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- Nunca imaginei que aquela enfermeira tímida pudesse se mostrar uma mulher tão... surpreendente. - ele sussurrou enquanto encarava meus lábios.

Ele colocou a mão nas minhas costas e neste momento não pensava em mais nada, nem em quanto isso é errado, seus lábios estavam a dois centímetros do meu, de repente meu cérebro voltou e me afastei bruscamente, coloquei uma mecha do cabelo atrás da orelha.

Ele franziu as sobrancelhas e eu peguei o seu remédio o entregando e cruzando os braços. Ele me entregou o copo já vazio e, nervosa, mordi o lábio.

- Até mais, senhor Campbell.

. . .

Despertei com um choro estridente e sonolenta fui até o quarto de Alice, peguei a menina que se mexia inquieta no berço e a balancei em meu colo, porém, ela não parava de espernear, olhei sua fralda e deduzi que seria então fome. Desci com ela no colo e esquentei seu leite, lhe dei a chupeta enquanto isso.

Depois de muitas tentativas de alimentá-la, analisei sua boquinha e percebi que era realmente o que suspeitava, dentes estavam nascendo e seria muita dor de cabeça para nós duas daqui em diante.

Lavei um mordedor que estava largado no chão e dei pra ela que abocanhou sem pensar duas vezes. Fiz um chá de camomila para nós. Olhei para o relógio enquanto a água borbulhava, daqui há algumas horas tenho que estar no trabalho. Terminei o chá e coloquei na mamadeira dela. Tirei o mordedor e dei a ela a mamadeira, ri quando ela fez careta, mas logo ela voltou a tomar, tomei o meu também e quando vi no relógio já eram cinco horas.

Levei ela para cima para tomarmos banho juntas. Vesti uma blusa de frio branca e uma calça jeans, o uniforme colocamos no hospital. Coloquei uma blusa de frio na Alice e também uma sainha rosa, coloquei meias brancas e um lacinho simples. Penteei os cabelos loiros de Alice que combinam com seus lindos olhos azuis, que provavelmente puxou do pai, pois meus olhos são castanhos como mel.

Peguei o mordedor e dei pra ela que já estava ficando inquieta, a coloquei no colo e saí de casa fechando tudo, pus ela na cadeirinha e a bolsa dela do lado. Comecei a dirigir e no meio da viagem ela começou a chorar, notei que ela havia deixado seu mordedor cair..

Suspirei, hoje está sendo um péssimo dia.

Fui até ela e a entreguei um mordedor reserva, voltei para o meu banco e vi que estou atrasada cinco minutos e eu não posso me atrasar. Cheguei no trabalho e agora são dez minutos atrasada, assim que entrei dei de cara com uma mulher, de prancheta na mão e eu já sabia o que significa isso, cortes, ouvi boatos de que iria ter demissão, só não esperava que era verdade e que era hoje.

Passei direto, mas assim que cheguei na sala, fui chamada, engoli o seco e respirei fundo. Entrei na sala de Sabine já com o peito acelerado.

- Sabine, bom dia! - soei nervosa, e eu estava.

- Acredito que já saiba porquê está aqui.

- Sabine, você sabe que eu sou uma ótima enfermeira, uma das melhores, se assim posso dizer, eu tenho alguns problemas, mas fui uma das melhores da faculdade. - disse levemente desesperada.

- Eu sei do seu potencial, Elisa, mas tem pessoas que estão aqui há mais tempo, e no momento, precisamos de pessoas mais acessíveis. - ela justificou e comprimi os lábios.

- Tudo bem, eu entendo a situação. - aceitei a derrota, mesmo muito frustrada, não poderia negar que eu não estava sendo muito responsável.

Peguei meu último salário e meus itens que estavam guardados no meu armário. O quarto de Colin era caminho e por coincidência no momento que estava próxima, pude assistir a chegada da nova enfermeira.

- Bom dia, senhor Campbell! Eu sou sua nova enfermeira, Judi Campos. - a mais assanhada das enfermeiras.

- Eu já tenho uma enfermeira, a Barnes - Colin soou impaciente e isso me fez sorrir, ele gostava de mim, sabia disso.

- Está tendo cortes aqui no hospital, ela era uma irresponsável mesmo, ficava trazendo aquela criança que só sabia gritar no pé do nosso ouvido, você tinha que ver. - ela falou com nojo e eu revirei os olhos.

- Oi, Judy, olha que sorte a sua, ficou com quem você queria, mas só não vai ficar mostrando os peitos para ele, para não passar vergonha que nem da última vez. - jogo na cara mesmo.

- O que foi? Tá com ciúme porque eu roubei os seus pacientes e você foi chutada? - ela perguntou debochada.

- Não, é claro que não, por mim você pode tomar no cu, mas é que eu tenho coragem de falar na cara dos outros, não sou covarde que fica fofocando para os outros. - retruquei e ela ficou indignada.

- Olha como você fala comigo, fala de mim, mas nem sabe quem é o pai da sua filha.

- Mas eu não dava para qualquer um que via pela frente, você dá até para um velho casado broxado. - critiquei e ela se calou sem palavras.

- Eu assumo que sou vadia, pior é você que não assume, é a pior das vadias, quanto é que pagam no puteiro, em? - ela perguntou cínica e eu não segurei a mão, ela colocou a mão na bochecha com meus cinco dedos marcados.

Uma pessoa se meteu no meio tentando impedir que uma briga violenta se iniciasse, eu apenas balancei minha mão que ardia e desviei o olhar de Judy que insistia em falar mais barbaridades, acabei encontrando os olhos verdes de Colin que me encarava com curiosidade.

Ainda bem que eu já fui demitida.

Peguei Alice na creche e voltei pra casa, quando me sentei no sofá me joguei nele e comecei a refletir sobre algumas coisas.

Talvez eu tenha me alterado demais hoje, mas nada do que Judi merecia. E também perdi meu emprego, algo que vai custar algumas coisas, mas daria um jeito. Comecei desde já a procurar emprego. Enquanto rolava meu dedo pela tela do celular, o nome da Sabine apareceu na tela em uma ligação.

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