<Cap 07 - Our Fight >

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- Não. Quero dizer se houvesse outras pessoas por aí, mas você fosse o único que conseguisse enxergar alguma coisa. Como se fossem invisíveis a todos, menos a você...

Luke hesitou ainda ajoelhado, a pistola dentada firme em punho.

-Sei que parece loucura disse Gulf de forma nervosa, mas...

Ele virou-se para Gulf. Os olhos extremamente azuis atrás dos óculos encaravam-no com um olhar de profunda afeição.

- Gulf, você é um artista, assim como a sua mãe. Isso significa que vê o mundo de um jeito que as outras pessoas não veem. É seu dom ver a beleza e o horror em coisas ordinárias. Isso não faz de você uma pessoa louca, apenas diferente. Não há nada de errado em ser diferente.

Gulf abraçou as pernas e apoiou o queixo nos joelhos. Em sua mente, ele viu o armazém, o chicote prata de Mild, o menino de cabelo verde sofrendo convulsões e espasmos enquanto morria e os olhos amarelados de Mew. Beleza e horror. Ele disse:

-Se meu pai tivesse sobrevivido você acha que ele também teria sido um artista?-Luke parecia completamente abalado. Antes que pudesse responder, a porta se abriu e a mãe de Gulf entrou na sala, os saltos das botas ecoando barulhento som tocarem o chão de madeira polido. Ela entregou a Luke o molho de chaves do carro e virou-se para encarar o filho. Jocelyn Kanawut era uma mulher magra e miúda, de cabelos um pouco mais escuros que os de Gulf, que tinham o dobro do comprimento. No momento, estavam enrolados em um elástico vermelho, presos pruma lapiseira que mantinha o penteado no lugar. Ela vestia um macacão coberto de tinta por cima de uma blusa lavanda e botas esportivas de cor marrom, cujas solas estavam cobertas de tinta a óleo.

As pessoas sempre diziam a Gulf que ele se parecia com a mãe, mas ele não via semelhança alguma. Só o que tinham em comum era o tipo físico: ambos eram magros e tinham quadris estreitos. Gulf sabia que não era lindo como a mãe. Para ser bonito, era preciso ser alto e esguio. Quando se era baixinho como Gulf, com pouco mais de um metro e sessenta, a pessoa era no máximo bonitinho. Não bonito ou lindo apenas bonitinho. Acrescente cabelos negros e um rosto cheio de sardas, e ele não passava de um boneco de pano em comparação à Barbie que era sua mãe.

Jocelyn também tinha um andar gracioso que faria com que as pessoas virassem a cabeça para vê-la passar, Gulf ao contrário, vive tropeçando. As pessoas só paravam para olhar quando ele passava depressa por elas.

-Obrigada por ter trazido as caixas aqui para cima. A mãe de Gulf disse a Luke, sorrindo. No entanto, ele não retribuiu o sorriso. O estômago de Gulf embrulhou de forma desagradável. Claramente alguma coisa estava acontecendo.

-Desculpe por ter demorado tanto para encontrar uma vaga. Deve ter um milhão de pessoas no estacionamento hoje...

Mãe?- interrompe-a Gulf. -Para que são essas caixas? Jocelyn mordeu o lábio, Luke olhou para Gulf, silenciosamente impelindo Jocelyn a continuar. Com um movimento nervoso de pulso, Jocelyn colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha e foi se juntar ao filho no sofá.

De perto, Gulf podia perceber a quão cansada a mãe estava. Tinha olheiras enormes sob os olhos, e as pálpebras estavam pesadas de sono.

-Isso é por causa de ontem à noite?-perguntou Gulf.

-Não - ela respondeu rapidamente e, em seguida, hesitou- Tal vez um pouco. Você não deveria ter feito o que fez ontem à noite. Você sabe muito bem.

- E eu já pedi desculpas. O que está acontecendo? Se você está me colocando de castigo, coloque logo.

-Não é isso que estou fazendo- disse a mãe. - Não estou te colocando de castigo - Ela estava com a voz tensa como um fio. Ela olhou para Luke, que balançou a cabeça.

-Fale logo, Jocelyn-disse ele.

- Será que vocês poderiam deixar de falar de mim como se eu não estivesse aqui? - Gulf disse irritado. E como assim, me contar? Contar o que?

Jocelyn soltou um suspiro.

