Capítulo 10. Cansaço

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O Alfa e a Cacadora continuaram adentrando a Floresta de Pinheiros, subindo a montanha nevada e abatendo os animais moribundos. Alguns estavam feridos de morte, outros esgotados, os que deram para salvar, mantiveram vivos, hidratados e presos para não se desgastarem mais, o delegado solicitou ao pessoal do resgate de animais, que fossem recolhê-los.

À medida que subiam, mais aves mortas encontravam, mas não podiam parar para recolher todas, a primacia eram os animais que ainda poderiam salvar ou serviriam de alimento. Um urso pardo enorme apareceu à frente deles, mas Ava não se preocupou, pois o reconheceu, era o irmão de Uchôa, que também estava recolhendo alguns animais para levar para sua família e funcionários da madeireira.

Passando meio da floresta, encontraram com a equipe da Alcateia.

-Já fizemos duas viagens Luna Caçadora, mas as mulheres reclamaram, que faltará lugar para armazenar - falou um dos homens.

-Precisamos nos comunicar com Uchôa para ver como está lá e também com o delegado, pois os nativos podem querer alguns animais também, apesar deles viverem da pesca, aliás, com o terremoto, a pesca deverá estar comprometida. - Ava pensou rápido.

Zoren pegou o rádio e imediatamente contactou o delegado que informou a chegada da equipe de resgate e de um caminhão dos nativos, que solicitaram um pouco desta carne. O bom é que a Neve conservava a carne e órgãos dos animais, assim todos se beneficiariam.

Já havia passado em muito, o horário do almoço e Zorem mandou metade dos homens irem comer. Alguns haviam trazido alguns pacotes de carne desidratada e distribuiu para os que ficaram. Ava já dava sinais de cansaço e Zoren se aproximou dela preocupado.

-Toma, beba um pouco d'água - ofereceu-lhe uma garrafa.

-Obrigada - ela bebeu bastante, estava com sede, cansada e com fome. Só havia tomado uma canja pela manhã - Zoren, esqueci que deixei carne lá na cabana, temos que buscar.

-Sim, mas vamos outro dia, por hoje já está de bom tamanho todo este trabalho - falou observando tudo em volta.

Ela assentiu com a cabeça, bebeu mais um pouco d'água e devolveu a garrafa, depois pegou um dos sacos pretos que estavam com os homens e vestindo uma luva, ajudou a recolher os pássaros mortos, isto deixaria os homens livres para recolherem os animais abatidos.

Não demorou muito e as equipes que enviou o delegado, chegaram, incluindo a empresa de recolhimento de lixo e foi um alívio para todos os que trabalharam até aquele momento. O que Ava achou interessante foi alguns shifters de doninhas no meio da equipe de resgate, foi muito legal conhecê-los e saber mais de seu trabalho.

Zoren com certeza não gostou e soltando um rosnado baixo, foi até Ava e a chamou para irem embora, a pegando pelo braço e é claro que ela não gostou.

-Me larga, você não manda em mim! - puxou o braço, mas ao ver o olhar magoado do Alfa, algo se mexeu dentro dela, sua loba é claro. - Foi bom conhece-los, pessoal, mas ele tá certo, estamos exaustos, é hora de ir. Bom trabalho para vocês. Tchau!

-Obrigada, tchau, bom descanso. - Responderam.

Zoren se acalmou com a anuência dela e desceram a montanha em silêncio até a caminhonete. Ele ajudou-a a entrar, pois ela realmente estava exausta. Se pôs ao volante, bateu a porta e foram para casa.

-Comprei o café da manhã e nem comemos, agora já está na hora da janta - ele tentou puxar assunto.

-Estou tão cansada que nem sei se terei ânimo para comer - respondeu Ava.

-Quer apostar que sua mãe estará lá te esperando? - Disse ele.

-Seria bom, senti tanta falta dela…

-Logo vocês vão estar bem e juntas. Não aguento te perder, agora que te encontrei.

-Não apela Zoren, eu tô aqui não tô? Mas ainda lembro da tua voz dizendo para me deixarem lá. Dá um tempo. - Ava debruçou-se na janela e ficou respirando.o vento frio.

Zoren, puxou ela e fechou a janela. Ela rosnou.

-Tá muito frio para isso - explicou ele.

Chegaram a Alcateia e Zoren estacionou em frente a casa, saía fumaça pela chaminé e havia luz dentro de casa. Ele sorriu, mesmo sendo sua sogra que estava lá, ele sentia o doce sabor de ter uma família. Levaria um pouco mais de tempo para conquistar sua fêmea, mas valeria a pena, pois ela possui tudo o que ele precisa e admira e está disposto a lhe dar o céu se for preciso.

Ele desceu, fechou a porta e foi ajudá-la, em vez de desce-la, pegou-a no colo e foi em para a casa. O cansaço dela era tão grande que nem reclamou, mas encostou o rosto em seu ombro, sentindo o aroma de seu pescoço, sua loba se agitou dentro dela mais uma vez, ela reconheceu ele como companheiro e queria reivindicá-lo.

A porta da casa se abriu e uma Sheila preocupada apareceu.

-Está tudo bem Sheila, é só cansaço - explicou o Alfa.

-Então vá direto para a cozinha, que é melhor ela comer primeiro. - sugeriu a mãe dela.

Ava sorriu para a mãe em agradecimento e foi levada para a cozinha, onde o macho sentou com ela no colo. Sua mãe tratou de colocar um prato de ensopado de carne com baratas em sua frente e antes que ela pegasse o talher, ele já estava lhe dando a comida na boca. Ela abriu a boca com a cara fechada, mas com muita fome para reclamar.

-Não está tão quente, não vai te queimar a boca, coma tranquila - avisou sua mãe.

-Está muito bom, obrigada mãe.

Ava se deu conta de como era bom estar ali sendo cuidada, olhou para sua mãe e para Zoren e ao ver o carinho em seus olhos, uma lágrima após outra rolaram silenciosas. Ninguém falou mais nada, só desfrutaram do momento. Quando a comida no prato havia acabado, Ava já havia parado de chorar e perguntou a Zoren:

-Você não vai comer?

-Depois, primeiro vou terminar de cuidar de você.

Levantou-se com ela no colo e sua mãe que havia saído um instante da cozinha, voltou e anunciou:

-A banheira está pronta, podem subir.

Zorem subiu e entrou em seu quarto, só havia banheira, ali. Foi com ela até o banheiro e colocou-a de pé.

-Precisa de ajuda? - Zoren perguntou, pois queria lhe dar privacidade.

-Eu me viro daqui, a comida já fez efeito, obrigada - respondeu ela, mais suave.

Ele mostrou-lhe as toalhas e um roupão, fechou a porta e saiu do quarto, indo até a cozinha para enfim, comer. Assim que chegou a cozinha Sheila chorava, ele a abraçou, sentindo o mesmo que ela.

-É tão bom tê-la aqui conosco novamente, minha menininha. - Falou emocionada.

-"Nossa" menininha - respondeu o Alfa, sorrindo e se afastando - agora me dê de comer, minha sogra, pois estou faminto.

Ela sorriu, agradecida e achando maravilhoso o Alfa chamando ela de sogra. Colocou um prato bem servido e pôs em sua frente, logo alguém bateu a porta e saiu entrando.

-Não vai voltar para casa não Minha fêmea? - Perguntou Begay.

-Sente aqui homem e coma, me faça companhia sogrão - convidou Zoren.

-Boas falas essa, obrigada, genrão. - deu um tapinha nas costas do Alfa e sentou já recebendo um prato de ensopado das mãos de sua companheira e mãe de seus filhos.

Sheila também se serviu e comeu feliz, todos comeram satisfeitos, não havia mais o pesar de não saberem onde estava sua menina e o que estava comendo ou vestindo ou onde estaria dormindo ou sequer se estaria viva.

Só quem viveu sabe










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