Capítulo 15. Blanca e Uchôa

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Zoren ficou indignado com o amigo.

-Ele que deixou minha fêmea sair pra pegar bandido e eu que sou o idiota? - Falou olhando para a porta que Uchôa acabara de fechar atrás de si.

-ZOREN!

Ele olhou para Blanca, assustado com o grito da ursa.

-Aquela menina é como uma filha para mim e a cada vez que ela sai para uma caçada, eu fico com o coração na mão de preocupação. Mas nunca a impedi de fazer o que gosta e faz muito bem e ela sempre voltou.

-Você não compreende que agora ela é Minha companheira, a única que poderá gerar meus filhotes, não pode ficar correndo risco caçando bandido - retrucou o Alfa.

-Muito boa fala machista, essa sua. Então me responde: se você está tão preocupado com sua ninhada, porque não voltou para socorrer ela, que certamente está ferida e indefesa? - grunhiu Blanca.

-Ela estava bem quando saí de lá.

-Se ela estava sentada, ela não estava bem. A caçadora nunca se distrai do seu posto e por isso, nunca senta, seu Alfa idiota! Se acontecer algo com a minha menina, eu acabo com sua chance de ninhadas. Ouviu bem? Seu idiota, idiota e idiota - ameaçou Blanca, furiosa e se virou na cama, dando as costas para o Alfa, sem mexer a perna operada.

Zorem de moreno, ficou quase branco, se virou e saiu rápido, indo até o pronto socorro para falar com Arlon, mas encontrou-o no corredor.

-Estava indo te encontrar Alfa. Que história é essa de ter abandonado a caçadora ferida no acampamento do inimigo? Tu é maluco ou não tá ligando para a futura ninhada que aquela fêmea pode te dar? - Destrinchou logo o delegado.

-Até você, Arlon? Pensei que era meu amigo! - Reclamou o Alfa - quando saí de lá, ela estava bem.

-Igual quando os lobos selvagens estavam querendo devorá-la e você a desprezou, pensando que já estava morta e não era sua responsabilidade. Desculpe Zoren, mas aquela menina merece alguém que realmente a ame e cuide dela, com licença, tenho muita coisa pra fazer - se virou e saiu, deixando o Alfa com cara de taxo.

***

Uchôa pegou o carro do delegado, emprestado e foi em direção a cabana de Ava. Pelo tempo que tinha passado desde que o Alfa a deixara no acampamento, mesmo ferida, ela já teria dado um jeito de chegar à cabana. Estava nevando e a pista estava difícil, precisou ir mais devagar, também pela visibilidade.

Demorou mais de uma hora para chegar a beira da floresta, achou melhor se transformar e tirou a roupa, amarrando-a embolada e depois de liberar seu urso, pegou-a com a boca e iniciou a subida, dando grandes saltos. Logo alcançou a cabana de Ava. Voltou à forma humana, vestiu sua roupa e entrou.

Viu Ava enrolada na manta, tremendo de frio e pousou as costas da mão em sua testa, confirmando a febre. Alimentou o fogo da lareira, antes de tirar a manta e verificar seu corpo. Achou o ferimento em sua coxa, costurado e limpo, mas não estava fechando. Foi até os armários de cozinha e encontrou um facão, que colocou nas brasas da lareira.

Catou algo que ela pudesse morder e colocou em sua boca. Pegou o facão incandescente e encostou a ponta, nas feridas da perna dela. Ela trincou os dentes da objeto, gemendo de dor. O cheiro forte de carne queimada, encheu o lugar, ficou feio, mas era o que podia fazer naquelas circunstâncias. Depois, pegou uma pomada anti inflamatória na caixa de pronto socorro e passou na ferida, cobrindo com gaze. Enrolou-a novamente na manta e saiu com ela nos braços.

Ava abriu os olhos, viu que era Uchôa ali com ela, apontou para o jet ski e falo:

-Ele me abandonou de novo.

Essas palavras doeram no coração do urso, duvidava que o Alfa conseguisse conquistá-la desta vez.

Sentou no jet ski, depois de afastar a neve com a botina e disse a Ava para tentar agarrá-lo o máximo que pudesse e escondesse a cara do frio. Teve um pouco de dificuldade para ligar o veículo, mas aproveitou que seria uma descida e foi empurrando com os pés até pegar impulso, depois de um tempo ele ligou e conseguiram chegar ao carro, onde Uchôa colocou Ava deitada no banco de trás.

Havia muita neve e ele sabia que havia um médico na Alcateia, preferiu então ir para lá, que era mais próximo.

Ao chegar à vila, parou em frente a casa de Sheila e buzinou, logo vindo Begai para ver o que era. Quando viu sua filha naquele estado, abriu a porta do carro e a levou para dentro de casa. Sheila veio logo atrás dele e ficou assustada em ver sua filha daquele jeito. Entrou logo atrás deles e indicou que pusesse ela em seu quarto antigo.

Demétrio ligou para o doutor, que logo atendeu e disse que já estava indo. Chegou em poucos minutos, pois era vizinho. Subiu as escadas, entrou no quarto e pediu que todos saíssem e só ficasse a mãe. Depois de examiná-la, deu-lhe uma injeção e deixou alguns comprimidos para que a jovem tomasse de tempo em tempo, após a refeição.

Um tempo depois de ter tomado a injeção, a febre havia baixado e Ava acordou. A primeira coisa que viu ao abrir os olhos, foi sua mãe sentada na cadeira ao lado da cama sorrindo, ao ver que ela acordou. Sheila levantou-se e sentou ao lado dela na cama.

-Como está se sentindo, querida? - Perguntou Sheila.

-Ele me abandonou de novo, mãe. Ele nem se preocupou em voltar pra me buscar...- as lágrimas começaram a rolar, abundantes.

-Não fique assim, filha. Deve haver uma explicação para ele ter agido assim. O Alfa Zoren, é um homem muito bom e foi um dos que mais se preocupou com você e se esforçou para achá-la. - Tentou amenizar, sua mãe.

Ava olhou para sua mãe e não disse mais nada, só quis ficar ali juntinho dela e se recuperar para voltar a sua vida normal.

Na sala de visita, no andar de baixo, os homens se inteiravam dos novos acontecimentos e ficaram surpresos com a atitude do Alfa.

-Ele deve ter achado que ela estava bem e iria segui-lo, não consigo pensar em outra alternativa - disse Begai.

-O Alfa é um homem bom, pensa em todos antes de si mesmo, não abandonaria um dos seus, que dirá sua companheira! - Completou Demétrio.

-Vamos ver se Ava vai entender desse jeito, quando melhorar... - falou Uchôa.

Todos ficaram quietos, de cabeça baixa, até que ouviram o choro sentido da Alfa. Uchôa não precisava mais estar ali e levantou-se para ir embora. Os dois homens o acompanharam e quando saíram pela porta, verificaram que a neve havia parado, mas o carro e tudo o mais estava branco. Demétrio voltou para dentro de casa, vestiu seu casacão de frio e pegou a chave do caminhão limpa neve.

Begai ajudou a tirar a neve do varro do delegado, que precisava voltar para a cidade. Demeter parou o caminhão de ré, a frente do carro e prendeu o cabo. Uchôa se despediu, entrou no caminhão e foram em direção a cidade, tirando a neve do caminho.

Alfa AbandonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora