<Cap 15 - What was that>

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Quase sem fôlego, Gulf rolou e começou a se afastar da coisa também. Ele já havia praticamente alcançado a porta quando ouviu algo assobiar pelo ar próximo à sua cabeça. Ele tentou desviar, mas era tarde demais. Um objeto bateu forte na parte de trás da cabeça, e ele sucumbiu entregue à escuridão.

A luz agrediu as pálpebras de Gulf, azul, branca e vermelha. Havia um barulho agudo e de lamentação, subindo de tom como o grito de uma criança aterrorizada. Gulf engasgou-se e abriu os olhos.

Ele estava deitado sobre o gramado frio e úmido. O céu noturno ondulava-se acima, o brilho metálico das estrelas ofuscado pelas luzes da cidade. Mew estava ajoelhado a seu lado, as algemas prateadas nos pulsos dele emitiam faíscas de luz enquanto ele rasgava o pedaço de tecido que segurava.

- Não se mexa.

Os lamentos ameaçavam cortar as orelhas dele ao meio. Gulf girou a cabeça para o lado, desobedientemente, e foi recompensado com uma pontada aguda de dor nas costas. Ele estava deitado sobre uma grama atrás da roseira cuidadosamente cultivada de Jocelyn. A vegetação escondia parcialmente a vista da rua, onde um carro de polícia, com a sirene azul e branca piscando, estava parado no meio-fio, com a sirene tocando. Um pequeno grupo de vizinhos já havia se aglomerado, encarando enquanto a porta do carro se abria e dois policiais de uniforme azul emergiam.

A polícia. Ele tentou sentar, e não conseguiu, os dedos tremiam na terra úmida.

- Eu disse para não se mexer - sibilou Mew. - Aquele demônio Ravener te acertou na nuca. Ele já estava semimorto, então não provocou um dano grave, mas temos que levá-lo ao Instituto. Fique parado...

- Aquela coisa, o monstro, ele falava. - Gulf se mexia incontrolavelmente

-Você já ouviu um demônio falar antes. - As mãos de Mew eram delicadas enquanto ele colocava a tira de pano sob o pescoço de Gulf e amarrava. Estava embebido com alguma coisa que parecia cera, como o material de jardinagem que Jocelyn utilizava para manter macias as mãos que abusavam de tinta e de aguarrás.

- O demônio no Pandemônio parecia uma pessoa. - Disse Gulf.

- Era um demónio Espectro. Capaz de mudar a forma. Raveners são daquele jeito mesmo. Nada atraentes, mas são burros demais para se importar com isso.

- Ele dizia que ia me comer.

- Mas não comeu. Você o matou. -Mew concluiu o curativo e para o alívio de Gulf, a dor na nuca havia passado. Ele conseguiu sentar.

- A polícia está aqui – A voz de Gulf soou como o coaxar de um sapo. - Nós deveríamos...

-Não há nada que possam fazer. Alguém deve ter ouvido os seus gritos e os chamou. Aposto que não são policiais de verdade. Os demônios têm uma maneira de esconder os próprios rastros.

- Minha mãe - Gulf disse, forçando as palavras através da garganta inchada.

- Há veneno de Ravener passando por suas veias neste exato instante. Você vai morrer dentro de uma hora se não vier comigo. Mew se levantou e esticou a mão para ele. Gulf aceitou e Mew o levantou com um puxão. - Vamos.

O mundo estremeceu. Mew pôs a mão nas costas de Gulf, segurando-o firme. Ele cheirava a sujeira, sangue e metal.

- Você consegue andar?

- Acho que sim. – Gulf olhou através dos arbustos densos. Conseguia ver a polícia se aproximando. Um dos oficiais, uma mulher loura e magra, trazia uma lanterna em uma das mãos. Ao levantá-la, Gulf viu que a mão não tinha carne, era uma mão esquelética afiada nas pontas dos dedos.

- A mão dela...

- Eu disse que poderiam ser demônios – Mew olhou para o fundo da casa. - Temos que sair daqui. Dá para ir pelo beco?

Gulf balançou a cabeça.

- É sem saída. Não tem como... - As palavras de Gulf se dissolveram numa tosse. Ele levantou a mão para cobrir a boca. Voltou vermelha. Ele gemeu sôfrego.

Mew agarrou o pulso de Gulf, girando-o para que a parte branca e vulnerável do antebraço ficasse nua sob a luz da lua. Traços de veias azuladas mapeavam o interior da pele do menino, trazendo sangue envenenado para seu coração e seu cérebro, Gulf sentiu os joelhos curvarem. Havia algo na mão de Mew, algo afiado e prateado. Ele tentou libertar a própria mão, mas o punho de Mew era forte demais: ele sentiu uma picada forte na pele. Quando Mew o soltou, Gulf viu um símbolo preto tatuado, como aqueles que cobriam a pele dele, logo abaixo da dobra do próprio pulso. Parecia um aglomerado de círculos sobrepostos. O que exatamente isso faz?

- Vai esconder. - Mew disse. - Temporariamente. - Ele colocou de volta no cinto a coisa que Gulf pensara que era uma faca. Era um cilindro longo e luminoso, da grossura de um dedo indicador, e afunilado na ponta. - Minha estela - Mew disse. Gulf não perguntou o que era aquilo. Ele estava ocupado tentando não cair. O chão estava pesando seus joelhos.

- Mew – Gulf disse, e caiu sobre ele. Mew o segurou, como se estivesse acostumado a segurar garotos desmaiando, como se fizesse isso todos os dias. E talvez fosse esse o caso. Ele o tomou nos braços, dizendo alguma coisa em seu ouvido que soava como pacto. Gulf esticou a cabeça para trás para olhar para ele, mas só viu as estrelas espalhadas no céu acima. Depois a base de tudo caiu, e mesmo os braços de Mew não bastavam para impedir que ele caísse...

(Obs: Oi filhotes, amanhã tentarei postar pelo menos 4 novos capítulos, mas eu não prometo nada. Pois a desgraça das minhas aulas começam terça feira, e é muito provável que eu não tenha mais tempo de atualizar essa fanfic.)

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