Capítulo 17. Reflexões

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Com todas aquelas palavras de seu sogro, em sua cabeça, Zoren entrou em casa e foi direto para o banheiro, tomar um banho. Esperava que os geradores não tivessem dado pane e a água não tenha congelado.
Abriu o chuveiro antes de tirar a roupa e estava tudo funcionando. Tirou a roupa enquanto a água esquentava e enfim enfiou a cabeça debaixo d'água.

Refletindo em tudo que lhe disseram, iniciou ali debaixo do chuveiro, uma análise sobre tudo. Primeiro sobre o que seu sogro falou sobre o tempo que os lobos ficavam esperando por suas companheiras. Para eles não havia dúvida, sentiam o cheiro e assumiam ela, fosse quem fosse, mas para o homem, era diferente. Eles idealizavam suas companheiras.

No caso dele, idealizava uma mulher simples, delicada, caseira, que o esperasse em casa com a comida pronta e cheia de amor para dar. Gostava da forma como Sophia se comportava e recebia Arlon, quando ele chegava. Seu ciúmes, que a faziam cometer tolices, mas que com o tempo passaria, talvez por isso e por tê-la praticamente criado, que ele salvou-a primeiro.

Mas não era só por isso. Quando conheceu sua companheira, ela tinha aparência simples e frágil, como ele queria, mas era uma assassina. Não cabia em sua mente que aquela jovem mulher era capaz de se aventurar pela floresta, caçando caçadores perigosos, colocando a sua vida e a de seus futuros filhotes em risco. Afinal, foi para isso que as fêmeas foram criadas. Ou não?

Dentro dele se formou uma batalha, o lobo a queria e ele estava irritado com a situação. Quando ficou sabendo que ela, em tão tenra idade, já era guarda florestal e cuidava de uma área tão extensa, de proteção aos shifters, não ficou orgulhoso dela, impressionado sim, mas temeroso pela sua segurança. Não admitia que ela pensasse em continuar nesse trabalho.

Mas aí veio o terremoto e era o trabalho dela, cuidar daquela área e dos animais. De repente ele se viu deixando de ser o líder alfa de sua Alcateia, para ser o guarda-costas de sua Luna. Mas teve paciência, afinal, estavam se conhecendo e ele entendia que, com o tempo, ela iria ficar mais tranquila e ficaria mais ao seu lado, em casa.

Foi então que houve o ataque aos ursos e quando pensei que ela estaria segura no hospital, ela saiu e foi caçar os caçadores mais uma vez. Relembrando toda aquela situação, percebeu que chegara naquele acampamento irritado com sigo mesmo, que num descuido, deixara Sophia desprotegida. Daí viu Ava em meio aquele acampamento, cheio de corpos estirados e ouviu Sophia gemer e se debater.

Claro que correu para socorrer Sophia que era sua responsabilidade. Aí entra o segundo ponto que falara seu sogro: acaso um companheiro de verdade, deixa sua companheira em segundo plano? Não era Ava, também, sua responsabilidade? A emergência primária foi Sophia, que estava quase sendo estuprada. Mas, depois que ele acabou com o perigo, não deveria ter corrido para ver sua companheira?

Aí é que foi o ponto do suposto abandono. Ele olhou para Ava e realmente achou estranho ela não se mexer do lugar, mas logo em seguida, sua raiva e magoa foi maior. Raiva por ela não respeitar sua autoridade e sair sem lhe avisar e mágoa por ela sequer ter considerado que ele poderia estar ao seu lado naquela ação.

Então ele olhou para ela sentada no chão, mais preocupada com seu equipamento, do que em socorrer Sophia. Despeitado, largou ela lá. Ela que se virasse sozinha, já que era tao valente, independente, que não precisava dele para nada, que se virasse sozinha.

Com esta reflexão, ele descobriu que estava rejeitando sua companheira, só porque ela não era como ele sonhava que fosse. Só porque ela era valente e corajosa e não precisava dele para protegê-lo. Ela tinha a força que uma Luna precisava para ajudar o Alfa a administrar a Alcateia.

