Capítulo 59- O chamado do coração

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Olá, pessoal. Mais um capítulo de broken postado, para quem gosta dessa fic. Me deixem seus comentários e votos se assim o desejarem. Beijos.

GILBERT

A madrugada já havia caído, e lá fora estava um breu total, mas Gilbert ainda não tinha conseguido dormir. Ele passou metade da noite velando o sono de Anne por dois bons motivos. O primeiro por medo que a febre dela voltasse por conta do aborrecimento que ele lhe causara com o assunto do jantar, e o segundo foi porque apesar de Anne o ter perdoado, ele não conseguia perdoar a si mesmo pelo erro que cometera com ela.

Gilbert nunca era flexível com suas falhas, mesmo que fossem pequenas. Isso se aplicava ao hipismo, ao tênis, à natação e ainda mais no seu trabalho. Qualquer erro de julgamento de sua parte lhe custava dias de recriminações, insatisfação e frustração. Ele não aceitava errar, mesmo sabendo que isso era perfeitamente normal. Ainda na faculdade, essa inflexibilidade lhe causara muitos problemas, até o ponto de um de seus professores lhe aconselhar a fazer terapia, porque temia que isso o levasse a um estresse emocional que lhe custaria muito caro, e não queria perder um aluno tão brilhante para uma incapacidade de Gilbert de lidar com seu lado humano e imperfeito.

Gilbert nunca de fato procurara um terapeuta, mas aprendera com muita disciplina a manter esse seu lado sobre controle, repetindo as palavras sábias de Buda que dizia: O segredo da saúde mental e corporal está em não se lamentar pelo passado, não se preocupar com o futuro, nem se adiantar aos problemas, mas viver sabia e seriamente o presente.
E seguirá essa filosofia até que o pior acontecera com Ruby e todo o seu conceito de certo ou errado em sua vida como psiquiatra se perdera outra vez.

Quando deixara Londres e fora viver em Avonlea, ele jurara recuperar seu equilíbrio e parar de se machucar, entrando em conflito com seu lado médico e humano, e por um bom tempo Gilbert conseguiu viver em paz com sua consciência, mas conhecer Anne e trazê-la para sua vida o colocara de novo em xeque com sua consciência como médico e homem, e mesmo agora em que não era mais o psiquiatra dela, não se permitia cometer nenhum erro em sua vida com ela.

Gilbert conscientemente sabia o que estava tentando fazer, e mesmo entendendo que era loucura de sua cabeça, ele queria ser para Anne o que Roy Gardner não fora, ele queria compensar cada pequeno sofrimento que aquele cafajeste a fizera passar, e fazê-la esquecer um ano inteiro de humilhação que ela sentira na pele nas mãos de um homem sem alma. E não poderia fazer isso se não desse ouvidos às necessidades dela, e não ao que achava certo pela sua própria concepção.

Por isso, sua cabeça não o deixara em paz a noite inteira, e enquanto Anne dormia pacificamente em seus braços, ele se culpava mil vezes por ter sabotado o jantar que ela quisera tanto preparar sozinha. Quando ele iria parar de assumir que sabia tudo o que era bom para ela? Quando iria entender que ela precisava que ele confiasse nela, e não que ele tentasse protegê-la o tempo todo? Ele vivia dizendo a Anne que ela precisava acreditar em si mesma, e na primeira oportunidade ele dava a entender que não agia como pregava.

Assim, ele tinha que admitir para si mesmo, analisando suas próprias atitudes como era treinado para fazer com seus pacientes, que era um obcecado pela ideia de salvar Anne. Desde que a vira pela primeira vez, desde que soubera de sua história, ele assumira aquela postura de que estaria a frente de qualquer dor que ela pudesse sentir, de qualquer coisa que poderia feri-la como um escudo que não permitiria que ela fosse magoada outra vez, sem perceber em seu ataque de egocentrismo que podia ele mesmo causar tudo isso.

Incapaz de conciliar o sono, Gilbert ajeitou Anne cuidadosamente na cama, se levantou, se vestiu, e saiu do quarto, caminhando pela penumbra do corredor até alcançar as escadas, indo em direção a cozinha assim que atingiu o último degrau. Havia café quente na garrafa térmica que a cozinheira fizera na noite anterior. Não era fresco, mas serviria para ajudá-lo a pensar, pois era provado que a cafeína poderia auxiliar na concentração quando não utilizada em excesso.

Broken Hearts-  Anne with an eOnde histórias criam vida. Descubra agora