"Então o Senhor Deus declarou: Não é bom que o homem esteja só; farei alguém para ele que o auxilie e lhe corresponda"
⸸
Pela primeira vez em toda sua vida, Jisung estava entediado durante uma pregação. A igreja apresentava-se vívida, repleta de fiéis esperançosos, como sempre, e por mais que o loirinho estivesse sentado no primeiro banco, seus olhos mantinham-se desfocados e parcialmente preocupados.
Escorregou discretamente para o lado, afastando-se e ficando na distância equivalente de uma pessoa dos desconhecidos próximos a si, não aprovando os esbravejos devotos cobertos de fervor que atingiam seus tímpanos tão de perto. Acabou por prender-se em seu mundinho particular, embora seu olhar percebesse a movimentação e a força das palavras de seu tio enquanto pregava a palavra sagrada, mas seus ouvidos nada distinguiam.
O culto estava quase em seu encerramento, e sentiu-se culpado por desejar que terminasse depressa para que pudesse retornar ao seu castelo — também conhecido como seu quarto — e trancar-se lá somente para estar na companhia de seus preciosos livros.
Estava sentindo uma ansiedade anormal e desregulada martelando em seu peito desde o momento em que abriu os olhos naquele dia, e por algum motivo desconhecido, aquilo tirou toda sua concentração e quase o transformou em um obcecado para encontrar a resposta para o dilema.
— E como disse o Senhor, nosso D…
A entonação antes austera e rigorosa do padre tornou-se falha e diminuta no instante em que ele olhou para a entrada da paróquia, e este ato levou todos os cidadãos a fazerem o mesmo, curiosos e surpresos pela interrupção abrupta do homem.
Jisung não foi exceção, seus olhinhos curiosos voltaram-se à entrada da igreja, onde estava o motivo de tanto rebuliço.
Um homem estava parado ainda do lado de fora. Entretanto, ele não precisava mais do que existir para roubar o ar de todos que tivessem a bênção da visão. Faltavam palavras no vocabulário humano para descrevê-lo, e ainda que houvessem, jamais seriam suficientes para detalhar a perfeição encarnada que ele era, pois sua excelência e magnificência transcendiam todos os limites terrenos possíveis, e os eternos adoradores do Senhor presentes naquela igreja arfaram e exclamaram, encantados e hipnotizados com seu esplendor.
Além de ser dono de extrema exuberância e poder, denotava incontestável autoridade. Possuía os cabelos tão vívidos, brilhantes e negros quanto o icástico trES-2b em um envólucro material, penteados estrategicamente para que a testa ficasse em evidência e exibisse as sobrancelhas grossas e expressivas que destacavam os olhos milimetricamente desenhados e arguciosos, semelhantes a um felino inexorável e selvagem, juntamente da ponte nasal perfeita, que coincidia em harmonia com os lábios sutilmente polposos e róseos. A estatura era mediana, porém robusta e corpulenta de maneira equilibrada, criando um contraste majestoso com as vestes igualmente negras, que delineavam e ressaltavam os músculos aparentes das pernas e braços. Parte de seu peitoral definido estava exposto através da abertura quase exagerada da camisa de seda, de modo que escancarava para quem quisesse ver, de maneira gritante e chamativa, a excêntrica tatuagem gravada ali, cujo aspecto consistia em galhos de árvores secos e crescentes que percorriam desordenadamente o peito até alcançarem a clavícula e o início do pescoço.
Aquele homem era o pecado vivo em sua crua carnalidade, transmitindo a impressão de que o próprio Deus-Pai tivesse-o ungido, banhado e preenchido pelo escarnecimento profano e perverso em toda sua forma cabal; irresistivelmente tentador em cada trejeito.
E no segundo em que ele adentrou a casa de Deus, todas as velas apagaram-se de súbito e os objetos sagrados tremularam audivelmente antes de caírem sobre o piso, quebrando e gerando um som fino e irritante aos ouvidos, à medida que a figura deslumbrante e esbelta caminhava no centro do salão como um rei imponente, sob os olhares, agora assombrados, de todos os fiéis.
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𝐇𝐀𝐃𝐈𝐒 - Minsung
Fanfiction[CONCLUÍDA] Céu e Inferno. Dois pesos antagônicos coincidindo e duelando diariamente por uma mesma causa: a infundada e orgulhosa validação humana. Ah, mero engano. Seria de extrema ignorância e soberba consider-nos dignos de tal importância. O P...