II. Apocalipse 17:11 †

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"E a Besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete, e caminha para a destruição"

A paróquia do vilarejo Éosis Bay — como era popularmente conhecido — estava sempre repleta, para não dizer abarrotada, de fiéis fervorosos em busca da indulgência. 

Enfastiado, Jisung brincava com as folhas bem-cuidadas de sua Bíblia, aguardando o início da pregação. Passou a observar a agitação tumultuosa no local, que sempre parecia englobar mais pessoas do que a capacidade permitida. Seus amigos estavam acompanhados dos pais, sentados juntos e dispersos pelos bancos de madeira impecavelmente divididos e espalhados no pequeno espaço entre o corredor central. 

Adiante, no primeiro banco, podia enxergar a cabeleira negra de Jeongin ao lado dos pais, já imaginando a carranca que ele certamente carregava no rosto, para quem quisesse ver. 

O jovem diácono, como de costume, estava presente. A longa batina negra sempre apresentável, os cabelos loiros simetricamente alinhados e um sorriso bondoso no rosto eram suas principais características, sem citar a personalidade terna e garbosa, de extrema educação, que encantava a todos.

Kang Yeosang era o ser mais casto e puro de todo o vilarejo, e isto ninguém poderia contestar. 

Jisung percebeu que os olhos dele moviam-se a todo instante, curioso, visivelmente intrigado, embora tentasse manter a discrição, e não pôde evitar de direcionar seu olhar ao que tanto o atraía, descobrindo do que se tratava.  

Parado ao lado de fora da igreja, havia um homem, e Jisung arregalou os olhos de forma instintiva pelo baque de ver alguém tão… Deslumbrante. Soaria estranho dizer que estava perplexo e maravilhado com aquela figura airosa que assemelhava-se a um príncipe saído diretamente dos contos de fadas? 

Os cabelos eram curtos, acima dos olhos; tão brilhosos e pretos, penteados de maneira que deixava sua testa à mostra, fazendo um contraste soturno com a pele absurdamente alva. A fisionomia esbanjava uma perfeição jamais vista, era demasiada delicada e sutil, e ao mesmo tempo marcante, como se tivesse sido esculpida por anjos divinos. Os trajes escuros, apesar de sóbrios, denotavam elegância e requinte; os dedos bonitos adornados por alguns anéis pratas e um único dourado indicava que, nitidamente, ele pertencia à nobreza. 

Aquele homem era o mais bem-apessoado que Jisung já vira em toda sua vida. Tão formoso que sentiu-se desnorteado por um momento.

Compenetrado, reparou quando ele parou em frente à entrada, olhou para o chão durante alguns segundos e adentrou a paróquia, com um sorrisinho ligeiramente ardiloso. Ele logo tratou de sentar entre os últimos bancos, próximo da porta, onde tinha entrado, antes que acabasse por chamar atenção desnecessária. 

A voz do padre agora ecoava como um zumbido distante em meio ao silêncio absoluto do local. Pela primeira vez, Jisung nem sequer prestava atenção no que era dito, estava interessado demais em encontrar uma forma de obter informações sobre aquele desconhecido; ele incitava mistério, sentia em seu íntimo. 

— E é por este motivo, meus irmãos, que devemos estar sempre vigilantes, pois o Mal nunca repousa. Ele está constantemente atento às nossas falhas, apenas esperando a oportunidade certa para agir e fazer-nos sucumbir ao pecado. — A voz elucidativa de seu tio quase o fez pular no lugar devido ao susto. 

Virou lentamente a cabeça, observando o homem desconhecido de soslaio. Ele analisava o padre com divertimento, até que seus olhos ergueram-se a algo acima do presbítero, onde mirou zombeteiro a figura de Cristo preso no alto da parede e abaixou a cabeça, sorrindo em escárnio. 

𝐇𝐀𝐃𝐈𝐒 - MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora