<Cap 63 - Somebody to Love>

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(CAPITULO NÃO REVISADO)

- Não é culpa sua - dizia Boat. Ele parecia esgotado, como se já tivesse passado por aquilo com o irmão anteriormente. Gulf imaginou quantos namorados Mild já havia transformado acidentalmente em ratos. - Mas deveria te ensinar a não ir a tantas festas do Submundo - Boat acrescentou. - Dão mais prejuízo do que lucro.

Mild fungou. - Se alguma coisa tivesse acontecido a ele, eu... eu não sei o que teria feito.

- Provavelmente o que quer que fosse que você fazia antes - disse Boat com a voz entediada. - Afinal de contas, você nem o conhecia tão bem assim.

- Isso não quer dizer que eu não...

- O quê? Que o ama? - Boat levantou a voz. - É preciso conhecer alguém para poder amar.

- Mas não é só isso. - Mild soava quase triste. - Você não se divertiu na festa, Boat?

- Não.

- Achei que você pudesse gostar do Magnus. Ele é legal, não é?

-Legal? - Boat olhou para o irmão como se ele fosse louco. - Filhotes de gatos são legais. Feiticeiros... - ele hesitou. - Não são - concluiu sem qualquer originalidade.

- Achei que vocês pudessem se dar bem. - Os olhos maquiados de Mild brilharam com lágrimas quando olhou para o irmão. – Tornar se amigos.

-Eu tenho amigos - disse Boat, e olhou por cima do ombro, quase como se não pudesse evitar, para Mew. Mas Mew, com a cabeça platinada para baixo, perdido em pensamentos, não percebeu. Impulsivamente, Gulf esticou a mão para abrir a mochila e dar uma olhada e congelou. Estava aberta. Ele voltou mentalmente para a festa - ele levantara a mochila e fechara o zíper. Tinha certeza disso. Ele abriu ainda mais, com o coração acelerado.

Ele se lembrava de ter aberto a mochila, não ter visto a carteira dentro. Gulf se lembrou da ocasião em que roubaram sua carteira no metrô. E a boca secando em sinal de surpresa - Será que eu a deixei cair? Será que a perdi? Até que se deu conta: não estava mais lá. Foi assim, só que mil vezes pior. Com a boca seca de nervoso, Gulf revirou a mochila, jogando as roupas e o caderno de lado, as unhas arranhando a base. Nada.

Gulf havia parado de andar. Mew estava pouco à frente dele, aparentando impaciência, Boat e Mild já estavam um quarteirão à frente.

-O que houve? - perguntou Mew, e Gulf percebeu que ele estava prestes a acrescentar alguma coisa sarcástica. Mas deve ter reparado no olhar estampado no rosto de Gulf, pois nada disse. – Gulf?

- Ele se foi - Gulf sussurrou. - Namjoon. Ele estava na minha mochila...

- Ele saiu sozinho?

Não era uma pergunta insensata, mas Gulf, exausto e completamente em pânico, reagiu de forma insensata.

- É claro que não! - ele gritou. - Qual é você acha que ele quer ser esmagado por um carro, morto por um gato...

- Gulf...

- Cale a boca! – Gulf gritou, balançando a mochila na direção dele. - Foi você que disse para não perder tempo mudando o feitiço...

Com um reflexo, Mew pegou a mochila enquanto Gulf a balançava. Retirando-a da mão de Gulf, ele a examinou.

- O zíper está arrebentado - ele disse. - Pelo lado de fora. Alguém rasgou essa mochila para abri-la.

Sacudindo a cabeça, completamente atordoado, Gulf só conseguia sussurrar:

- Eu não...

- Eu sei. - A voz de Mew era delicada. Em seguida gritou: - Boat! Mild! Podem ir na frente! Alcançaremos vocês.

Os dois, já adiantados, pararam; Boat hesitou, mas Mild o pegou pelo braço, empurrando-o com firmeza para a entrada do metro. Algo pressionou as costas de Gulf: era a mão de Mew, virando-o gentilmente. Gulf deixou que ele o levasse para o frente, tropeçando em rachaduras na calçada, até estarem de volta na entrada do prédio de Magnus. O cheiro de álcool e o inconfundível aroma doce que Gulf passara a associar ao Submundo preenchiam o ambiente.

Tirando a mão das costas dele, Mew apertou a campainha sobre o nome de Magnus.

-Mew - Gulf disse.

Ele olhou para baixo, para Gulf.

- O quê?

Gulf buscou as palavras certas. - Você acha que ele está bem?

- Namjoon? - ele hesitou e Gulf pensou nas palavras de Mild: não faça nenhuma pergunta a ele se não puder suportar a resposta. Em vez de falar alguma coisa, ele limitou-se a apertar a campainha outra vez. Dessa vez, Magnus respondeu, a voz ecoando sombria pela entradinha.

- QUEM OUSA PERTURBAR MEU DESCANSO?

Mew parecia quase nervoso.

- Mew Suppasit. Lembra? Sou da Clave.

- Ah, sim. - Magnus pareceu se acalmar. - Você é o de olhos azuis?

- Ele está perguntando se você é o Boat - explicou Gulf.

- Não. Os meus geralmente são descritos como dourados – Mew falou ao interfone. - E luminosos.

- Ah, esse - Magnus parecia desapontado. Se Gulf não estivesse tão chateado, teria rido. - Acho que é melhor você subir. - O feiticeiro abriu a porta trajando quimono de seda estampado com dragões, um turbante dourado e tinha uma expressão de irritação quase incontrolável.

- Eu estava dormindo - disse com cara de travesseiro, então Gulf o interrompeu.

- Desculpe incomodá-lo...

Algo pequeno e branco passou pelos calcanhares do feiticeiro. Tinha listras de cor cinza em ziguezague e orelhas rosadas que o faziam parecer mais um rato grande do que um gato pequeno.

- Presidente Miau? - adivinhou Gulf.

Magnus anuiu com a cabeça.

- Ele voltou.

Mew olhou para o pequeno animal com uma careta no rosto, - Isso não é um gato observou ele. É do tamanho de um hamster.

- Vou fazer a gentileza de esquecer que você falou isso - disse Magnus, utilizando o pé para colocar Presidente Miau atrás dele. - Agora, para que exatamente vocês vieram aqui?

Gulf esticou a mochila rasgada.

- Namjoon. Desapareceu.

- Ah, desapareceu como? - disse Magnus, delicadamente.

- Desapareceu - repetiu Mew - Sumiu, está ausente, destacado por sua falta de presença, desapareceu.

-Talvez ele tenha fugido e se escondido embaixo de alguma coisa - sugeriu Magnus. - Não deve ser fácil acostumar-se a ser um rato, principalmente para alguém tão pouco sagaz.

- Namjoon não é pouco sagaz - Gulf protestou furioso.

- É verdade - concordou Mew. - Ele só parece pouco sagaz. Na verdade, a inteligência dele está bem na média. - Seu tom era leve, mas os ombros ficaram tensos quando ele se voltou para Magnus. - Quando estávamos indo embora, um dos seus convidados esbarrou no Gulf. Acho que ele rasgou a mochila dele e pegou o rato. Namjoon quero dizer.

Magnus olhou para ele.

- E?

- E eu preciso descobrir quem é - Mew disse com firmeza. - Suponho que você saiba. Você é o Magnífico Feiticeiro do Brooklyn. Acho que não se passa muita coisa que você não saiba no seu próprio apartamento.

Magnus inspecionou uma unha.

-Você não está enganado.

- Por favor, nos conte - disse Gulf. A mão de Mew apertou o pulso de Gulf.

Gulf sabia que Mew queria que ficasse quieto, mas isso era impossível.

-Por favor. – disse Gulf novamente.

Magnus suspirou.

- Tudo bem. Eu vi um dos vampiros motoqueiros sair com um rato marrom nas mãos. Honestamente, achei que fosse um deles. Às vezes os Filhos da Noite se transformam em ratos ou morcegos quando ficam bêbados.

As mãos de Gulf estavam tremendo...

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