Ladeira abaixo

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"Espera, você está dizendo que o padre Oskar fez a garota rezar o pai nosso no recreio depois dela tentar beijar ele?"

"Na verdade ela beijou ele, mas sim, foi isso mesmo."

"Não acredito. Padre?"

O padre estava com a mão no rosto querendo escapar dessa situação.

"Vamos, Tony, ajude na veracidade das minhas histórias, se não ela não vai acreditar."

"Primeiro, foi só um selinho constrangedor, depois que eu não obriguei ela a nada. Só ensinei ela o pai nosso..."

Ele tirou a mão do rosto e olhou para o Beto como quem iria puxar sua orelha.

"Tony, a garota era uma beldade, vai. E você tinha quase 16, o que custava fazer a felicidade dela e tirar seu próprio BV ao mesmo tempo? Duvido que você tenha beijado depois daquele dia."

Tentei ao máximo não olhar para o padre mas se houvesse algo que me atraía nesse mundo mais que os seus olhos, eu desconhecia.
E seus olhos, aquelas esferas azuis como o mais lindo mar, me olharam de igual forma e eu sentia meu coração me traindo e batendo como um doido, lembrando do beijo de ontem, um beijo que eu queria repetir a todo momento.

"Beto, eu tenho que dar um sermão hoje, preciso me preparar, se você me der licença..."

"Não acredito. Você nunca mais deu um beijo depois daquele dia? Você só virou padre com 20 anos, não foi? Eu estava lá quando isso aconteceu e você já tinha bigode. Meu Deus, Tony!"

"Beto!"

"Não, eu sei, meu amigo, eu respeito seus votos mas você podia ter aproveitado até vestir a batina, né."

"Deixa ele em paz, Beto, ele deve ter tido algum relacionamento que você não sabe."

"Não tive. E nunca terei." Ai!

Com isso ele se levantou e saiu, me deixando de coração dolorido e uma curiosidade inevitável.

Ele era virgem?

Impossível. Ou não era impossível?

Eu perdi minha virgindade com 18 e eu fui a que perdi mais tarde entre todas as minhas amigas. Como um homem conseguiria seguir sem nenhum ato sexual até os 20 e continuar até agora? Quer dizer, era a sua vida toda. Não, isso era impossível, com certeza ele deve ter tido suas aventuras antes de ter se tornado padre.
Beto pensava que ele não havia beijado mais ninguém depois desse episódio do BV mas eu já havia beijado ele e ele também tinha me beijado, se Beto que era seu amigo não sabia dos beijos, então eu também não teria como saber sobre demais aventuras que ele poderia ter tido.

"Eu acho que passei dos limites. Vou lá falar com ele."

"Eu também deveria ir com você."

"Não, eu o conheço a muito tempo, deixa eu fazer ele se acalmar e depois quando a fera estiver mansa, você fala com ele."

Fera? Até com raiva o padre era um nobre. Eu conseguia ver perfeitamente ele com aquelas vestes de conde dos filmes de época.

Beto foi atrás dele e eu fui pro meu quartinho depois de arrumar a cozinha. Que manhã! Descobrir que o padre ajudava o amigo nas enrascadas que ele se metia, que tocava violoncelo na escola, que tinha perdido o BV com um beijo roubado e que ele muito provavelmente não me encontraria amanhã.
Essa última afirmação não me deixou animada como as demais.

Mais tarde comecei a me arrumar para o sermão do padre, já que hoje era domingo do Senhor. Não tinha visto Beto ou ele depois do episódio da cozinha e não quis incomodar os dois, provavelmente eu estragaria tudo se por acaso Beto tivesse feito as pazes com o padre Oskar.

Padre NossoOnde histórias criam vida. Descubra agora