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Hoje o dia estava calmo no hospital, cuidei dos meus pacientes e passei a manhã inteira conversando com as meninas. Meu alarme soou e vi que era hora de dar o remédio para o paciente 204, me despedi das meninas e fui até ele, assim que terminei e sai da sala me deparei com paramédicos andando rapidamente com uma maca e logo atrás um monte de gente.

Assim que bati o olho na primeira maca, um arrepio passou pela minha nuca, e não era ruim... é só que o cara que estava na maca é extremamente lindo. Seu maxilar é definido, seus cabelos escuros bagunçados, ele usa uma camisa social branca, quase transparente, que dá para ver plenamente seu torso definido e as entradas marcantes em seu quadril.

Molhei os lábios involuntariamente.

Os paramédicos pressionavam um ferimento, mas mesmo assim o sangue já estava por toda a camisa branca do homem. Meus olhos foram automaticamente para tv, ele havia sido capturado, o chefe de uma das maiores gangues da cidade, havia sido capturado, voltei os olhos para o baleado e notei as algemas em seu pulso.

Eu estava secando um mafioso?

. . .

Eu nasci no Brasil, numa cidade quase que completamente corrupta, mas mesmo assim, ainda tem muita gente boa e humilde. Sempre sonhei em estudar aqui nos Estados Unidos e me esforcei para conseguir realizar esse sonho, estudei, estudei e estudei. Meus pais, mesmo achando impossível, apenas me apoiaram. Tenho dois irmãos, eles e meus pais são tudo pra mim.

Depois de alguns anos, consegui um intercâmbio aqui. Foi difícil me despedir da minha família, mas foi apenas um ano longe. Porém não parou por aí, arranjei um trabalho numa empresa e juntei dinheiro para comprar uma passagem para os EUA e para me manter durante um mês.

Me mudei para New York e festejei, vivi minha vida, o que eu passei estudando no Brasil, eu vivi aqui nos EUA, mesmo fazendo faculdade de enfermagem, consegui equilibrar tudo e passei como uma das melhores.

Consegui me sustentar com apenas um emprego de atendente de uma loja de chocolate, pois tinha bolsa integral de 75%. No entanto, as minhas aventuras deram um pouco errado e acabei grávida e sem saber quem era o pai. Quando descobri que estava grávida, me mudei para aqui, Califórnia. Consegui uma vaga em um hospital e agora trabalho o dia inteiro, mesmo estando grávida, mas isso nunca me impediu.

Hoje sustento minha família e tenho uma casa própria pequena, mas que cabe eu e minha filha, que atualmente tem nove meses. Estou realizada, é tudo que eu sinto, mas no fundo, ainda falta algo para mim, talvez uma pessoa para amar e para ser a figura masculina que minha filha precise...

Mas eu tenho sérias dúvidas, pois nunca me apaixonei por alguém como nos filmes, aquele amor que consome, sabe? E se um dia eu for me relacionar com alguém seriamente, vai ter que ser algo que eu saiba que tenha futuro, ou que pelo menos, que valha a pena tentar.

Está tudo bem equilibrado por enquanto, mas sinto que essa paz está prestes a acabar apenas um pressentimento.

. . .

Sai do transe com a minha voz sendo chamada e percebi que eram ordens da enfermeira chefe, mandando que voltemos ao trabalho normal, e logo obedeci suas ordens. De repente, o dia passou de calmo para um totalmente tortuoso. Cuidei de vários pacientes e quando notei que havia acabado tudo, me joguei na cadeira da sala de enfermeiros e relaxei.

- Elisa, preciso falar com você. - Sabine, a enfermeira chefe.

Assenti e fui até a sua sala, ela estava péssima e pelo que eu pude ver, também estava, trabalhei tanto hoje que meus olhos estão pesados e com olheiras ao redor.

- Algo de errado, Sabine? - perguntei preocupada e ela fez um sinal para que me sentasse, assim fiz.

- Devido a sua semana de férias antecipada, decidi que você iria ter que cuidar do paciente especial da semana. - ela explicou e cruzou as mãos se inclinando mais em minha direção.

Semana passada tive que cuidar de Alice, ela está cada vez mais inteligente e acaba me dando trabalho, fora que a creche teve que fechar para reforma e tive que tirar cinco dias das minhas férias.

- Pensava que haviam tirado das minhas férias de fim de ano. - comentei e ela negou com a cabeça.

- Pode ser melhor assim, para você, já que vai poder ficar com a sua família no natal. - ela observou e sorriu. Sabine é uma excelente profissional e é muito gentil também.

- Certo, mas por que ele é especial? - perguntei curiosa.

- Ele se chama Colin Campbell, deve ter visto ele hoje mais cedo, enfim, ele é o criminoso que aparece todos os dias na tv. - ela falou e entrei em choque. - Vou te dar a receita dele e não se leve pelas palavras dele, ele pode fazer ameaças e te manipular, mas não se preocupe, você está cem por cento segura. - ela afirmou e prendi a respiração.

- Certo. - concordei meio atordoada.

Ela me entregou a receita e li, adicionei nos meus horários. Ele já saiu da cirurgia de remoção da bala, daqui á uma hora tenho que vê-lo para trocar o curativo. As outras enfermeiras descobriram que eu ia ficar cuidando do Campbell e ficaram bem irritadas, dava pra notar pelos cochichos, me perguntei o que havia de bom nisso? É como estar quase na beira da morte, vai que ele surta e aparece com uma arma? Parece surreal, mas é bem possível.

Meu alarme apitou e logo fui até a sala dele. Respirei fundo e abri a porta. Ele estava usando a roupa de paciente que tem um tecido incrivelmente fino, dando uma bela visão do seu corpo e agora, Campbell estava focando seus olhos na TV, onde passava uma reportagem sobre ele.

Ele não olhou para mim, certamente não deve estar ciente da minha aparição por estar distraído com a tv. Me aproximei receosa dele e comecei a organizar o que vou precisar para trocar o curativo e seus remédios.

- Não vai nem me dar um boa tarde ou algo do tipo? - ele perguntou brincalhão e ao mesmo tempo frio.

- Perdão. Boa tarde, senhor Campbell. - falei e pela primeira vez ele me encarou.

Seus olhos passearam sobre meu corpo e corei envergonhada, ele analisou tudo em mim e senti meus pelos se arrepiaram de nervoso.

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