epílogo

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Com passos pesados e largos, o familiar destino ficava cada vez mais próximo. Jeongin não costumava correr por aí, mas era realmente por um ótimo motivo. 

Ao passar pelas portas do Greem Cafe, parou bruscamente, seus olhos fazendo uma sucinta busca pelo ambiente. Alguém acenando com o braço erguido chamou sua atenção e logo um sorriso largo tomou seus lábios. Seu coração estava acelerado, mas, com certeza, não era por causa da corrida.

— Ei, você está ofegante. Veio correndo? — Indagou o rapaz, com um lindo sorriso no rosto e um leve tom de preocupação na voz.

— É, eu... eu vim sim. — Soltou um riso soprado, um tanto envergonhada por estar tão óbvia sua condição.

— Então já sei que tem boas notícias pra me dar. — Disse animado, servindo à garota um copo d'água, o qual ela logo atacou, como se tivesse passado dois dias inteiros no deserto do Saara. 

O sorriso da Choi alargou-se tanto que fez suas bochechas doerem. Ele riu. Em seguida, Jeongin ajeitou a postura e pôs as mãos sobre a mesa.

— Seonghwa-yah, eu passei. 

— O quê?! Não brinca! — Arregalou os olhos. — Não que eu esteja surpreso, tinha certeza que você iria conseguir... parabéns, Jeonginnie! — Esticou a mão, afastando alguns fios rebeldes de sua franja, depois apertou levemente uma de suas bochechas, que estava quente e bastante corada, talvez por causa da corrida recente. 

Park não afastou a mão, mas a deixou repousando ali por algum tempo.

— Obrigada. — Riu, meio sem jeito, apoiando o rosto na palma da mão alheia, involuntariamente.

— Então quer dizer que já estou falando com a futura doutora Choi Jeongin? — Brincou, arrancando mais uma risada da mais nova, que assentiu. — Estou orgulhoso de você, e tenho certeza de que sua família também!

Afastou a mão e direcionou o olhar ao balcão. Poucos segundos depois, um garçom aproximou-se, trazendo numa bandeja uma linda fatia do tradicional bolo de massa branca com recheio de brigadeiro branco e morangos — estava coberto por finíssimas linhas de ganache, o que o fazia parecer mais uma peça incrível daquele cenário bidimensional, que era a marca registrada do Greem Cafe.

— Me adiantei e pedi o seu. — Disse o rapaz, servindo-a gentilmente de um pouco mais de água. 

—Obrigada. — Sorriu, conforme pegava o garfo para começar a comer. Havia passado a semana sonhando com aquele bolo. 

— Jeongin-ah? — O mais velho chamou e esperou até que ela desviasse o olhar em sua direção. — Sei que hoje é um dia muito especial pra você e eu não queria... ofuscar o brilho dele, de alguma forma, mas sabe qual é a data de hoje?

Choi juntou sutilmente as sobrancelhas sob a franja bem cortada. Pegou o celular e ligou a tela. 

— Hoje é 14 de junho. — Respondeu, erguendo o aparelho para que ele pudesse ver.

Park assentiu, com um pequeno sorriso nos lábios, depois colocou uma caixinha vermelha com detalhes dourados sobre a mesa. Jeongin alterou o olhar rapidamente, entre ele e o objeto. Ele soltou um risinho soprado e empurrou a caixa em sua direção, encorajando-a a pegar. 

— O que é isto? — Indagou, contudo não obteve resposta. Voltou-se para Seonghwa mais uma vez, com um olhar desconfiado, sua expressão era serena, mas ela o conhecia bem agora, sabia que estava aprontando alguma coisa. 

Quando finalmente abriu a caixeta, foi surpreendida por um deslumbrante bracelete dourado. Na verdade, não era qualquer bracelete, ela sabia. Aquela joia vinha tornando-se popular entre os casais nos últimos tempos, sob a marca da Cartier, por ter uma chave que ficava com a pessoa que dava o presente, como um símbolo de confiança e amor. 

Jeongin entreabriu os lábios ao puxar o ar, embora não conseguisse dizer nada. 

— Você sabe, não é, o que significa o dia de hoje?

Óbvio de que sabia. 14 de junho, ou "Kiss Day", era o dia em que os casais confessavam seus sentimentos um pelo outro, depois trocavam um beijo — ou até mais de um, claro. 

Não havia espaço, sequer, para ficar confusa. Seonghwa estava sendo bem direto e até pensou que pudesse assustá-la assim, no entanto, sentia, ao mesmo tempo, que este era o momento certo. 

— S-sei. — Ela respondeu, por fim, com os olhos fixos à joia. Seu coração estava acelerado. — Não posso aceitar uma coisa tão cara. — Murmurou, colocando a caixa vermelha sobre a mesa.

— Você não muda, não é? Está sempre rejeitando meus presentes. — Comentou, de maneira descontraída.

— N-não é isso...

O moreno sentiu a tensão que emanava da mais jovem, então apoiou os cotovelos na mesa, aproximando-se dela, e manteve-se fitando-a, mesmo que seus olhos estivessem presos ao bracelete. 

— Há duas coisas que não se pode guardar por muito tempo: uma bomba e os sentimentos. A bomba por motivos óbvios... — Deu de ombros, soltando uma risada fraca, que contagiou a Choi. — ... e os sentimentos porque, bem, nunca se sabe quando podem ser retribuídos. Ou ainda, porque, assim como a bomba, podem causar um grande estrago depois de muito tempo. Então, pra evitar uma catástrofe, eu prefiro que saiba dos meus sentimentos, Jeongin. 

Jeongin puxou o lábio inferior entre os dentes, olhou mais uma vez para a pulseira brilhante, perfeitamente ajustada no veludo preto do interior da caixa, depois para Seonghwa.

— De forma alguma eu quero pressioná-la, só estou dizendo o que já está claro: eu gosto de você, Choi Jeongin, e meu posicionamento não mudou. Posso esperar quanto tempo for necessário, mesmo que as coisas não saiam como eu gostaria, no final. — Esboçou um sorriso sincero, bem como não demonstrava qualquer ressentimento naquela fala.

Já fazia mais de dois anos desde a primeira vez que ele havia dito que a esperaria, e estava mesmo esperando pacientemente, sem ficar o tempo todo pressionando-a a dizer alguma coisa, sem invadir seu espaço, sem fazer joguinhos de quaisquer tipos. Exceto pela ocasião, o assunto não era uma surpresa para Jeongin, que até já tinha pensado antes a respeito. No fundo, talvez fosse exatamente isso que estivesse aguardando. 

 — Não quero que espere mais. — Disse, por fim. Park assentiu, fazendo menção de pegar a caixinha, porém ela logo segurou seu pulso, impedindo-o. Seus olhares encontraram-se diretamente, revelando a leve confusão na feição do maior. — Eu não me expressei bem, desculpe. — Relaxou o aperto sobre o pulso alheio, em seguida, ele afastou a mão. — Não quero que espere mais... — Pegou a pequena chave comprida, que vinha junto da pulseira, e estendeu em sua direção — ... porque finalmente estou pronta pra aceitar os seus sentimentos.

Seonghwa não conseguiu esconder a surpresa em ouvir aquilo, embora fosse tudo o que mais quisesse ouvir naquele dia. Assim, tomou o ítem com delicadeza e a olhou.

— Choi Jeongin, me daria a honra de ser a minha namorada?

Jeongin lhe ofereceu o braço direito em resposta. Com a outra mão, ele pegou a pulseira, envolveu em seu pulso e fechou a abotoadura com a chave. 

Sorrisos radiantes brotaram ao mesmo tempo em seus rostos, era um dia duplamente importante para ambos. Park, então, aproximou-se e selou os lábios da mais nova.

Choi, diferente de antes, não sentia os tremores, nem as borboletas na barriga, ou o coração acelerado, apenas tranquilidade e alegria. Se se concentrasse um pouco mais, tinha a impressão de que conseguiria ouvir uma linda harmonia sinfônica ecoando no ambiente para fazer a trilha sonora de um momento tão especial. Tudo estava perfeito. Enfim, Jeongin estava prestes a provar de um amor que a deixaria segura. 

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