ARIANA
Eu sou uma sobrevivente.
Quando eu tinha dezoito anos de idade, sofri um acidente de carro que, à primeira vista, não parecia ter escapatória. Fiquei presa contra o banco do carro por um galho de uma árvore que atravessou o para-brisa e penetrou diretamente a minha barriga. Eu consegui ficar bem, apesar de ter ganhado uma cicatriz que eu carrego até hoje e ter passado meses em recuperação.Ainda mais jovem, aos doze anos, fui diagnosticada com Meningite Pneumocócica, e mais uma vez à beira da morte, eu encontrei uma luz no fim do túnel que me trouxe de volta à vida, apesar de uma sequela ter ficado para trás: a minha visão foi comprometida, e por isso eu preciso de um auxílio por óculos de grau ou lentes de contato.
Então, depois de tantos episódios sombrios na minha vida, esse que estou enfrentando agora não parece grande coisa, apesar de doer mais do que eu estou disposta a admitir. Todo mundo se divorcia, não é mesmo? Isso acontece o tempo todo, em todas as famílias, e eu não estaria imune ao risco.
— Acho que peguei todas as minhas coisas. — Olho por cima do ombro, na direção da voz, e encontro o meu marido… ex-marido, parado na porta da cozinha, segurando uma caixa com seus últimos pertences.
Apenas dou de ombros e volto para a posição inicial, olhando para um ponto vazio, com um olhar igualmente vazio, segurando um copo de uísque. Escuto um suspiro vindo de Adam, o único barulho que preenche o apartamento assustadoramente silencioso.
— Você vai ficar bem? — pergunta ele.
Abro um sorriso cheio de escárnio, mesmo que eu esteja de costas para ele. Bebo um gole do líquido âmbar antes de me virar sobre a banqueta, olhando diretamente naqueles olhos azuis opacos, e respondo:
— Engraçado você me perguntar isso.
Adam suspira mais uma vez.
— Ari — ele tem coragem de me chamar de Ari?! —, eu sei que estamos nos divorciando, mas as coisas não precisam terminar tão drasticamente entre a gente. Podemos resolver isso pacificamente.
Solto um riso sem muito humor.
— É muito fácil para você ir embora, não é mesmo? — Bebo mais uísque, mas continuo olhando para ele.
— Nosso casamento já não estava bem há muito tempo, e você sabe disso — diz ele, baixinho. — Não é culpa sua.
— Não, não é — concordo. — A culpa é toda sua.
— Eu fiz tudo que podia.
Balanço a cabeça, discordando.
— Não, Adam. Eu lutei por nós, por esse casamento, e você ficou sentado lá, assistindo de camarote enquanto tudo o que construímos desmoronava bem aos seus pés — acuso, sentindo meu peito arder com as mágoas que ele causou.
Vejo o exato momento em que ele engole em seco e então desvia o olhar por alguns segundos, como se fosse incapaz de admitir para si mesmo que o fracasso desse casamento está nas mãos dele.
— Eu nunca quis magoar você, Ariana — ele olha para mim, melancólico. — Espero que possamos seguir em frente. Quero que seja feliz.
— Não quero sua preocupação, muito menos a sua pena — meu tom é seco. — Tudo o que eu quero é que você vá embora daqui, que suma da minha vida.
— Entendo — Adam sabe que não é inteligente começar mais uma briga agora. Isso é tudo o que estamos fazendo há meses: apenas brigando. — Bom, apesar de tudo, eu espero que nossas desavenças não interfiram no nosso trabalho. Isso é muito importante.
Odeio a forma como ele me olha, como se eu fosse me descontrolar e fazer algo impensável na frente de todos; como se eu fosse cair de joelhos diante dos pés dele e implorar para ele voltar. Mas ele está muito enganado se acha que vou me rebaixar a tanto, que vou implorar por amor, atenção e carinho. Sou melhor do que isso.
Eu queria que ele desaparecesse, mas a pior parte dessa situação é saber que serei obrigada a olhar para ele todos os dias, já que trabalhamos juntos.
— Eu não brinco com o meu trabalho, e você sabe bem disso — respondo secamente.
— Sei que você é responsável, mas é sempre bom relembrar que nossos problemas ficam apenas entre a gente — seu olhar é solene, e eu tenho vontade de vomitar aos seus pés.
— Entendido.
Ele balança a cabeça, e parece que não há mais nada a ser dito. Passei seis anos casada com este homem, e é engraçado como um cara que eu costumava conhecer desde as manias às alergias, agora se parece um completo estranho para mim. A vida é um poço de instabilidade, em constante mudança.
— Então… até semana que vem — despede-se, e não faço questão de olhar para ele enquanto escuto seus passos ficarem cada vez mais distantes. É quando ouço o clique da porta, denunciando que estou sozinha, que me permito desabar diante das minhas emoções.
Eu me viro novamente para o balcão do bar, e me curvo sobre ele, com o rosto escondido entre os braços, na esperança de que isso disfarce a minha vergonha por estar chorando pelo mesmo motivo mais uma vez. Adam não merece essas lágrimas, mas eu não posso me sufocar até a morte só porque sou orgulhosa demais para admitir que estou sofrendo.
Minha vida estava planejada ao lado dele. Lá no início, quando eu olhava para o futuro, tudo parecia tão perfeito quanto quando começou. Mas a vida não é um conto de fadas. Conseguimos transformar algo belo em uma coisa podre e feia.
Eu sei que ele vai conseguir seguir em frente sem mim, quanto a mim… bom, eu não tenho muita certeza. Será fácil para Adam recomeçar do zero, encontrar uma nova mulher — talvez até mais jovem —, formar uma família… mas parece que o relógio é muito mais cruel comigo. Encontrar um amor com trinta anos de idade é muito difícil. E à medida que o tempo vai passando, formar uma família parece cada vez mais inalcançável — em fatores biológicos, pelo menos.
Então, é isso.
Acho que minha vida amorosa acaba aqui, porque, quem em sã consciência seria capaz de amar uma mulher feito eu?
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Estou mais uma vez de volta com uma estória inédita! O prólogo é apenas a cereja do bolo, e a partir do primeiro capítulo vamos poder nos aprofundar melhor sobre o que realmente importa, por isso comentem bastante e favoritem também; não sejam leitoras fantasmas. A opinião de todas vocês, sem exceções, significa muito para mim.
Nos vemos em breve. Beijos da Milly. 🌠
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PROIBIDO • COMPLETO
RomanceAriana, uma mulher que sempre acreditou no amor, vê o seu mundo desmoronar ao enfrentar um divórcio tempestuoso com o homem que a prometeu perante o altar o tal sonhado "felizes para sempre". Aos 30 anos de idade e com o coração partido, ela acha qu...