capítulo vinte e quatro

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Pela janela semiaberta uma brisa fina e gélida adentrava o cômodo, enquanto Yunho alternava o olhar entre o teto e o filme fotográfico nas mãos. A expiração era quase imperceptível, mas ele deixou com que um suspiro denso escapasse de seus pulmões.

Não importava quantas vezes tentasse desprender da lembrança, ela sempre vinha à tona. Yunho sentia-se no olho de um furacão, cercado por centenas de pensamentos e sentimentos, um mais confuso que o outro.

Também refletia sobre a forma com que Jeongin deixou a festa, desde então a preocupação de que ela não quisesse mais falar consigo o rondava como um predador feroz. Agora que estavam se aproximando, tudo o que Yunho não queria era voltar à estaca zero, quando só se falavam por educação.

— Oi, desculpa, eu não estava em casa, vim assim que deu. — O timbre grave de Mingi trouxe de volta a realidade, fazendo Jeong desviar a atenção para si. — O que queria falar comigo?

Yunho sentou no colchão, o olhar era distante e continha algo de hesitação. Por isso Song Mingi deu passos largos em sua direção com o semblante curioso.

— É que eu... isso é batom? — Ergueu uma das sobrancelhas, fitando o contorno rosado sobre uma das bochechas do amigo, que franziu o cenho confuso. — Na sua bochecha. É batom?

Song tocou o local e arregalou os olhos ao ver a mancha do cosmético em seus dedos. 

— É-é, é batom. Da minha mãe. — Comentou entre risos, enquanto esfregava a pele para retirar a marca.

— Achei que não estivesse em casa. — Retrucou Yunho, encarando-o de maneira um tanto acusatória.

— E-eu não estava em casa, mas estava com a minha mãe. Por que me chamou? 

Jeong puxou o ar para dentro, mas não expirou. O nervosismo voltava a subir por seu corpo.

— Beijei ela. — Disse de uma vez, como alguém que arranca um curativo de uma ferida. 

— Mandou mensagem dizendo "venha me ver, urgente!!!" pra dizer que beijou alguém? — Mingi soava decepcionado, afinal, haviam três pontos de exclamação na mensagem e aquilo não era nada demais. —  Enfim, já que estou aqui, quem seria "ela"?

Yunho resmungou baixinho, pois dizer em voz alta era mais difícil do que parecia. 

— A Jeongin. — A resposta curta e diretiva demorou alguns instantes para ser assimilada por Mingi, que foi mudando a expressão gradativamente, de desinteressado a surpreso. 

— Jeongin? Choi Jeongin? Irmã do San e do Jongho? — Indagou, certificando-se de ter ouvido certo. Quando Jeong assentiu, ele tapou a boca com uma das mãos, visto que era algo mais do que inesperado. — A Jeongin...

— É, Mingi, essa Jeongin. — Revirou os olhos. 

Um silêncio recaiu sobre eles e perdurou por alguns instantes constrangedores até Song tomar a palavra outra vez.

— Quando isso aconteceu?

— Hoje, na festa. Inclusive, não te vi lá.  

— Eu estava... ocupado, mas não importa agora onde eu estava. Como aconteceu? 

— Tinha uma cabine e fomos tirar fotos. Quando me dei conta a gente já tinha...

— Isso não faz o menor sentido. Nunca vi a Jeongin em festas assim antes e, fotos? Por que estavam tirando fotos? Vocês nem... — Mingi interrompeu a própria fala por um segundo, como se lembrasse de algo. — O San viu?

— Por que sempre perguntam do San? Ele não é dono da Jeongin. Quanto às fotos, foi espontâneo. A gente só achou que seria legal. — Deu de ombros, apesar de parecer que uma pressão absurda os empurrava para baixo. 

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