Confissões

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Todas as freiras estavam sentadas no banco de madeira da igreja, uma ao lado da outra formando uma linha horizontal de irmãs esperando sua vez para se confessar.
Uma após outra entrava no confessionário e eu fui percebendo suas características pessoais.
Irmã Tereza era alegre e dedicada, parecia alguém que te ajudaria sem pensar duas vezes. Irmã Ana se parecia com a anterior em bondade mas era muito tímida e falou pouco, ao contrário da irmã Gilda que não parou de falar um só instante. Irmã Gilberta me pareceu desconfiada e a confissão se tornou um interrogatório para ela. Uma a uma foram se confessando e eu fui conhecendo as 11 irmãs que a madre superiora Fátima havia me falado mas havia mais uma no banco, a última restante que provavelmente seria nova, e quando irmã Loretta saiu do confessionário tão rápido quanto entrou, a última entrou e virou para a divisória transparente e sorriu para mim sem graça. O "perdoe padre, pois eu pequei" não veio então me senti obrigado a começar.

"Maria purís..."

"Ai padre, desculpa meu jeito bruto mais cedo. A madrinha e eu nos conhecemos hoje e eu ainda tô me acostumando com tudo, sabe? Desculpa mesmo!" Eu fiquei sem fala por um tempo, não esperando que ela jogasse tudo aquilo, depois sorri pelo seu jeito impetuoso.

"Você está absolvida, irmã."

"Eu não sou freira, só fiquei sem roupa e a madre me vestiu com isso."

Eu não queria ter pensado nela sem roupa mas Deus sabe que qualquer um pensaria no mesmo que eu se ela tivesse repetido isso.

"Perdão?"

"Eu não sou freira. A madre insistiu pra eu me confessar porque eu vou passar algum tempo aqui com as irmãs mas eu sou só a Maine, padre, Maine Mitchell." Não sabia o que dizer sobre isso mas conversaria com a madre superiora mais tarde. Por hora eu continuaria com meus deveres.

"Como tem passado, Maine?"

"Eu estou bem e você?" Tentei não sorrir, era errado alguém me tratar assim. Qualquer um que me falasse assim eu levaria como desrespeito mas nela isso era adorável, natural.

"Não é assim que funciona, não estamos aqui como amigos, sou seu confessor, e me chame de senhor, por favor."

"Oh, sim, desculpa! Eu tô bem, tá tudo bem." Algo me prendeu a atenção, ela abaixou a voz pela primeira vez desde nosso encontro na porta mais cedo.

"Como está se sentindo ultimamente, Maine?"

"Tá tudo normal, eu dou umas bolas foras mas no geral tá tudo tranquilo."

"Bolas foras como?" Seu linguajar precisava ser melhorado.

"Ah, o senhor sabe, esse meu jeito bruto de ser. Eu sou assim."

"Não tem nada de errado com isso, desde que seu coração seja bom. Você acha que tem um bom coração?" Arrisquei.

"Ah, eu tento, né." Ela enrolou um fio invisível da roupa enquanto pensava.

"Isso é bom. Como está sua relação familiar?"

"Não tenho família, padre. Sou só eu."
Não puder deixar de notar o quão indiferente ela tentou ser e isso me mostrou ser o suficiente por hoje. Ela não me daria mais nada.

"Você pode ir. Até semana que vem, Maine."

"Obrigada, padre." Com a mesma rapidez que saiu, ela entrou novamente no confessionário. "Desculpa." Ela se sentou novamente e fez o sinal da cruz, saindo de novo mas dessa vez não retornou. Dei graças a Deus que ela era a última pois não conseguia mais segurar o riso.
De bom humor pelo ocorrido, fui em direção a madre tirar a história de Maine não ser freira a limpo.

Padre NossoOnde histórias criam vida. Descubra agora