Sempre fui muito imperativa. Gostava de jogar bola com os meninos quando criança, depois eu paquerava os meninos que nenhuma garota tinha coragem na escola, sempre demitida dos empregos que arrumava por não deixar ninguém passar por cima de mim. Sempre fui forte e corajosa.
Meu único ponto fraco era a minha mãe, por ela eu me desmontava.
Dona Joana era a mulher mais incrível do mundo, sustentando nós duas depois que o crápula do meu progenitor nos abandonou. Não lembro muito bem dele e não faço questão, só sei que era um idiota de cabelos claros como os meus, ao contrário de minha mãe que tinha os cabelos pretos.
Fiz 20 anos a uma semana e perdi minha mãe a um mês. Meu aniversário sempre foi perfeito, minha mãe sempre fazia questão de comemorar, seja com um beijo em meus cabelos ou, quando dava, uma festinha com amigos próximos porém meu último aniversário foi com um cachorro de rua, debaixo de uma árvore para nos protegermos da chuva.
Sem minha mãe eu não consegui pagar o aluguel e fui despejada, o senhorio não quis saber de nada e um dia depois de prazo me mandou embora.
Esperei amanhecer e deixei o cãozinho perto de um parque onde esperava que passasse alguém que tivesse um teto e o adotasse e fui em direção a igreja Santa Esperança.
Nunca fui de ir a igreja, apesar de ter muito respeito por quem ia, mas minha mãe adorava ir e me vi seguindo por esse caminho com uma mochila molhada no ombro."Deus não gosta de você, Maine, o que faz indo pra lá?!" Pensava, enquanto arrastava os pés em direção a um pequeno gramado e bancos de pedras que enfeitava o pátio de entrada.
Bati nas portas de madeira e uma senhora magrinha de olhos bondosos abria para mim. Vestia uma roupa engraçada, toda azul escuro e um pano também azul na cabeça não deixando eu saber a cor dos seus cabelos.
Ela olhou pra mim e arregalou os olhos, assustada com meu estado. Meu jeans velho colava nas coxas e minha camisa branca deixa a mostra a cor do meu sutiã. Meu tênis fazia barulho de água quando eu andava e meus cabelos...ah, eu estava terrível, por dentro mais que por fora, acredite."Entre, minha filha, entre!" Disse abrindo a porta pra mim.
Eu entrei imediatamente, queria dizer algo a ela mas não sabia o que dizer, então esperei ela se pronunciar e logo ela o fez.
"Venha, vamos secar você. Suas roupas estão todas molhadas. Pobre menina! Venha!" A senhora me arrastou por um corredor e depois por outro até um porta pequena de madeira onde me jogou dentro me fazendo dar de cara com cinco mulheres vestidas como ela só que de um tom mais claro. "Dêem um hábito pra essa menina ou ela pode pegar um resfriado."
"Muito obrigada, a senhora parece ser gente fina." As mulheres do quarto arregalaram os olhos mas a senhora a minha frente sorriu enquanto pegava a mochila do meu ombro. " Não precisa, eu me viro."
"Eu insisto, menina. E me chame de madre Fátima."
"Eu sou Maine Mitchell mas pode me chamar de M&M porque eu sou um docinho, sacou?" Brinquei, entregando a mochila molhada pra madre.
Uma mulher, freira aparentemente, bufou me olhando como se eu fosse uma ninguém, já estava acostumada com esse olhar então só esperei pacientemente ela me insultar pra que eu pudesse voar na cara dela.
"Tenha mais respeito com a madre superiora, não seja petulante, garota malcriada." Pelo que puder ver, duas outras freiras olharam para ela com repreensão, olhas duas apenas riram discretamente. Eu já conseguia ver quem era quem naquele pequeno convento que era anexada a igreja.
"Mitchell?" Minha atenção foi novamente para a madre. "Você é filha de Joana Mitchell?"
"Sim. Ela...morreu." A última palavra foi dita baixo demais e me segurei para não chorar. "Eu... não tenho um lugar pra ficar no momento, eu..."
" Agora você tem, minha querida." Madre Fátima segurou meu braço gentilmente e me deu um fraco sorriso. "Sua mãe era quase uma irmã mais nova pra mim, ela sempre me falava de você. Fique o quanto quiser!"

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Padre Nosso
RomanceOskar tem 30 anos, sendo padre desde os 20, um jovem em meio a tantos padres meia idade e já tendo o respeito de todos eles. Sua fé e bondade atraem o povo da pequena cidade de Santa Esperança, onde foi enviado apenas para ajudar a igreja por 1 mês...