Final

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A voz de David me fez parar, mas vê-lo era a última coisa que eu queria naquele momento.

Me virei mas não conseguir fingir um sorriso.  Por que era tudo tão difícil?

"Sabia que era o senhor. Os olhos dela brilharam quando olhou pela janela."

Ele estava falando de Maine? Então ela me viu. Mas não veio ao meu encontro. O que eu esperava, afinal?

"Ela me rejeitou."

Não sabia o porquê dele estar me dizendo isso mas sabia que ele não estava do meu lado. Seu olhar não era amigável como costumava ser.

"Não fique muito feliz, ela pode rejeitar você também, afinal você a deixou na merda por quase um ano."

"Eu era um padre."

Tentei me justificar mas saiu como um pedido de desculpas.

"Então não é mais? Finalmente fez uma escolha."

Olhei para dentro do restaurante e tive medo de ser rejeitado assim como David dissera.

"Você é um covarde."

"Você não sabe nada sobre mim."

"Você desperdiçou a oportunidade de fazê-la feliz e se escondeu atrás da batina. Você pode ser e deixar de ser um padre mas deveria saber que sempre será um homem e deveria honrar isso. A oportunidade que eu queria desde que a vi, você jogou fora."

A verdade era que ele estava certo. Sempre fui um covarde. Fui covarde com meus pais. Depois fui um covarde por anos com Otávio. Agora estava sendo com ela.

"Onde ela esta?"

"Banheiro. Ela me pediu para ir embora. Boa sorte! Apesar de não merecer."

David foi embora me deixando no caminho entre a rua e a porta do restaurante. Balancei a cabeça e me virei para ir, me recusando a entrar e estragar ainda mais do que eu já tinha feito com a vida dela.

"Esta indo embora?"

A sua voz doce tremeu juntamente com meu coração.

"Por que é tão complicado pra você me escolher?"

Me virei e a encontrei a dois passos de distância, linda de morrer.

"Maine?"

Soltei o ar que não sabia que estava segurando. Maine tinha os olhos nos meus. Tentei desviar por medo, medo de encontrar decepção, dor e mágoa.

"Olha pra mim."

"Maine, eu..."

Não sabia o que dizer então só a encarei e o que encontrei nos seus olhos, sabia que ela também encontraria nos meus.

Saudades.

"Onde você estava? Você voltou de vez ou só esta de passagem?"

"Eu não sou mais padre."

"Você...não é mais padre? Como?"

"Podemos conversar em um outro lugar?"

Ela me olhou por um momento e eu pensei que seria abraçado ali mesmo ou talvez fosse apenas um desejo meu e eu estava projetando nela.

"Vamos para minha casa."

Isso era uma péssima ideia. Eu precisava conversar e também ouvi-lá mas estar na casa dela era arriscado demais. Eu não podia me precipitar novamente.

"Eu acho melhor te levar para outro lugar. Um lugar menos...particular."

Precisávamos de um momento pra poder expressar nossos sentimentos mas meu desejo por ela poderia falar mais alto então tentei ser racional mas se ela insistisse eu não poderia recusar, afinal eu era quem estava em débito com ela e faria de tudo para, pelo menos, me desculpar adequadamente.

Padre NossoOnde histórias criam vida. Descubra agora