Amigo da onça

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Ana olhava de Maine para mim querendo uma explicação e eu não podia dizer nada.
O que poderia dizer que não a verdade? E a verdade era vergonhosa demais.
E o pior de tudo era que eu não estava arrependido. Era como se beija-la fosse a coisa mais certa que já fiz na vida, afinal eu sentia que ela era minha.

"Padre, o senhor está bem?" A irmã Ana não estava fazendo especulações, ainda. Ela estava genuinamente preocupada.

Mas qualquer um que soubesse matemática básica adivinharia o que de fato acontecera.

"Eu caí. O padre me ajudou e..." E nos beijamos. EU a beijei.

Não fiquei para ouvir o resto. Nem sabia se Maine iria dizer a verdade ou não, nem me importava. Eu precisava me confessar e precisava com urgência.

Não pude ir pra casa da minha avó, ainda chovia e mesmo que fraco, as irmãs poderiam precisar de mim, e eu estava aqui para ajudar no que eu pudesse então fiquei no quarto do futuro padre por hoje.
Que hipocrisia, pensei.
Eu não estava ajudando ninguém enquanto rolava no chão aos beijos com a menina da madre superiora.
Estaria mentindo se dissesse que não fiquei pensando nela até tarde da noite, nos seus lábios nos meus, trêmulos, e nas suas lamúrias.
Por Deus, ela estava me desejando como uma louca e se eu quisesse possuí-la naquele exato momento, na chuva mesmo, poderia. E que o Senhor me perdoasse, eu queria.
Não!
Cansei de pensar em tamanha tentação, o Senhor não iria me abandonar agora.
Sentei nos meus calcanhares e, do lado da cama, de frente para a minúscula janela, orei.
E orei, e orei mais um pouco, até que o dia amanheceu e eu havia dormido sentado mesmo, nos meus próprios calcanhares e de rosto caído na cama.

Levantei, tomei um banho e vesti minha roupa de sempre, totalmente formal e preta, e fui ter com as irmãs.

"Padre, o senhor...está bem?" Irmã Tereza interrompe o que iria falar quando me vê.

"Eu só estou um pouco dolorido, dormir de má posição. O que iria falar irmã?"

"Ah! O senhor tem visita."

"Tony, meu camarada!"

Um homem baixo -afinal, poucas pessoas eram mais altas que eu- mas de boa aparência, sorridente e descolado apareceu e me abraçou.

"Beto?"

Alberto era meu amigo da escola, aquele amigo de infância que a gente leva pra toda a vida, mas faziam anos que não nos víamos.

"Tony, você voltou! Já é bispo?"

Sorrir. Fazia muito tempo que ninguém me chamava assim. Na verdade só ele me chamava assim.

"O que você sabe sobre bispo?"

"Ah, você sabe, eu jogo xadrez com meus tios."

"Eu estava indo tomar café da manhã, você me conta o que está fazendo aqui enquanto me acompanha, o que acha?"

"Perfeito, meu velho amigo." E me abraçando, ele me acompanhou até a cozinha onde já estavam a irmã Ana e Maine, e logo se sentou a irmã Tereza que tinha vindo logo atrás da gente.

"Olha, cadê o seu lenço de cabelo, irmã? Está lavando?" Beto perguntou a Maine logo se sentando do seu lado.

Maine era a única mulher que não usava os trajes habituais das demais, ao invés disso ela estava de cabelos soltos e com um vestido rosa claro que precisava apenas de um palmo a menos para se tornar uma camisa.

"Eu não sou uma irmã, sou só Maine e você é...?"

"Sou só Maine." Sorri me lembrando do dia que nos conhecemos.

Padre NossoOnde histórias criam vida. Descubra agora