Pôr do sol

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Pensei que depois de ontem a noite, quando o padre me visitou no meu quarto, as coisas tinham ficado melhores. Ele foi cortês e até um pouco indiferente, então pensei que ele não iria me evitar novamente. Engano meu.
O padre ficou quase o dia todo dentro da igreja ouvindo confissões. Eu sei que esse era seu... trabalho, mas eu também sei que era mais uma desculpa para ficar longe de mim e do eu suspeitava que ele sentia por mim.

Não tive como segui-lo, como fiz no dia anterior, então aproveitei o movimento de pessoas entrando e saindo da igreja para fazer amigos.

Luíza era muito na dela, de cabelos pretos e curtos, mal falava mas era simpática. Rebecca por outra lado era divertida e desinibida, negra de cabelos cacheados e lábios grossos, linda de morrer. Nos encontramos logo que elas estavam saindo da igreja e nos demos bem logo de cara. Nós três passamos a tarde juntas, conversando sobre coisas bobas como moda ou coisas sérias como o futuro. A Lu era mais calada mas seu riso era fácil, já Becca era falante e conversar com ela era divertido. Luíza me deu seu número e se despediu, ela e o namorado estavam passando por momentos difíceis então Becca me explicou o porquê dela estar tão pra baixo. Eu me senti mal por não saber disso antes e tentar ajudar, sabia como ela se sentia pois estava difícil pra mim também. E olha que nem éramos namorados.
Acho que isso que era o mais difícil. A Lu queria consertar seu relacionamento, eu apenas queria ter um com o padre.

Fiquei feliz por fazer uma amiga tão divertida como a Becca mas soube que ela logo iria começar a faculdade de Veterinária em outra cidade. Ela pediu pra que nós não perdessemos o contato e quis gravar logo seu número no meu celular mas assim que descobriu que eu não tinha um, ficou chocada. Qual garota de 21 não teria um celular hoje em dia? Eu.
Falei que assim que arrumasse um bico, compraria um e que fizesse igual a Lu e anotasse no papel, então ela sorriu e disse que eu já tinha um emprego. Pensei que perseguir padres não era exatamente um emprego mas que eu era boa nisso. Não disse em voz alta, é claro, mas ri. Acontece que Becca teria que largar o emprego dela pra começar os estudos e que o patrão perguntou se ela tinha alguém pra ela indicar que ocupasse seu lugar. Ela ligou imediatamente pra ele, na minha frente e finalizou a ligação com um joinha pra mim.

O padre tinha razão, fazer amigos era uma boa idéia. Becca era tão legal e tinha me conseguido um trabalho, até ignorei sua quedinha pelo meu padre, afinal ela não sabia que ele era meu, certo? Nem ele sabia disso.

Mas eu o faria saber.

Quis contar que tinha feito amigos e conseguido emprego de verdade, então fui ver se ele estava desocupado. A igreja finalmente estava vazia, bati no confessionário mas não havia ninguém lá então como curiosa que sou, entrei pra ver como era dentro. Minúsculo era a palavra. Como o padre conseguia ficar num lugar assim? Lembrei de quando ficamos presos no quartinho da igreja e minha respiração já ficou presa no meu pescoço. Eu com certeza tinha claustrofobia. Quando erguir a mão para abrir a portinha e sair, ouvir passos e parei. Era uma moça bonita com uma roupa colada ao corpo para, obviamente, chamar atenção do padre Oskar.

Qual era o problema das meninas dessa igreja? Elas não tinham vergonha de se jogar para um homem de Deus? Bufei, esperando ela ir embora. Meu ciúmes me fez esquecer que eu estava sem ar. Pra melhorar, o padre apareceu e entrou rapidamente no confessionário escuro e estreito. Sorri. Eu estava com ciúmes e ele estava sentado perto demais de mim. Eu tinha que marcar território.

"Mas o que...!?"

"Xiii!" Eu estava me divertindo, finalmente. Mesmo assim não iria deixar o padre Oskar ser pego por causa das minhas travessuras.

"O que foi, Padre?" Aquela menina de voz irritante perguntou do lado de fora. Revirei os olhos.

"Na-nada." Meu padre gaguejou.

Padre NossoOnde histórias criam vida. Descubra agora