Tentação

1.4K 81 17
                                    

Ela me olhava de um jeito que me deixava louco. Andando lentamente até mim, ela deixou cair sua blusa, depois desabotoou sua calça torturosamente devagar até que estava parada na minha frente com apenas uma calcinha fina e um sutiã de renda, ambos pretos.
Ela passou a mão no meu abdômen por cima da camisa e me empurrou, me fazendo cair na cama.
Maine se ajoelhou e abriu o zíper da minha calça enquanto olhava nos meus olhos e sorria.
Meu membro pulsava e eu já sentia seus dedos me envolverem quando ela me chamou e de repente parou.

"Não para." Sussurrei. Mas já era tarde demais.

"Padre! Padre Oskar!" Abri os olhos dando de cara com uma Maine com cara de sono e um celular, o meu celular, tocando. "Alguém deve estar te ligando."

Sua voz estava fraca de sono e seus lábios inchados. Seus cabelos desalinhados me davam vontade de arrumá-los. Deus, ela estava linda, como um anjo.

"Não, é só meu despertador, desculpe." Minha voz também estava rouca e eu esperava que fosse de sono também.

"Despertador? A essa hora?"

Me levantei e desliguei o alarme.
Eu dormira na poltrona reclinável e Maine na cama de casal.
Não confiei deixar Maine sozinha em um quarto no andar de baixo, onde era o outro único quarto disponível, então pedi que ela ficasse comigo, o que ela prontamente aceitou, o que me deu um certo alívio mas também me incomodou um pouco.

"Eu acordo todos os dias as 5 da manhã para orar. Volte a dormir, vou orar baixinho, prometo." Dei um sorriso amistoso mas Maine não retribuiu.

"Está bem." Mas ela apenas se sentou na cama e enquanto eu me ajoelhava em frente a poltrona, pude sentir seu olhar em mim.

Meu coração ainda palpitava pelo maldito sonho, meus arrependimentos teriam que esperar pra quando eu e Deus estivéssemos sozinhos, por agora, eu pediria por força, paciência e muita misericórdia.

"Bondoso Deus, te agradeço por mais um amanhecer, tú és magnífico. Criaste tudo e todos e ainda sim me surpreende todas as manhãs. Que sua vontade seja feita e que o Senhor reine sobre a Terra. Continue nos suprindo e abençoando seus filhos, e aqueles que necessitam tanto de Ti. Perdoa-me, ó pai celestial, pois ainda erro demais e lamento por isso. Ajuda seu nobre filho e me ajuda a fazer a missão que me ordenaste. Me livre de todo o mal e me faz trilhar no caminho dos justos. No nome santo de Jesus Cristo, amém!"

Abri os olhos, sentindo o que sempre sinto depois de falar com Deus, paz.
Me levantei e vi Maine ainda sentada na cama me observando, mas agora seus olhos curiosos estavam cheio de lágrimas.

"Volte a dormir, Maine."

Mas ao invés disso ela se levantou e veio em minha direção e as cenas do meu sonho voltaram a me atormentar.

"Não." Apenas disse isso mas ela entendeu tudo.

"Por que?"

Ah, Mine, não faça isso.

"Volte a dormir, anjo." Sussurrei.
E dei graças aos céus por ela ter me escutado dessa vez, apesar da relutância nos seus olhos cor de mel.

Deitei na poltrona assim que ela se deitou na cama e fechei os olhos, apesar de não ter o costume de dormir mais a essa hora, tentaria, pois a única coisa que poderia fazer naquele quarto seria observar Maine dormir, e isso era tentador demais para o meu gosto.

Não sei quantos minutos se passaram quando senti sua respiração próxima de mim. Continuei de olhos fechados pedindo a Deus que ela voltasse pra cama.

"Se me chamar de anjo novamente, eu não respondo por mim."

Sua voz era baixa e doce mas não deixava de ser firme, mostrando que ela falava sério.
Não me lembrava de ter a chamado de anjo mas era claro que eu deixei meus pensamentos saírem em algum momento. Era isso que eu via nela, um anjo de olhar doce e feroz ao mesmo tempo.

Sua mão tocou no meu cabelo e eu prendi a respiração. Eu devia deixar ela saber que estava acordado e repreender seu comportamento mas... Eu teria forças?

Assim que amanheceu, saímos do motel empoeirado pra esperar o táxi do lado de fora, rejeitando o café da manhã que o dono/recepcionista ofereceu - um copo de plástico com dois dedos de café ralo, três biscoitos moles e uma maçã cortada ao meio.
A blusa de Maine estava cheia de pêlos e sua calça amarrotada, eu devia estar muito pior já que ela não parava de olhar pra mim, sorrindo.

"O que foi, Maine?"

"Nada."

"Não acredito em você." Seu sorriso aumentou e eu tive que parar de encarar por um instante. "Você é sempre tão falante. Não se intimide agora, diga."

"Não consigo me acostumar com sua altura."

"Minha... altura?" Maine parecia sem jeito mas ainda sorria do fato.

"É, sabe, você é padre. Sua obrigação é ser mais... humano e menos..."

"E menos?" Agora ela tinha toda a minha atenção.

"Você parece um modelo."

Não aguentei e joguei a cabeça pra trás, gargalhando.

"Você acaba de comparar um padre com um modelo? Nada é mais distante da realidade."

"É verdade, né? Que bobeira... É que você é muito alto, você deve ter uns dez centímetros a mais que eu."

Pra provar, ela encostou seu ombro no meu braço e mediu com a mão o quanto faltava pra chegar no meu ombro.
Realmente faltava mais de um palmo

"Provavelmente..." Ela olhou pra cima e sorriu pra mim e novamente vi o verde em meio ao mar com de mel que eram seus olhos.
Será que mais alguém havia percebido isso?

"Você poderia me comparar com nefilins, por exemplo."

"O que é isso?"

"Uma teoria diz que os filhos de Deus, nesse caso os anjos, se deitaram com os filhos dos homens e com essa união nasceram os gigantes."

"Oh, você definitivamente é um negócio desse."
Não pude deixar de rir junto com ela.

O táxi chegou e nos afastamos um do outro. Dei a direção da igreja para o motorista e partimos.

"Estou com fome, podemos parar pra comer?"

"Vamos direto pra igreja, Maine, chega de aventuras."

"Mas, padre..." Ela desistiu de protestar no meio da frase e fez bico.
Essa menina... Ela ia me enlouquecer pelos próximos dias, isso era um fato.

Padre NossoOnde histórias criam vida. Descubra agora