Sábado

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Padre Júnior era um senhor baixinho e sorridente. Chegou e tomou café conosco e fez questão de conhecer cada uma. Ele não tinha me feito nada mas eu sentia que ele era meu pior inimigo já que sua chegada representava a ido do meu padre. Insistir em ficar na cozinha e participar das apresentações única e exclusivamente pela presença do padre Oskar no recinto.

Sua presença era um alento pra mim e quando nossos olhos se encontravam, eu jurava que via desejo neles.

"Amanhã será meu primeiro dia oficial como pároco local, então o que acham de sairmos em um retiro hoje? Assim nós vamos nos conhecendo melhor e de quebra nos consagramos para o meu primeiro sermão de domingo."

"Acho uma ótima ideia, padre Júnior, o senhor virá também, certo padre Oskar? Afinal, foi o senhor que segurou as pontas e nos ajudou muito até que enfim nos estabelecermos."

As irmãs estavam eufóricas com o assunto do retiro, até mesmo a madre que convocou o padre Oskar. Ele também parecia feliz com o clima mas as vezes eu o achava um pouco ansioso.

"Eu adoraria, madre, mas eu deixei muita coisa pra última hora e terei que ficar. Amanhã eu estarei no sermão do padre Júnior e me despedirei de vocês adequadamente."

"Bom, se é assim, nós te perdoamos. Quando partiremos, padre Júnior?"

"Imediatamente, madre. A mocinha virá conosco?"

Jamais. Era a minha grande chance, já que o padre ficaria.

"Eu passo. Vou aproveitar pra descansar. Vão com Deus."

Padre Oskar, ao contrário de todos os presentes, suspeitou de mim mas nada disse. A ideia de colocar em palavras que ele não podia ficar sozinho comigo era inadmissível, pois ele era um padre, deveria ser confiável.
Todos já tinha partido quando bati numa porta onde nunca havia entrado, no final de um corredor que só tinha passado pra limpar o chão, onde saiu do quarto um padre cheiroso com o cabelo úmido, indicando um pós banho.
Também reparei na bolsa em cima de uma escrivaninha e de uns livros separados ao lado.

"Maine, o que houve?"

A muito tempo ele não se dirigia a mim diretamente, muito tempo em que não ficava assim tão perto.

"Maine?"

"Eu..."

"Sim?"

Ele não facilitava, o corpo barrando a porta como se eu não fosse bem-vinda e o braço esticado até o beiral do mesmo como se fosse uma fita de isolamento.

"Você só vai amanhã, né?"

"Sim mas eu já vou limpar o quarto para o padre Júnior. Ele vai usar a partir de amanhã, então..."

O padre olhava para mim como se eu tivesse uma doença infecciosa e eu só queria que ele se despedice de mim como eu sabia que ele queria.

"Era só isso?"

"Não. O senhor disse que eu podia contar com você se precisasse."

E então ele mudou totalmente a linguagem corporal, dando vida ao padre que eu conhecia e sabia que já amava.

"Algum problema? É com o trabalho? Vamos conversar na igreja."

"Não." O interrompi e balancei a cabeça. "Trabalhar com David é maravilhoso, não é isso."

Ele piscou incomodado mas não disse mais nada.

"É sobre outra coisa e eu quero falar sobre isso aqui."

"Maine, eu não acho certo..."

"Existem vários níveis de certo, padre, e isso aqui..." Botei a mão no braço que ele tinha esticado até a porta e ele se desvencilhou de mim, fazendo com que eu pudesse entrar no quarto. "Isso é certo pra mim."

"Não pode entrar aqui, Maine, por favor, facilite."

"Facilitar? Por que eu deveria? Você me deu três semanas e sorrisos doces e olhares carinhosos e depois me tratou como se não me conhecesse."

"Maine, entenda..."

"Não. E saia da porta, parece que quer correr daqui."

"E quero. Eu quero correr. Só não sei por que meus pés não me obedecem."

Ele suspirou, parecendo frustrado, e finalmente fechou a porta atrás de si, se encostando nela, o lugar mais longe de mim ali.

"Nosso tempo sempre foi limitado. Por que diminuiu mais ainda com essa maldita distância que você criou nesses últimos dias? Consegue entender como foi injusto comigo?"

"Você não esta sofrendo sozinha."

Seu olhar derrotado não diminuiu a raiva em mim.

"Isso não diminui sua culpa, talvez até a aumente, padre."

Ele retirou o colar clerical do pescoço e colocou no bolso, involuntariamente.

"O que quer de mim?"

"Honestidade."

Me aproximei de onde ele estava, encostado na porta onde ele não tinha mais pra onde fugir. Ele era bem mais alto que eu mas nesse momento eu estava me sentindo gigante. Ele era quase dez anos mais velho que eu, mas nesse momento, eu conduzia.

"Maine..."

Assim que levantei as mãos para encostar em seu peitoral, ele as segurou antes e uma emoção diferente atravessou seus olhos. Ele não disse nada mas eu sabia que eu consegui o que pedi dele nesse momento. Ele ainda lutava mas seu corpo estava pronto pra demonstrar sua sinceridade. Me aproximei e colei meu corpo ao dele, ainda com as mãos presas as dele.

"Anjo..."

Assim que minhas mãos se livraram do seu gentil aperto, as envolvi em seu pescoço e o beijei. No começo foi desesperado, com ardor, mas logo fomos nos acalmando, o beijo foi ficando lento e muito mais quente, o quarto parecia que estava em chamas e tudo se incendiou quando senti, como lava, a mão do padre entrando na minha camiseta e subindo em minhas costas. Não resistir e afundei minhas unhas na base de seu pescoço e senti ele suspirando enquanto me beijava com amor.

"Oskar, eu quero você."

Seus olhos estavam injetados de luxuria e ele olhou da cama no canto do quarto até mim e de volta pra cama, então precisou de um momento até conseguir falar.

"Eu nunca..."

Nada mais precisava ser dito, eu tinha entendido perfeitamente. Ele pareceu perdido por poucos segundos mas logo seus olhos se voltaram para mim enquanto me levava para a cama.

"Isso é loucura..."

Sua voz estava rouca e apesar de repreender aquilo com palavras, ele continuou a me beijar enquanto explorava meu corpo com as mãos. Oskar puxou minha coxa pra cima e me fez envolve-lo até estar em cima dele. Tirei minha blusa com dificuldade pois ele não parava de beijar meu pescoço e então desabotoei a calça e ele a puxou pra baixo. Apesar de todo amarrotado, ele estava completamente vestido enquanto eu estava de calcinha e sutiã montada nele.

Injusto, temos que mudar isso...

Padre NossoOnde histórias criam vida. Descubra agora