<Cap 08 - Sorry But No>

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- Gulf não é um animal de estimação, é um adolescente. Quase adulto.

- Se estivéssemos fora da cidade...

- Fale com ele. - A voz de Luke era firme. - Estou falando sério. - Ele colocou a mão na maçaneta novamente.

A porta se abriu. Jocelyn gritou.

-Meu Deus! - exclamou Luke.

- Na verdade sou só eu - disse Namjoon. - Mas já me disseram que somos muito parecidos. Ele acenou para Gulf da entrada da casa.

- Você está pronto?

Jocelyn tirou a mão da boca. - Namjoon, você estava ouvindo atrás da porta?

-Não, acabei de chegar. - Ele olhou do rosto pálido de Jocelyn

Namjoon piscou os olhos. - Está acontecendo alguma coisa? É melhor eu ir embora?

- Não se incomode- disse Luke. - Acho que já acabamos - ele passou por Namjoon, e foi descendo pelas escadas em ritmo acelerado. Lá embaixo, a porta da frente bateu. Namjoon andou de um lado para o outro na entrada, com expressão de incerteza.

-Posso voltar mais tarde disse ele. -De verdade. Não seria problema algum.

- Isso poderia... - Jocelyn começou a dizer, mas Gulf já estava de pé.

-Esqueça Namjoon. Estamos saindo - disse Gulf, pegando a bolsa que estava pendurada em um cabide perto da porta. Colocou-a no ombro, encarando a mãe. - Até mais tarde, mãe. Jocelyn mordeu o lábio.

- Gulf, você não acha que devemos conversar sobre isso?

- Vamos ter muito tempo para conversar durante as "férias" - disse Gulf com um jeito venenoso, e teve a satisfação de ver a mãe tremer. -Não me espere acordada - Gulf acrescentou e, agarrando o braço de Namjoon, o arrastou para fora da porta.

Namjoon hesitou, olhando sobre o ombro de forma solidária para a mãe de Gulf, que parecia pequena e desamparada na entrada, com as mãos entrelaçadas.

- Tchau, senhora Kanawut! - gritou ele. -Tenha uma boa-noite.

- Ah, Namjoon, cale a boca. - Irritou-se Gulf, e bateu a porta, cortando a resposta da mãe.

-Ai, meu Deus, Gulf, não arranque o meu braço-protestou Namjoon enquanto Gulf o arrastava pelas escadas atrás dele, sua bota preta fazendo barulho ao bater no chão de madeira a cada passo enfurecido que dava. Gulf olhou para cima, como se esperasse ver sua mãe olhando para baixo, mas a porta do apartamento permaneceu fechada.

- Desculpe-sussurrou Gulf, soltando o pulso de Namjoon. Gulf parou ao pé da escada, com a bolsa batendo no quadril.

O prédio de Gulf, como a maioria em Park Slope, tinha sido uma única casa, de uma família rica. Indícios do antigo proprietário ainda eram evidentes na escadaria curvilínea, o chão de mármore lascado na entrada, a vasta claraboia acima. Agora a casa era dividida em apartamentos independentes, e Gulf e a mãe dividiam o prédio de três andares com a proprietária que morava no andar debaixo, uma senhora que gerenciava uma loja mística no próprio apartamento. Ela quase não saía, embora as visitas dos clientes fossem raras. Uma placa dourada afixada na porta declarava que ela era MADAME DOROTHEA, VIDENTE E PROFETISA.

O aroma doce e carregado de incenso vazava da porta entreaberta e invadia o saguão. Gulf podia ouvir um murmúrio baixo de vozes.

-Bom ver que ela está conduzindo um negócio em expansão disse Namjoon. - É difícil se firmar como profetisa hoje em dia.

- Você tem que ser sarcástico com tudo? - disparou Gulf.

Namjoon piscou os olhos, claramente espantado. - Eu pensei que você gostasse quando sou irônico e sagaz.

Gulf estava prestes a responder quando a porta da Madame Dorothea se abriu completamente e um homem saiu de lá. Ele era alto, bronzeado e tinha os olhos verdes dourados como os de um gato e cabelos negros desarrumados. Ele sorriu para Gulf, exibindo dentes brancos e afiados.

