Pensando nela

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Estive ocupado o dia todo, graças aos céus, e me distrair um pouco da visão de Maine com aquele vestido andando por todo o pátio da igreja.
Eu sentia ela me procurando com os olhos a todo o momento mas tentava ignorar.
Uma queimação na boca do meu estômago começou assim que vi o médico junto dela. Tentava me convencer que eram bonitos juntos mas a queimação só aumentava e tive que admitir que estava sofrendo de ciúmes. Me entristeci na hora. Depois de dez longos anos servindo ao Senhor, passando por diversas dificuldades, tanto físicas quanto mentais, até mesmo burocráticas, eu fui caí em algo tão bobo quanto a paixão.
Ela era linda, de fato, mas eu já havia visto inúmeras belezas pelo mundo. Por que agora? Por que ela?
De todos os momentos difíceis que já passei, estar preso entre os braços dela, em um quartinho minúsculo, olhando seus olhos molhados olhando minha boca, definitivamente não imaginava passar por isso.

Ela se aproximou o suficiente de mim enquanto sua mão subia pela minha nuca e adentrava em meus cabelos. Inconscientemente, soltei um gemido rouco e involuntariamente apertei suas coxas por cima do vestido.

"Padre." Sussurrou próximo a minha boca.
Isso era tão errado mas era tão tentador.

Maine estava rendida e o furor em seus olhos havia a deixado. Ela não tentava me beijar como tinha parecido no início, agora ela queria que eu conduzisse.
E tudo porque eu tinha apertado suas coxas.

"Por favor." Ela não sabia exatamente o que pedia, mas eu sabia.
Eu sabia porque também queria.

Suas mãos agora estavam em meu peito e eu temia que ela pudesse sentir o descompasso do meu coração.

"Padre Oskar, o senhor está aí dentro?"

Os olhos de Maine se arregalaram assim que ouviu a voz da madre Fátima.

"Sim, estou." Maine olhou pra mim com pesar.

Sim, querida, isso não pode continuar.

"Maine também ficou presa comigo." Minha voz estava irreconhecível, parecia que tinha corrido uma maratona.

"Oh, Maine, você está bem?" Maine tentou falar mas tudo que saiu foi um "sim" que eu não teria ouvido se não estivesse de frente pra ela.
"Eu devo ter esquecido as chaves em algum lugar, estou mais velha do que pensava. Já vou tirar vocês daí."

"Não se preocupe, madre, estamos bem. Mas agradeceria se se apressasse."

"Claro." E os passos da madre foram se afastando apressadamente.

"Não pode mais negar, padre." Ela voltou a colocar as mãos em meu peito. "Me deseja como eu desejo o senhor."

Tirei as suas mãos e dei um passo para trás. A visão de Maine sentada no banquinho alto, de vestido e com o olhar em chamas não me ajudou.

Meu Deus, não me abandone agora.

"Sim, eu te desejo. Pela primeira vez na minha vida, eu desejo uma mulher." Estava dando informação a mais mas esperava que ela não tivesse percebido. "Mas há um desejo em minha alma que se sobrepõe ao meu desejo por você." Seus olhos encheram de lágrimas e eu tive que ser forte pra continuar. Apontei para uma cruz que tinha na porta pra enfatizar minhas próximas palavras. "Meu trabalho! Este caminho não é fácil, mas Maine, eu vou até o final. Então... não ouse fazer algo assim de novo. Não me tente mais, não tente nunca mais me beijar. Não se atreva, Maine! Não se atreva."

As lágrimas agora rolavam em seu rosto rosado e eu me amaldiçoei por isso.

"Não quero magoar você. E é por isso que peço pra você ficar longe. Não faça mais isso conosco, anjo."

Ela imediatamente parou de chorar e eu entendi o meu erro.

Anjo.

"Seu Deus discorda do amor, padre?"

"Do que é que você está falando? Não existe amor aqui. Não desse jeito."

Maine pulou do banco e suas pernas vacilaram mas eu a agarrei rapidamente.
Suas mãos seguraram meus ombros e meus braços se fecharam facilmente em sua cintura fina.

"Ah, não? Não existe mesmo? Pode provar o que acaba de dizer?"

"Por favor, Maine..."

Mas ela não me deixou terminar. Sua boca colou na minha.
Na verdade muitos outros pontos estratégicos do seu corpo se colaram ao meu. Tentei afasta-la mas não com muita convicção.
Sua boca se moveu na minha e eu cometi o erro de separar meus lábios.
Sua língua entrou e eu não pude mais me conter. A beijei com vontade e ela gemeu, segurando em meus cabelos enquanto eu subia as mãos em suas costas. Nossos lábios eram perfeitos juntos, em sincronia, como se o céu estivesse nessa junção.
Os seios de Maine subiam e desciam, suas pernas estavam coladas à minha e eu não conseguia pensar em mais nada a não ser nela. Nada do que fazíamos era o bastante para estar mais juntos, mais colados. Éramos língua, lábios, mãos e pernas, e mesmo assim não era o suficiente.

Um 'click' estalou e nos desgrudamos enquanto a maçaneta rodava. Rapidamente Maine retirou o batom levemente borrado enquanto eu me virava pra arrumar os cabelos e...bem, o volume nas calças.
Eu tinha trinta anos, acordei muitas vezes assim mas nada que uma corrida não aliviasse. Agora, duvidava que umas voltas no quarteirão resolvesse esse desastroso doce problema. E que doce! Enquanto a madre entrava, Maine saiu rapidamente e eu continuava de costas.

"Padre? O que aconteceu com ela?"

Respirei fundo e pensei, não em uma mas em várias mentiras, uma melhor que a outra. Me virei pra responder e o que saiu foi:

"Ela me beijou."

"O que?!"

Mentir não era difícil, mas pra mim, não era algo natural.

"Padre, essa menina enlouqueceu? Por favor, deixe que eu resolva, vou lhe dar um castigo que ela nem conseguirá mais olhar para o senhor!"

"Não, por favor, não faça nada. Ela é claustrofóbica, ficamos muito tempo presos e ela não estava pensando com clareza."

"Com certeza não estava!"

"Madre, isso não vai se repetir, não se preocupe, sei que ela virá se desculpar e eu aceitarei suas desculpas e a aconselharei a começar a uma vida de oração."

E eu, dobraria minhas orações e começaria um jejum rigoroso nesse exato momento.

Sai daquele lugar e sentir o ar enchendo os meus pulmões. A festa ainda estava animada, apesar de já está escurecendo. Fui para o pátio mais afastado da festa e me sentei no banco de concreto de frente para um pequeno chafariz e orei.

Com muita dificuldade conclui a oração. O que sempre foi tão fácil pra mim se tornou conturbado com as imagens dela olhando pra mim, seus sons, seu cheiro. E o pior de tudo, seu sabor.
Não sabia o que Deus queria de mim mas sabia que havia um propósito pra tudo isso.

E eu só comeria novamente quando Ele me dissesse o porquê.

Padre NossoOnde histórias criam vida. Descubra agora