capítulo trinta e seis

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— Jeongin? Jeongin? Choi Jeongin! — A voz da mulher adentrou os ouvidos da menina, chamando sua atenção. — Ça va?

— O-oui, professeure, ça va bien.

— Hm. Preste bem atenção. Se precisar, pode sair.

— Desculpe. — Murmurou, curvando brevemente a cabeça.

A aula de francês sequer estava perto de terminar, Jeongin ainda teria que ficar um bom tempo fora de casa, de toda a proteção e zona de conforto que gostaria naquele momento. De longe, as coisas não correram muito bem na escola. Pela primeira vez na vida apenas ela, Jongho, Yeosang e Daminjin iam juntos no caminho, San ia mais cedo para não esbarrar com eles, enquanto Wooyoung, Yunho e Mingi nunca mais puseram os pés no prédio. Além disso, as únicas vezes que alguém resolveu falar alguma coisa, foi Daminjin tentando quebrar o clima — de fato, apenas tentando — que os perseguia como uma névoa assombrosa.

Como sempre, foi horrível notar que os olhares ainda a perseguiam aonde fosse. Ela nunca havia parado pra discernir o que cada um deles transmitia, sentia-se como um rato numa gaiola, sendo friamente analisado. Até o ar puro, fora dos muros da escola, parecia sufocá-la, porém o pior, sem dúvida, era ver Wooyoung de longe e não ter a menor brecha para se aproximar. Poderia uma amizade tão longa acabar assim? Que injusto.

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Quando chegou em casa, o primeiro rosto a recebê-la — não no sentido receptivo da palavra — foi San. Desde o dia da grande briga mostrava aquela cara de desgosto ou desaprovação, toda vez que a via. Tinha parado de ser doloroso e passado a ser irritante, por isso ela apenas passou direto, sem dar muita atenção.

Tomou seu banho pós-aula, retornou ao quarto e sentou à escrivaninha. Jongho saíra com os amigos e o silêncio do quarto era mórbido. Resolvendo abrir a janela para — tentar — não se deixar abater pelo clima deprimente, deparou-se, ao abrir a cortina, com outro recadinho colado com fita no prédio oposto. Yunho não desistia e, segundo o próprio, nunca o faria. Um dia depois de ter causado toda aquela confusão, ele decidiu que iria deixar um pedido de desculpas na janela todos os dias, para que Jeongin pudesse sempre vê-los, já que também tinha decidido não lhe dirigir mais a palavra.

As bordas de seus olhos trêmulos encheram-se de lágrimas. Não parecia tão legal estar na pele de uma das personagens dos diversos romances que costumava ler. Às vezes Jeongin questionava se, algum dia, aquela história teria um bom desfecho. Esse é o desfecho. — repetia para si mesma, todas as vezes em que seu coração balançava, como uma casinha da palha em meio a um terremoto, com os recadinhos na janela.

Num gesto instintivo, a garota puxou a cortina de volta e saiu do quarto a passos largos. Quanto mais tempo ficasse ali, mais tempo seria gasto pensando em coisas que não valiam a pena.

[...]

— Choi Jeongin, pode distribuir essas caixas entre as salas, por favor? — Pediu um dos professores, apontando para algumas caixas de papelão dispostas no chão. Em suas mãos também havia duas caixas.

— Claro, senhor. — Assentiu, curvando-se para o maior.

O professor deixou a caixa empilhada sobre as outras e saiu após um sorriso de agradecimento.

Era o dia da Feira Anual de Ciências. Toda escola entrava numa grande comoção, a participação era obrigatória. No período da manhã, as turmas se preparavam e preparavam suas salas para a apresentação que ocorria à tarde.

Olhando de lado, Jeongin aquela pilha de caixas, pensando como poderia pegar o máximo possível sem derrubar e sem ter que fazer várias viagens pra deixar nas salas. Não são grandes, talvez dê para pegar quatro ou cinco de uma vez — pensou consigo mesma. Então, abaixando-se, pegou cinco caixas. Era um pouco mais pesado do que imaginara. De repente ela se imaginou catando dezenas de folhetos caídos no chão.

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