Desejo mútuo

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Não era santa, longe disso. Sempre fui impulsiva e fiz muita besteira na vida mas desejar um padre estava longe dos limites, até mesmo pra mim.
Só que estarmos presos no meio do nada, em um carro pequeno e ver o segundo botão da camisa do padre ser desabotoado pelo próprio, não estava me ajudando em nada.

"Que tal irmos andando?"

"São quilômetros de distância, Maine, e o sol não vai ajudar." Ele mexeu mais um pouco no celular e um suspiro frustrado indicou que o sinal não tinha voltado. "Se eu estivesse sozinho, isso seria mais fácil."

Ai.

"O que quer dizer com isso?!"

Padre Oskar percebeu que a última frase não foi só um pensamento.

"Não me leve a mal, é que eu estou acostumado a andar em situações precárias. Não posso te deixar aqui, ficaria muito tempo sozinha e anoiteceria. Também não acho boa ideia te arrastar pra andar por tanto tempo..."

"Não vou te atrasar, padre, não se preocupe."

Antes de dar a chance dele responder, saí do carro e bati a porta, andando mata a dentro.

"Maine!" Andei mais rápido, sei que estava fazendo birra mas desde o começo sentia que ele não me queria por perto. Não sabia o porquê. "Maine! Vamos continuar pela estrada. Assim vamos nos perder. Maine!"

"Que tal cada um seguir seu caminho daqui em diante?" Sentia o amargor dominar minha voz.

Com passos largos ele me alcançou e pegou no meu pulso para me fazer parar.

"O que há com você? Eu disse algo que te ofendeu?"

Sim, disse. Mas esses olhos me fizeram esquecer temporariamente o quê.

"Só parece que você não me quer por perto..." E isso me matava.

"Céus...!" O padre levou as mãos a nuca e sorriu como se não achasse realmente graça.

"Você nega?" Seus olhos pairou sobre mim como um gavião.

"Senhor, Maine, é senhor! Até você entender isso, eu acho sim que devemos manter distância."

"Então é isso? Eu te chamo de você e sou excluída do seu rol de amizade?"

"Não ponha palavras na minha boca e não, eu não faço amizade com essa facilidade, eu não sou seu amigo, posso ser seu mentor se permitir mas é só." Dei as costas pra ele mas ele continuou, e isso me fez parar. "Eu te quero sim, por perto, só não acho certo. Não por enquanto..."

"Por que?" Diminuir a voz, assim como ele.

"Maine!"

O alerta em sua voz era clara, ele não queria ser forçado a falar, mas eu não pude evitar e me aproximei dele até que as pontas dos nossos pés eram as únicas coisas que nos separavam.

"Por que, padre?"

Intermináveis segundos se passaram até que ele falou.

"Eu vejo como me olha. Sei que me segue com o olhar e faz tudo para estar perto de mim e isso é errado e você sabe."

A sinceridade que eu tanto admirava nele me machucou, mas não havia ninguém mais sincera do que eu e eu também iria jogar o que tava no meu coração.

Padre NossoOnde histórias criam vida. Descubra agora