Seu lobo estava triste, amuado num canto dentro dele, apático por sentir toda a rejeição que ele estava praticando contra a companheira deles.

Precisava de mais tempo para decidir o que faria em relação a toda essa questão. Terminou seu banho, vestiu-se, acendeu a lareira, deitou e dormiu, não tinha energia para mais nada.

***

A noite passou e outro dia raiou, mas todos estavam cansados e dormiram até mais tarde. A neve cessou e parecia que daria uma trégua. O inverno estava terminando e em breve viria o degelo. Novos cuidados com as casas, alimentos, vestes, trabalho, um período para se preparar para o próximo inverno.

O delegado chegou na casa de Begai e Sheila, no meio da manhã. Deixara Sophia em casa e foi visitar Ava.

-Bom dia, delegado! Entre e sente-se. Nós acordamos mais tarde hoje e agora que estou fazendo o café da manhã - cumprimentou Sheila, sorridente.

-Bom dia, Sheila. Vim ver como Ava está - falou o delegado, retribuindo o sorriso.

-Begai já vai descer com ela, graças a Deus, os remédios fizeram efeito e as feridas já fecharam, mas sabe como são os pais, né? Sempre precavidos - disse Sheila.

Begai já estava descendo com Ava no colo, que parecia não estar gostando muito.

-Bom dia caçadora e Begai! É isso aí, aproveita a carona, que a mordomia sempre dura pouco - brincou o delegado.

-Engraçadinho - diz ela, quando é colocada no sofá.

-Porque não trouxe ela direto para a mesa do café? - Reclamou Sheila, acenando para todos irem para a sala de jantar.

-Porque eu posso ir a pé - fala Ava, se pondo de pé e andando com cuidado para a mesa.

Depois que todos sentaram, Ava contou tudo que aconteceu e ficou claro o abandono do Alva e isso fez Arlon participar a todos, as decisões que tomara.

-O inverno está findando e mais do que nunca precisaremos de nossos guardas em seus postos. Então Ava, pedi uma verba extra ao prefeito e iremos reformar a cabana que você usa. Ela ficará mais confortável e protegida. E também ajudaremos a família do Uchôa a construir um quarto para os bebês. Assim, vocês poderão patrulhar a área com menos preocupação e mais conforto. O que acha, caçadora? - Falou o delegado, sorrindo, feliz com seu projeto.

-Mas Ava vai continuar trabalhando depois de ter encontrado o companheiro? - Perguntou a mãe de Ava.

-Qual a parte de "ele me abandonou de novo", a senhora não entendeu, mãe? Aliás, falando nisso, cadê Demétrio? - Perguntou Ava.

-Demétrio ficou na cidade, fazendo um serviço para a prefeitura. Ainda tem muita neve por lá. - Respondeu o delegado.

-Filha, vocês precisam conversar. Acabaram de se conhecer, pois passaram muitos anos afastados. Nenhum dos dois sabe como pensa ou age o outro. Dê uma chance a ele. - Pediu Sheila.

-Chance? O delegado está aqui e cadê ele? Não, mãe. Vou voltar para minha casa, aí ele pode me visitar para tentarmos nos conhecer, se ele quiser, o que acho difícil. - Falou e começou a comer.

Todos ficaram calados, até o Arlon quebrar o silêncio.

-Bem, a reforma levará um tempinho, você se incomoda de ficar por aqui enquanto isso? - Perguntou.

-Tenho outra escolha? - Perguntou Ava.

-Tem a cabana do Uchôa. Ele vai ficar com a família até tudo ficar pronto. Você fica na cabana deles enquanto reforma a sua e depois trocam. - Explicou ele.

Bateram na porta e Begai foi atender e voltou com Zoren.

-Bom dia, desculpem interromper o café da manhã de vocês. Vim buscar Ava.







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