capítulo trinta

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— Ganhei dois cupons num sorteio da faculdade, acho que nunca tive tanta sorte na vida. — Respondeu Seonghwa entre risos, após a pergunta de Jeongin sobre como ele havia conseguido cupons para um rodízio de sorvete. A garota riu baixinho, assentiu e lambeu a generosa bola de sorvete sabor menta com chocolate. 

— Não fale assim, pode acabar ficando com azar mesmo! — Brincou. 

Os jovens estavam caminhando de volta para casa após um bom tempo entupindo-se de sorvete. Talvez fosse a dopamina, ou a serotonina, mas Jeongin finalmente sentia o humor mais leve. Sendo sincera consigo mesma, vinha sentindo isso nos últimos dias, enquanto estava com o Park. Ele era mesmo um bom amigo.

— E então? Acha que a nuvem cinzenta ainda está seguindo você? — O rapaz questionou, apontando para cima da cabeça da menor com a mão que não segurava a casquinha de sorvete de chocolate branco com morangos.

Choi riu baixo, lambendo um canto da casquinha onde escorria sorvete.

— É, acho que já foi embora. — Desviou o olhar dos próprios pés para o mais velho, em seus lábios pairava um pequeno sorriso sereno. — Obrigada, Seonghwa. Pelo sorvete, pela generosidade e pela boa companhia.

— Não tem de quê, também gosto da sua companhia. Fico feliz que tenha conseguido aliviar ao menos um pouco do que estava te preocupando e posso ajudar outras vezes, se for o caso. — Deu de ombros de maneira simplória.

— Eu agradeço, mas espero não ter que lidar mais com isso. É desgastante. O pior é sentir constantemente que tudo pode piorar ainda mais, se é que é possível.

— Olha, Jeongin, é normal pensar assim quando estamos bem no olho do furacão, mas não significa que vai acontecer mesmo.

— É, só que eu sinto, sabe? Não sou de acreditar em "sentir" e tudo o mais, mas é quase sufocante.

Park parou de andar e virou o corpo todo. Choi, embora sem compreender, fez o mesmo. Só de olhá-lo nos olhos, parte de sua apreensão se esvaía. Como era possível?

— É um caso de vida ou morte? — Parecia brincadeira, mas o semblante de Seonghwa estava bem sério. Jeongin negou com um gesto de cabeça. — Então, se piorar, não vai ter muito o que fazer além de enfrentar o problema, certo? O mais grave que pode acontecer com você é fazer um ferida, mas feridas viram só cicatrizes depois.

— Tudo só vem acontecendo por causa de uma ferida que não tinha sarado ainda. — Retrucou preocupada.

— E se este for o seu processo de cicatrização?

Uma simples frase foi suficiente para fazer a mais jovem cair em mudez e reflexão pronfundas. Fazia muito sentido, já que até hoje Jeongin considerava-se uma romântica incurável, sobretudo em se tratando de Jeong Yunho. De repente, uma faísca de esperança surgiu em seu coração, de que finalmente ela poderia ver a si mesma livre de um sentimento que a aprisionava.

— Já pode começar a cobrar por conselhos. — Ela disse, após minutos de silêncio, o que levara o rapaz a soprar um riso fraco. 

— É muita responsabilidade cuidar da vida dos outros assim, não acha? — Inquiriu, voltando a caminhar junto da menor.

— Bem, considerando que você estuda pra ser um neurocirurgião, acho que cuidar da vida das pessoas é assumir riscos bem menores. — Deu de ombros e fechou brevemente os olhos para desfrutar do último pedaço de casquinha com sorvete. Seonghwa tornou a rir, no entando concordou com Jeongin.

— Tem razão, acho que preciso repensar minhas escolhas. — Continuou a brincar.

Depois disso, não demorou muito a chegar em casa. Ambos entraram, subiram de elevador e se despediram antes de entrarem em seus apartamentos. Agora a Choi sentia que podia enfim respirar sem parecer que estava dentro de uma panela de pressão em plena atividade.

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