dezenove

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ARIANA

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ARIANA

É tão estranho estar sob esse piano novamente. Lembro-me de quando Adam tocava para mim, comigo ao seu lado, sua música favorita de Bach. Eu ainda me lembro da expressão em seu rosto, da forma como ele se entregava à música e me olhava de canto de olho, um sorriso brincando no canto da boca. Parecia a imagem mais bonita do mundo — eu amava quando ele tocava, porque parecia só para mim. Eu estava tão apaixonada naquela época, e tudo parecia tão perfeito, que eu nem podia imaginar que as coisas acabariam tão tragicamente. 

E agora, aqui está Damien, ocupando o mesmo lugar onde Adam costumava sentar. Seu rosto está banhado pela luz noturna que adentra pela parede de vidro, com a cidade de San Francisco piscando em diferentes cores atrás de suas costas. Isso só me faz perceber uma coisa muito importante: ninguém é insubstituível. Algumas pessoas ocupam diferentes espaços na sua vida, e são importantes de diferentes maneiras, em momentos diferentes, mas nada dura para sempre. 

— Confesso que estou um pouco enferrujado — diz Damien, com um sorriso tenso. — Peço desculpas desde já se eu desafinar um pouco. 

— Não seja bobo — abro um sorriso encorajador. — Vamos lá, toque alguma coisa pra mim. 

— O que você quer ouvir? 

Decido provocá-lo. 

— Que tal… Beethoven? 

Ele ergue o queixo em sinal de arrogância. 

— Que foi? Acha que não sou capaz? 

Dou de ombros, fazendo pouco caso. 

— Entendo que Beethoven pode ser um pouco demais para algumas pessoas — caçoo. 

Damien enlaça os dedos e projeta as palmas das mãos para frente, estalando os dedos. 

— Pois bem, engraçadinha. Você vai escutar o melhor cover do Beethoven até agora, e isso é uma questão de honra. Preparada? — pergunta, cheio de suspense. 

Dou risada e empurro o ombro dele com o meu. 

— Vamos logo, seu bobo. 

Ele me lança um leve sorriso e, depois de uma breve pausa, "Moonlight Sonata", de Beethoven, começa a preencher a sala de estar, suave, intensa e tocante. Meu sorriso vai sumindo até desaparecer completamente, e eu olho para ele, ali, tão entregue à música, e sinto sua emoção tomar conta de cada célula minha. Damien toca lindamente. O que ele falou sobre estar enferrujado e desafinado é uma completa blasfêmia, pois ele parece saber exatamente o que está fazendo, e um homem com aparência selvagem, de repente, se tornou um homem delicado e sereno. 

Estou completamente embasbacada. 

Quando as últimas notas soam, ressoando pelo eco do apartamento até desaparecer completamente, somos inundados pelo silêncio e uma profunda emoção. Damien vira o rosto na minha direção, me observando atentamente, e então abre um sorriso quase imperceptível. 

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