-Vamos sair de férias. - A expressão de Luke ficou vazia, como uma tela em branco, sem qualquer pingo de tinta.

Gulf sacudiu a cabeça.

- Então é isso? Vocês vão sair de férias? - Ele se apoiou nas almofadas. - Não estou entendendo. Por que tanto rebuliço? -

-Acho que você não está entendendo. Quero dizer que vamos todos sair de férias. Nós três: você, Luke e eu. Vamos para o sítio.

- Ah. - Gulf olhou para Luke, mas ele estava com os braços cruzados sobre o tórax, olhando pela janela, com o maxilar rígido. Gulf ficou imaginando o que poderia estar incomodando-o tanto. Luke adorava o velho sitio ao norte do estado de Nova York - ele mesmo havia comprado e restaurado há dez anos, e ia para lá sempre que podia. - Por quanto tempo? Perguntou Gulf.

- Até o fim do verão - disse Jocelyn.- Eu trouxe as caixas caso você queira levar livros, materiais de pintura...

- Até o fim do verão? - Gulf sentou-se, com uma cara de indignação. Eu não posso fazer isso, mãe. Tenho planos, Namjoon e eu íamos fazer uma festa de volta às aulas, e tenho várias reuniões com o meu grupo de arte, e mais dez aulas na Tisch...

- Sinto muito pela Tisch. Mas as outras coisas podem ser cancela das. Namjoon vai entender, e o grupo de arte também.

Gulf identificou o tom implacável na voz da mãe e percebeu que ela estava falando sério.

- Mas eu paguei por essas aulas de arte! Passei o ano inteiro economizando! Você prometeu. - Gulf girou, voltando-se para Luke. - Fale para ela! Fale que isso não é justo!

Luke não desgrudou o olhar da janela, embora um músculo da bochecha tenha saltado.

- Ela é a sua mãe. A decisão é dela.

- Eu não entendo - Gulf olhou para a mãe. - Por quê?

- Preciso viajar Gulf - disse Jocelyn, com os cantos da boca tremendo. - Preciso de paz e sossego, para pintar. E estamos com pouco dinheiro agora...

Então venda mais algumas ações do papai - esbravejou Gulf. É o que você sempre faz, não é?

Jocelyn encolheu-se. -Você não está sendo justa.

-Olha só, pode ir se quiser. Não me importo. Eu fico aqui sem você. Posso trabalhar; posso arrumar um emprego no Starbucks, ou coisa parecida. Namjoon disse que eles sempre estão contratando. Já tenho idade o suficiente para cuidar de mim...

- Não! - A dureza na voz de Jocelyn fez com que Gulf desse um salto. - Eu reembolso as aulas de arte, Gulf. Mas você vem conosco. Não é opcional. Você é novo demais para ficar aqui sozinho. Alguma coisa poderia acontecer.

- Tipo o que? O que poderia acontecer? - indagou Gulf.

E então um barulho. Gulf virou surpreso para ver que Luke havia derrubado um dos porta-retratos apoiados na parede. Com a expressão claramente incomodada, ele ajeitou a foto. Ao se recompor, estava com uma expressão ligeiramente rígida.

- Estou indo

Jocelyn mordeu o lábio.

- Espere. - Ela correu atrás de Luke na entrada, alcançando-o bem no instante em que ele segurava a maçaneta. Virando-se no sofá, Gulf podia ouvir o sussurro aflito da mãe. -... Bane - Jocelyn dizia.

- Tenho ligado para ele sem parar nas últimas três semanas. A secretária eletrônica diz que ele está na Tanzânia. O que eu posso fazer?

Jocelyn. - Você não pode ficar recr rendo a ele para sempre.

- Mas Gulf...

- Não é Jonathan - sibilou Luke. - Você nunca mais foi à mesma desde que aconteceu, mas Gulf não é Jonathan. - O que o meu pai tem a ver com isso? Pensou Gulf, assustado.

- Não posso simplesmente segurá-lo em casa, impedir que saia. Gulf não vai aceitar.

- É claro que não vai aceitar! - Luke parecia extremamente irritado.

- Gulf não é um animal de estimação, é um adolescente. Quase adulto.

- Se estivéssemos fora da cidade...

- Fale com ele. - A voz de Luke era firme. - Estou falando sério. - Ele colocou a mão na maçaneta novamente...

!¿Where it all began?!Onde histórias criam vida. Descubra agora