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Me aproximei dele e com delicadeza comecei a abrir os botões da roupa. Ele pareceu analisar cada passo meu, nervosa, mordi o lábio, logo chamando sua atenção para a minha boca avermelhada.

Limpei o machucado e logo cobri com um curativo novo. Peguei o comprimido dele, o copo de água e o ofereci.

- Analgésico. - expliquei e ele assentiu.

Ele se ajeitou na cama e coloquei o comprimido em sua boca, derramei um pouco de água em sua boca e ele engoliu o comprimido, uma gota de água escorreu por sua boca e peguei um guardanapo, enxuguei a gota e percebi o quanto sua boca é alinhada.

Voltei ao mundo normal e sem graça, guardei as coisas em seu devido lugar e descartei outras,

- Está precisando de alguma coisa ou sentindo algo? - perguntei ao me virar.

Ele pareceu pensativo enquanto me olhava novamente de cima a baixo.

- Eu que te pergunto, está sentindo alguma coisa? Parece bem nervosa. - ele observou.

- Certo, vejo que não está precisando de nada. Com licença. - disse e saí do quarto.

Assim que fechei a porta me apoiei na parede e senti o ar mais leve, parece até mais fresco. Mesmo com ar-condicionado, lá estava muito quente, tinha tensão no ar, dava para perceber.

Duas horas depois recebi uma ligação da creche e surtei, teve uma complicação lá e eles vão ter que fechar mais cedo. Suspirei e saí rapidinho do trabalho para buscar minha pequena. Os funcionários me pediram desculpas e voltei para o hospital.

Merda, vou ter que deixar ela com alguém enquanto cuido dos pacientes.

Entrei na sala das enfermeiras e os olhares foram direcionados para mim e Alice, sorri sem graça e coloquei seu carrinho no canto e logo uma enfermeira se aproximou.

- Estava ansiosa para ver essa garotinha pessoalmente. - Marie falou, ela é bem legal, sempre fala comigo, a enfermeira mais próxima de mim. - Por que essa neném linda está aqui? - ela perguntou e fez carinho nas bochechas de Alice.

- A creche que ela fica teve problemas, aí precisei trazer ela aqui, mas não sei como vou fazer para trabalhar. - desabafei.

- Se você quiser, posso cuidar dela, cuido de pessoas em coma como você sabe. Não vai ter problema pra mim. - ela me ofereceu gentil e sorri emocionada.

- Obrigada, Marie, estava bem preocupada em relação a isso. - falei e por impulso a abracei.

- Por nada, amigas tem que se ajudar, não é? - ela questionou e eu assenti.

Expliquei tudo pra ela e o alarme logo soou, suspirei e dei tchau para as meninas. Cuidei de alguns pacientes e logo estava na frente da sala dele. Respirei fundo e abri a porta.Tentei evitar o seu olhar e logo arrumei o que iria precisar para trocar o curativo.

- Estava me perguntando quando você ia voltar.

- Sempre vou voltar de três em três horas. - expliquei formalmente e me aproximei dele. - Como colocou essa roupa? - perguntei curiosa, quase espantada, olhando que ele vestia uma camisa preta e uma calça moletom.

- Dei o meu jeito. - ele respondeu e deu de ombros.

- Um policial te ajudou ou uma enfermeira? - perguntei e levantei sua camisa.

- Não, sozinho mesmo. - sua voz rouca soou impaciente e meus pelos se arrepiaram em fileiras.

- Perdeu dois pontos. - observei e ele deu de ombros despreocupado.

- Me esforcei para levantar e vestir a roupa, deve ser por isso. - ele justificou, arregalei os olhos e logo desviei o olhar para seu pulso, mas franzi as sobrancelhas ao vê-lo preso pela algema.

- Como você fez isso ? - perguntei olhando diretamente para a algema.

- Simples, eu me soltei.

- Se consegue se soltar... - arregalei os olhos. - Por que continua aqui então? - perguntei e comecei a cuidar do seu machucado.

- Não que eu te deva alguma explicação para você, mas na minha casa tá uma bagunça por causa dos tiras. E não fique preocupada, pequena, não vou te machucar, ainda não. - ele falou e congele. - Continue seu trabalho. - ele mandou e assenti.

Me virei para ele e comecei a costurar seu abdômen, ele parecia tenso e em algum momento apoiei a minha mão em sua barriga e acabei a deslizando sobre seu torso. Ele se remexeu incomodado.

- Acho que vou pedir para trocar de enfermeira, porque desse jeito não tá dando certo. - ele resmungou divertido.

- Acho que você não tem esse direito. - falei sem pensar e arregalei os olhos depois.

Elisa, sua idiota, se continuar assim vai acabar morta! Era isso que meu cérebro gritava nesse momento.

Ele ficou um pouco surpreso, mas logo começou a rir, minhas bochechas coraram, mas fingi que nada aconteceu. Quando estava colocando o curativo, escutei um choro que conhecia bem.

- Alice. - sussurrei e olhei para a porta.

- O que? - Campbell perguntou confuso, apenas corri até a porta e a abri. Marie corria até mim e logo me entregou a minha filha que chorava.

- Desculpa, Lise, ela começou a chorar, eu tentei dar mamadeira e até olhei a fralda, mas ela não tem nada. - Marie soou tensa.

Ninei minha filha em meu braços enquanto fazia um "shii" bem baixinho, balancei ela que logo estava se acalmando.

- Deixa que eu cuido dela agora, Marie, você ajudou muito, obrigada. -  agradeci e ela me entregou as coisas.

- Isso não vai te atrapalhar? - ela perguntou e olhou por cima do meu ombro.

Suspirei ao lembrar que o mundo não gira em torno da minha filha.

- Eu dou o meu jeito, pode ir. - falei e Marie assentiu saindo pelo corredor.

Coloquei Alice no carrinho e dei uma mamadeira para ela. Empurrei o carrinho pra dentro da sala e lavei minhas mãos.

- Desculpa por isso. - falei me virando para Colin que me encarava estranho.

- Quem é ela? - ele perguntou se ajeitando na cama.

- Minha filha, Alice. - respondi e ele arqueou as sobrancelhas em surpresa por dois segundos.

- Por que o pai dela não fica com ela enquanto você trabalha? - ele perguntou curioso.

- Não que eu lhe deva satisfações, mas eu sou mãe solteira. - respondi e notei a sombra de um sorriso em seu rosto.

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