Segunda-feira

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Acordei sem saber como tinha vindo parar na cama até me lembrar de estar em seus braços ainda sentada no banco do corredor.

O sorriso foi involuntário e o sentimento de querer aquele pequeno momento de novo se fez presente. Seu cheiro era algo que nunca era o bastante, eu precisava decorar aquela fragrância pra saber quando ele estivesse presente antes mesmo de vê-lo.

Eu estava vivendo entre o medo e a euforia e sabia que ele estava bem pior que eu. No seu caso, ele tinha um compromisso firmado e certamente ele estava andando entre a fé e a emoção. Só esperava que nenhum de nós dois saíssemos muito machucados dessa história.

Depois de tomar café com as irmãs e a madre, tratei de me ocupar e limpei tudo que estava ao meu alcance. A irmã Tereza até colocou as costas da mão na minha testa para afirmar que eu não estaria doente mas eu estava na verdade era querendo me distrair, a noite chegaria em breve e logo eu teria que encarar a realidade, ou seja, a ausência do padre no hotel onde nos encontraríamos.

O padre Oskar tinha saído cedo para acertar algumas coisas sobre reformas da igreja e tinha avisado a madre que não voltaria hoje. Por um instante quis acreditar que teria algo haver com o nosso encontro, mas quanto mais cedo aceitasse o pior, melhor seria para o meu coração.

Eram 18h quando fui me arrumar. Que ele não iria eu sabia mas a esperança não saia de mim, assim como o nome daquela igreja.
Enquanto tomava banho, pedi a Deus para que ele fosse, nem que para me chamar de louca e me repreender. Sorrir com o pensamento de pedir a Deus para me ajudar a corromper seu filho.

Vestir um casaco branco por cima do vestido preto levemente rodado e curto, calcei uma sandália de salto que fazia parecer que o vestido ficava mais curto ainda. Passei uma maquiagem básica, coloquei apenas um brinco dourado, peguei minha bolsa de mão e sai rapidamente pelos fundos enquanto soltava meus cabelos. As irmãs se recolheriam daqui a pouco e eu não iria querer esbarrar com elas agora então apertei o passo e atravessei a rua o mais rápido que pude.

19:30h e eu já estava quase chegando no final da cidade, o ônibus estava praticamente vazio quando eu parei em frente ao hotel Halo.
O lugar estava calmo, o hotel era afastado da cidade apesar de ser bem moderno, o jardim era pequeno mas aconchegante, as folhas das árvores balançavam acima do chão de pedra que dava até a entrada.

Esperei até que o meu relógio marcou 20:43h, decepcionada, decidi entrar e terminar a noite aproveitando da minha própria solidão quando uma mão me parou, segurando meu braço na entrada da recepção.

Era ele.

Estava simplesmente lindo, de terno sob medida, como eu nunca tinha visto antes. Cabelos úmidos penteados para trás e seu cheiro, ah, certamente era hortelã e um cheiro amadeirado como complemento.

"Padre!?" Eu não podia acreditar. "O que faz aqui?"

"Boa pergunta." Ele sussurrou mais para si mesmo.

Que pergunta idiota. Eu o chamei.

"Padre, eu pensei que não viria."

Seus olhos estavam tristes, como se tivesse sentindo dor. Não era assim que eu queria que fosse.

"Se eu fosse sensato..."

Ele era a pessoa mais sensata que eu conhecia, mas entendia o seu dilema.

"Maine, olhe para mim." Eu já estava olhando mas compreendi que ele queria minha total atenção. "Primeiro, não me chame de padre, não mereço ser chamado assim, não nesse momento. Outra coisa, você queria uma noite comigo e vai ter, mas do meu jeito."

Abri a boca mas era muita informação e minha mente não estava acompanhando as novidades.

"Mais uma coisa. Eu gostaria muito que você não contasse sobre...isso com ninguém."

Padre NossoOnde histórias criam vida. Descubra agora