<Cap 17 - I don't want it>

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Gulf foi tomar outro gole e viu que a xícara estava vazia. Ele não estava mais com fome, nem tonto, o que era um alívio. Repousou a xícara na mesa e abraçou o lençol em torno de si.

- O que aconteceu com as minhas roupas?

- Estavam cobertas de sangue e veneno. Mew as queimou.

-Queimou?-perguntou Gulf. - Me diga uma coisa, Mew é sempre grosso ou guarda isso para os mundanos?

- Ah, ele é grosso com todo mundo - disse Mild alegremente. – É o que o faz ser tão sexy. Isso e o fato de que já matou mais demônios do que qualquer um de sua idade. Gulf olhou para ele, perplexo.

- Ele não é seu irmão?

Isso atraiu a atenção de Mild. Ele deu uma gargalhada alta.

-Mew? Meu irmão? Não. De onde você tirou uma ideia dessas?

- Bem, ele mora aqui com você. - disse Gulf. - Não mora?

Mild fez que sim com a cabeça.

- Bem, mora, mas...

- Por que ele não mora com os próprios pais?

Por um breve instante, Mild pareceu desconfortável.

- Porque eles estão mortos.

Gulf abriu a boca, surpreso.

- Eles morreram em algum acidente?

- Não. - Mild inquietou-se, colocando um chumaço de cabelo preto atrás da orelha esquerda. - A mãe dele morreu quando ele nasceu. O pai foi assassinado quando ele tinha 10 anos. Mew viu tudo.

- Oh - disse Gulf, com a voz fraca. - Foram... Demônios?

Mild se levantou,

- Olhe, é melhor eu avisar a todos que você acordou. Há três dias que estão esperando para que você abra os olhos. Ah, e tem sabão no banheiro – ele acrescentou. - Talvez você queira se lavar. Está cheirando mal.

Gulf encarou-o

- Muito obrigado.

- Disponha.

As roupas de Mild eram ridículas. Gulf teve de dobrar as pontas da calça jeans diversas vezes até parar de tropeçar nelas, e o decote da camiseta vermelha só exaltava a falta do que Eric chamaria de airbags.

Ele se arrumou em um pequeno banheiro, com uma barra de sabonete de lavanda. Secando-se com uma toalha de mão branca, deixou os cabelos molhados e embaraçados, mas perfumados. Ele semicerrou os olhos para enxergar o próprio reflexo no espelho. Havia um hematoma roxo na bochecha esquerda, e os lábios estavam secos e inchados.

Tenho que ligar para Luke, ele pensou. Certamente havia um telefone aqui em algum lugar. Talvez deixassem que ele o utilizasse depois de falar com Hodge.

Ele encontrou os ténis repousados ao pé da cama da enfermaria, com as chaves amarradas nos cadarços. Deslizando os pés para dentro deles, ele respirou fundo e saiu à procura de Mild.

O corredor do lado de fora da enfermaria estava vazio, Gulf olhou para baixo, perplexo. Parecia o tipo de corredor em que ele às vezes se encontrava em pesadelos, sombrio e infinito. Lâmpadas de vidro em forma de rosas penduravam-se em intervalos nas paredes, e o ar cheirava a poeira e cera de vela.

À distância, ele podia ouvir um barulho fraco e delicado, como sinos balançando com uma tempestade. Ele partiu lentamente pelo corredor, passando a mão na parede. O papel de parede vitoriano estava desbotado pelo tempo, cor de vinho cinza-claro. Cada um dos lados do corredor era alinhado com portas fechadas.

O som que ele estava seguindo foi aumentando. Agora podia identificá-lo como o barulho de um piano sendo tocado com uma habilidade desconexa - porém inegável -, mas ele não conseguia identificar a música.

Dobrando a esquina, ele chegou a uma entrada, a porta estava completamente aberta. Espiando o lado de dentro, ele viu o que era: sem dúvida, uma sala de música. Um piano de cauda estava em um dos cantos, e fileiras de cadeiras estavam alinhadas na parede oposta. Uma harpa coberta ocupava o centro da sala.

Mew estava sentado ao piano, os dedos esguios passeavam velozmente pelas teclas. Ele estava descalço, usando jeans e uma camiseta cinza. Os cabelos claros bagunçados como se ele tivesse acabado de acordar. Observando os movimentos rápidos e convictos das mãos do menino, Gulf se lembrou da sensação de ter sido erguido por aquelas mãos. Cujos braços seguravam-no pela escada, e as estrelas no céu, que pareciam uma chuva de fios prateados.

Ele deve ter feito algum barulho, porque Mew se virou no banco, piscando os olhos nas sombras.

- Boat? - ele perguntou. - É você?

- Não. Sou eu. - Ele deu alguns passos para dentro da sala. - Gulf.

As teclas do piano chacoalharam quando Mew se levantou.

- Nossa própria Bela Adormecida. Quem finalmente deu o beijo para você acordar?

- Ninguém. Eu acordei sozinho.

- Tinha alguém com você?

-Mild, mas ele saiu para buscar alguém, Hodge, eu acho. Ele me disse para esperar, mas...

- Eu deveria tê-lo alertado sobre o seu hábito de nunca fazer o que te mandam. -Mew franziu os olhos para ele. - Essas são as roupas de Mild? Ficaram ridículas em você.

- Bem, afinal você queimou as minhas roupas.

- Isso foi meramente uma medida de precaução. Ele fechou o piano. - Vamos, eu levo você até Hodge.

O Instituto era enorme, um vasto espaço cavernoso, que parecia menos projetado de acordo com um espaço plano e mais como um espaço naturalmente cavado em uma pedra pela passagem de água e dos anos. Através de portas entreabertas, Gulf viu incontáveis quartinhos idênticos, cada um com uma cama simples, uma mesa de cabeceira e um grande armário de madeira aberto. Arcos claros de pedras erguiam os tetos altos, muitos deles cuidadosamente esculpidos com pequenas figuras. Ele percebeu algumas temáticas repetidas: anjos e espadas, sóis e rosas.

- Por que esse lugar tem tantos quartos? - perguntou Gulf. - Eu pensei que fosse um instituto de pesquisa.

- Essa é a ala residencial. Juramos oferecer segurança e alojamento a qualquer Caçador de Sombras que requisitar, Podemos abrigar até duzentas pessoas aqui...

(...Obs: Capitulo não revisado...) 

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