XXI. Lamentações 3:57 †

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"Tu te aproximaste quando a ti clamei, e disseste: Não tenha medo"

Cérbero! 

Um grito potente e autoritário fez com que o cão imenso se afastasse e os pássaros voassem das árvores. 

Foi a primeira vez que Jisung o ouviu gritar. 

A besta obedeceu ao comando imediatamente e distanciou-se, a serpente em sua cauda agitada ao passo que encaminhava-se obediente até seu dono, e Jisung viu o momento exato em que o animal se curvou diante de Minho, que tinha o indicador erguido e olhar ríspido. 

Ele se aproximou da criatura enorme e sussurrou apenas para ela:

ㅡ Cérbie, papai já disse que não pode devorar todo mundo! 

Uma lamúria em forma de uivo mostrou o descontentamento da fera. Poxa, ela só queria brincar! 

ㅡ Você sabe quem ele é? ㅡ repreendeu severo. Uma das três cabeças curiosas olhou para trás, analisando o garoto, e suas orelhas baixaram. ㅡ Pois bem, vá para casa e assuma sua forma terrena, você deve se desculpar com Jisung! 

Obediente, o ser maligno acatou a ordem e desapareceu pelo breu da floresta. 

Meio segundo após, Minho sentiu o impacto do corpo do loirinho contra o seu num abraço sufocante e amedrontado, em que ele lhe apertava e soluçava continuamente em seu pescoço, tendo pequenos espasmos no corpo trêmulo.

ㅡ Eu estava indo até você, senti que precisava de mim ㅡ revelou atormentado. ㅡ Diga-me, o que aconteceu? 

ㅡ Jaehwan… ㅡ Apenas a menção daquele nome infame lhe fez estremecer e apertar os olhos pelas lembranças recentes. ㅡ E-ele… Ele tentou… M-me obrigar a fazer coisas que eu não queria! 

Minho tomou distância minimamente para encarar o rostinho choroso, precisando controlar o tremor perceptível e o fervor ameaçador que percorreram suas veias e fizeram seu sangue borbulhar ao deparar-se com a marca rosada que manchava a pele macia da bochecha dele, juntamente com parte de sua camisa rasgada, apesar do pequeno broche brilhante estar escondido ali. 

ㅡ Tentou, é? ㅡ A postura do Lee começava a mudar de forma inconsciente e ele passou a enxergar tudo avermelhado. 

ㅡ Sua voz… ㅡ Jisung arregalou os olhos, surpreso com o timbre completamente diferente que jamais havia escutado. Era baixo, grosso e assustador. 

Em um piscar, Minho recobrou a consciência e atinou para a realidade, percebendo que estava se deixando levar pelo lado mais obscuro que um demônio possuía, o lado irracional e bestial. 

Ah, ele estava possesso. 

ㅡ Eu vou resolver o problema agora mesmo. 

ㅡ Não! ㅡ Jisung adiantou, voltando a prendê-lo no abraço apertado. ㅡ Por favor, não vá! Eu… Eu só quero que você fique comigo neste momento. 

Minho suspirou, descontente, embora entendesse. Não descansaria enquanto não matasse o miserável, mas sua prioridade sempre seria o loiro, e se ele precisava de sua presença, então estaria lá para ele, ainda que seus planos fossem outros. 

Levou-o até sua casa com intenção de cuidar dele e fazê-lo se sentir melhor. Era visível como ele ficava confortável ao seu lado, acalmando-se rapidamente apenas por estar no mesmo lugar. 

Indiscutivelmente, era uma relação de outro mundo. 

ㅡ Pensei que Seungmin estaria aqui. 

Após tomar um banho quente e ter passado bons minutos contemplando o banheiro luxuoso da mansão do Kim, impressionado, Jisung deixou o cômodo e foi para o quarto onde Minho lhe aguardava, satisfeito em vestir as roupas cheirosas dele. Estava tão relaxado que poderia dormir a qualquer instante.

𝐇𝐀𝐃𝐈𝐒 - MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora