumprimentou Plínio.

-Oi Plínio, tudo bem sim e você? - Ava respondeu.

-Encontrei um filhote de arminho, ele é tão fofo. Vim te chamar para vê-lo. Vamos?

Ava não viu por que não e o seguiu até a cabana em que os ursos cuidavam dos animais que encontravam feridos. Lá dentro, em um caixote grande de ripas de madeira, parecido com um cercadinho de bebê, estava o filhotinho, enrolado em si mesmo e com um cobertor a sua volta.

Ava, com cuidado, pegou o bichinho, tão novinho e saiu com ele para examina-lo a luz do dia. Plinio não perdeu a oportunidade e cercou-a com os braços, a guisa de ajuda e antes que Ava o afastasse, ouviu-se um grito:

-Larga ela! LARGA ela, já falei! - Era o Alfa Zoren.

-Ava paralisou. Eram dois homens grandes e fortes e ficou com medo de brigarem por sua causa.

Zoren continuou se aproximando, mas Plínio não a soltava. Ava mordeu o braço do urso e se abaixando, saiu de entre eles, aproveitando que ele afrouxou o agarre.

Plínio gritou furioso e Ava segurou o Alfa, se jogando em seus braços segurando o animalzinho assustado.

-Olha Zoren, ele está assustado. Vou devolvê-lo a sua caixa, me ajuda? - chamou-o para desviar sua atenção do outro.

Passou por Plínio, que apertava os punhos de raiva. Tudo teria dado certo se aquele intrometido não tivesse chegado. Ele não merecia Ava. Mas ele não deixaria quieto aquela intromissão, ainda daria uma lição naquele Alfa.

Ava e Zoren saíram e foram embora conversando.

-O que veio fazer aqui Zoren? - Perguntou a fêmea.

-Como assim? Vim te ver. Estive na cabana e você não estava, então lembrei que você podia ter vindo ver os filhotes e vim até aqui e parece que cheguei na hora certa. - Falou irritado.

-Eu teria me desvencilhado dele se você não tivesse chegado daquele jeito. - Reclamou Ava.

-Ele nem devia ter feito o que fez, você tem companheiro e ele só se sente no direito, por que ainda não te marquei. - Resmungou o Alfa.

Eles estavam na caminhonete de Zoren e Ava já estava se arrependendo de ter vindo a pé e agora precisar da carona para voltar.

+Afinal, o que você queria, vindo atrás de mim? - Perguntou Ava, aborrecida.

Zoren olhou para sua fêmea, que ainda não conseguira marcar como sua companheira e ficou triste. Não sabia o que fazer para conquistá-la. Toda vez que se viam, brigavam por alguma coisa e nunca terminavam uma conversa de forma civilizada.

-Eu vim te convidar para jantar lá em casa. Tenho trabalhado muito para limpar a neve e restaurar tudo que se estragou com a neve. - Explicou.

-É foi duro este inverno.

-Sim e temos encontrado muitos animais feridos, queria que você nos ajudasse a fazer uma varredura na área ou pelo menos orientasse o pessoal como fazer. Também precisamos mesmo ntar o local para que fiquem até que possam ser soltos novamente. - Informou.

-Já falou com a equipe de proteção? - Perguntou ela.

-Sim, eles enviaram uma apostila com orientações, mas disseram que estão muito ocupados por causa do terremoto e com falta de pessoal. Por isso pensei em você.

-Tá bom então, aceito ir com você, mas preciso pegar umas coisas em casa. - Respondeu Ava.

Seguiram o restante do caminho em silêncio. Ava foi até a cabana e pegou as peles de animal que curtira e colocou na carroceria. Também pegou uma mochila com roupas para uma eventualidade, entrou no veículo e foram em direção a Alcateia.

Alfa AbandonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora