Hipnotizada

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"Obrigada."

Foi a resposta que dei para as paredes bege do quarto.

Padre Oskar, que estava tão preocupado comigo, me ignorou completamente assim que o doutor David foi embora.

Ainda não acreditava que ele piscou pra mim na frente do padre mas não negava que ele era adorável.
Loiro, altura mediana, branco dos olhos castanhos claros e um porte que dava inveja a muitos homens e com certeza faziam com que as mulheres fizessem fila para estar com ele.
Por um momento me senti tentada a flertar com ele mas assim que o padre entrou, toda a beleza de David se tornou tão comum.

Ao contrário da aparência de um modelo alemão que era o de David, padre Oskar era moreno, tão alto que eu pensava que talvez teria o dobro do meu tamanho, seu porte não era tão forte quanto de David que obviamente passava horas na academia enquanto duvidava que um padre frequentasse tal lugar, mas ele era largo, seus ombros davam poder ao seu físico. Diferente de David que tinha o cabelo quase amarelo, Oskar tinha os cabelos pretos que contrastavam com seus olhos azuis intensos. E sua boca...

Ri de mim mesma pelos pensamentos, não era puritana, longe disso, mas ele era um padre, pelo amor de Deus!

Me deixei cair num sono com sonhos onde começavam turbulentos comigo em um carro desgovernado e terminava com o padre me salvando e me beijando.
Quando me levantei, já estava escuro, me fazendo acreditar que eu havia dormido o dia todo. Estava mesmo cansada e talvez a pancada na cabeça tinha sido realmente algo a se preocupar.

Tomei um banho e vesti um dos meus pijamas, um vestido baby doll que mal chagava ao meio da coxa, amarelo surrado, de alcinhas. Calcei os chinelos que a madre me dera e amarei os cabelos em um coque frouxo.

Sabia que não dormiria essa noite então fui para a cozinha do convento e me servir de suco de uva que estava dentro do armário e provavelmente não era permitido abrir.
Me sentei na escuridão e me deixei levar pelos últimos acontecimentos. Minha mãe havia morrido, minha única família, estava sem um teto e sem trabalho, encontrei uma madrinha que nunca tinha ouvido falar, estou morando num convento que apenas um pátio o separava da igreja. Estava conhecendo freiras e descobrindo que nem todas eram anjos e que nem todos os padres eram...velhos.
Lembrando do breve beijo que troquei com o padre em meu sonho, fiquei desnorteada com a sensação que uma simples ilusão era capaz de causar em meu corpo e me levantei. Um pouco de ar fresco me faria bem.

Ainda com o copo de suco, me dirigir ao pátio e já ia me sentar quando vi uma sombra se aproximando. Já era tarde e todas já estariam dormindo. Engoli seco.

"Quem está aí?" Minha voz não saiu tão limpa quanto eu queria. Talvez por ter dormido demais.

A sombra tomou forma e vi o padre Oskar vindo em minha direção com suas sobrancelhas encurvada em questionamento.

"O que faz aqui a essa hora, Maine?"
Reparei que ele está com alguns livros nas mãos.

"Eu..." Agora tão perto de mim, seu cheiro de hortelã e madeira me fizeram esquecer das palavras mas fiz um esforço para não parecer idiota. "Eu acordei agora. Não acho que vou dormir tão cedo... pa-padre." Acrescentei rapidamente a última palavra, sem jeito.

"Você se acostuma." Disse ele, sorrindo.

"Como?!" Apesar de não ter entendido, não corresponder ao seu sorriso não era uma opção.

"Me chamar de padre, ou senhor. Você se acostuma." Ele deveria passar muito por isso, já que não parecia chateado e sim achando certa graça.

"Você, digo, o senhor é muito jovem." Me justifiquei com um sorriso desconcertante, me lembrando do sonho impróprio.

Padre NossoOnde histórias criam vida. Descubra agora