catorze

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ARIANA

— Você está atrasada — é a primeira coisa que Natasha diz quando eu puxo uma cadeira sob a mesa para me sentar. 

Depois de acomodada, encaro a estranheza em seu rosto. Parece que ela está olhando para algo que nunca foi visto, e então não sabe muito bem como agir diante disso. 

— Ah — digo, sem muito interesse. — Peguei um pouco de congestionamento vindo pra cá. 

Mas é como se ela não conseguisse absorver minhas palavras. 

— Você nunca se atrasa. Nunca — reforça. 

Solto uma risada. 

— Bom, tem uma primeira vez pra tudo. 

Ela ergue as sobrancelhas, ainda parecendo um pouco perturbada. Eu a entendo, de certo modo. Eu sempre fui uma pessoa que segue um padrão: é extremamente pontual; tem uma lista de regras a seguir; preza o bem coletivo acima de qualquer coisa. E então, quando uma pessoa como eu sai um pouco dos trilhos, isso se torna bastante notável. 

Confesso que contei uma pequena mentira, o que também não é do meu feitio. Eu não enfrentei um congestionamento a caminho do restaurante, mas sim um furacão de nível cinco com músculos e tatuagens. Era para ser apenas um beijo, mas logo o que estava quente se tornou incendiário, e eu não pude conter a vontade de deixar Damien usufruir do meu corpo mais uma vez. As coisas que ele faz com a boca e com as mãos parecem boas demais para serem verdade, e quando ele está por perto, parece que o mundo desaparece ao meu redor. 

Ora, estava todo mundo dizendo o tempo todo que eu precisava seguir em frente e superar o Adam, e é isso o que estou fazendo. Pode não ser a escolha de um caminho mais fácil, mas talvez seja isso que faça tudo valer a pena. 

Vai dar certo. 

Eu sei que vai. 

Está tudo sob controle. 

— Você parece um pouco diferente — os olhos da minha amiga me avaliam cuidadosamente. 

Minha língua fica coçando para contar sobre tudo o que aconteceu nas últimas horas, mas eu fiz uma promessa para a minha irmã de que iria manter esse segredo apenas entre nós duas, e também… acho que Natasha não aprovaria. Eu sei que ela só quer o meu bem, e que ela é a mais liberal de nós duas, mas ainda assim, uma parte de mim reluta. Não quero ser julgada. Natasha ficaria feliz com a possibilidade de eu estar me divertindo com qualquer homem nessa cidade, desde que não seja um dos meus alunos. Não preciso ser lembrada do quanto isso é perigoso, muito menos do fato de que estou fazendo algo imprudente bem debaixo do nariz do meu ex-marido, que por acaso tem o poder de acabar com a minha carreira se ele sequer desconfiar de alguma coisa. 

Relaxa, Ari. 

Tudo vai dar certo, desde que você siga algumas regras e seja cuidadosa. 

— Diferente? — faço-me de desentendida. — Bom, quando eu me olhei no espelho essa manhã, ainda parecia o eu de sempre — dou de ombros. 

Ela se recosta na cadeira e afaga o queixo. 

— Não é isso… não é algo físico. 

— Humm… 

— Ultimamente você tem andado muito triste — insiste ela, sem me dar uma folga. — Mas agora parece um pouco mais relaxada. Até animada. O que aconteceu? 

Merda. Eu deveria encenar um papel de mulher abandonada e triste, mas infelizmente nunca fui uma boa atriz. Não consigo fingir tristeza quando estou mais do que satisfeita, e não quero que esse brilho se apague tão rápido. Quero que ele dure tanto quanto for possível. 

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