Uma onda de tontura abateu-se sobre Gulf, uma forte sensação de que iria desmaiar.

Namjoon olhou desconfortavelmente para Gulf.

- Você está bem? Está com cara de que vai desmaiar.

- O quê? Não, eu estou bem.

Namjoon não pareceu disposto a encerrar o assunto.

- Você está com cara de quem viu um fantasma.

Gulf balançou a cabeça. A lembrança de ter visto alguém zombou dele, mas, ao tentar se concentrar, esvaiu-se.

- Não é nada. Eu pensei que tivesse visto o gato de Dorothea, mas acho que foi uma sombra. - Namjoon encarou-o. - Eu não como nada desde ontem acrescentou defensivamente. Acho que estou um pouco zonzo. Disse Gulf.

Namjoon colocou um braço reconfortante nos ombros do amigo.

- Vamos. Vou comprar alguma coisa para você comer.

- Eu não consigo acreditar nisso-disse Gulf pela quarta vez, raspando um resto de guacamole do prato com a ponta de um nacho. Eles estavam em um restaurante mexicano da vizinhança, um muquifo chamado Nacho Mama. -Como se me colocar de castigo semana sim, semana não, não fosse o suficiente. Agora vou ficar exilado pelo resto do verão.

- Mas você sabe que a sua mãe fica assim às vezes - disse Namjoon - Como quando ela respira, por exemplo. - Ele sorriu para Gulf por cima do burrito vegetariano.

- Isso, muito bom, pode agir como se fosse engraçado - disse Gulf.

- Não é você que está sendo arrastado para o meio do nada por Deus sabe quanto tempo...

Gulf - Namjoon interrompeu a declamação. - Não é de mim que você está com raiva. Além disso, não é algo permanente.

- Como é que você sabe disso?

Bem, porque eu conheço a sua mãe - disse Namjoon após uma pausa. - Quero dizer, você e eu somos amigos há quanto tempo, uns dez anos? Eu sei que ela fica assim de vez em quando. Ela vai pensar melhor. Gulf pegou uma pimenta do prato e a mordeu de forma pensativa.

- Será mesmo? - disse Gulf. - Que você conhece a minha mãe, quero dizer? Às vezes eu fico pensando se alguém no mundo a conhece. Namjoon piscou os olhos.

- Agora você me confundiu.

Gulf respirou fundo para refrescar a boca, que estava queimando. - Quer dizer, ela nunca fala sobre si mesma. Não sei nada sobre o começo da vida dela, da família, e quase nada sobre como ela conheceu meu pai. Ela nem sequer tem fotos do casamento. É como se a vida dela tivesse começado quando eu nasci. E é isso que ela sempre diz quando pergunto a respeito,

-Ah. - Namjoon fez uma careta. - Isso é bonito.

- Não, não é. É estranho. É estranho eu não saber nada sobre os meus avós. Quer dizer, eu sei que os pais do meu pai não eram muito legais com ela, mas será que foram tão ruins assim? Que tipo de gente não quer conhecer o próprio neto?

- Talvez ela os odeie. Talvez fossem intrometidos ou coisa parecida - sugeriu Namjoon. - E ela tem todas aquelas cicatrizes.

Gulf o encarou.

- Ela tem o quê?

Namjoon engoliu um pedaço enorme de burrito.

-Aquelas cicatrizes fininhas. Por todo o braço. Eu já vi a sua mãe de maiô, sabia?

- Eu nunca notei cicatriz alguma - disse Gulf, afirmativo. - Acho que você está imaginando coisas.

Namjoon o encarou, e parecia estar a ponto de dizer alguma coisa quando o celular de Gulf, enfiado na bolsa, começou a tocar insistentemente. Gulf pegou-o, olhou para os números que estavam piscando na tela e franziu o rosto.

- É a minha mãe.

-Deu para perceber pela expressão no seu rosto. Você vai falar com ela?

Agora não disse Gulf, sentindo aquela pontinha de culpa quando o telefone parou de tocar e a ligação caiu na caixa postal. - Não quero brigar com ela...

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