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O sabor doce de seu sangue ainda marcava minha língua

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O sabor doce de seu sangue ainda marcava minha língua.

O riacho ao fundo e o crepitar da fogueira eram os únicos sons que me acompanhavam enquanto eu encarava a lâmina brilhante refletindo o meu rosto pálido. Um rosto belo e frio, que só pôde ser visto por aqueles que sangraram pelas minhas mãos e não conseguiram sobreviver para contar histórias.

Eu havia concebido oportunidades misericordiosas para os mais fortes que conseguiam escapar da lâmina da minha espada. Deixei-os partir, gritando pelo mundo, contando como é encarar o abismo profundo de um oceano de esmeralda.

Não demorou muito para que lendas e mitos sobre mim começassem a se espalhar pelos reinos de Azahara. Histórias de ninar eram contadas às crianças sobre uma besta cruel que ceifaria suas vidas se ousassem encarar olhos tão assustadoramente belos. Meus olhos.

Sorri para o meu reflexo, relembrando o rosto do macho cujo corpo deixei na lama, inerte, uma hora atrás. Seus cabelos loiros, antes manchados de vermelho, assemelhavam-se a uma pintura enquanto eu me deleitava com cada gota do seu sangue jovem. A sensação do gosto suave de seu sangue na minha língua fez minha escuridão gritar por mais.

Não me recordo de todos eles serem tão frágeis. Levei menos de meio segundo para cravar minha lâmina no peito do macho e sorrir enquanto ele implorava por sua vida. A visão de vê-los sempre rastejando aos meus pés nunca perde a graça; eles encaram meus olhos como se pudessem encontrar alguma piedade ali. Feéricos tolos e inocentes.

Guardei a lâmina na bainha que imitava a curvatura de uma lua e ergui o rosto para contemplar as estrelas ardentes no céu acima. Inspirei profundamente, permitindo que o ar enchesse meus pulmões por completo. A noite estava mais fria do que o habitual, então decidi arriscar uma fogueira para não morrer congelada em uma maldita floresta pútrida.

Eu desejava que essas necessidades irritantes tivessem sido arrancadas junto com minhas emoções no passado. Talvez, assim, não precisaria me preocupar tanto em manter meu corpo aquecido no inverno ou fresco no calor impiedoso do verão.

Um suspiro, envolto pelo ar frio, escapou dos meus lábios enquanto eu recostava minha cabeça contra o tronco de uma árvore, sentindo-me entediada. Contudo, a noite estava prestes a se tornar mais interessante quando passos distantes foram captados pelos meus ouvidos feéricos e aguçados.

Percebi a presença de três corajosos a cinco metros de onde eu me encontrava, um trio perfeito para saciar a fome que incessantemente lateja dentro da minha mente.

"Cace-os." Aquela voz ancestral e sombria ecoou profundamente em minha mente.

Num instante, me ergui e extingui a fogueira com água suja. Juntei a capa preta gasta em meus ombros e puxei o capuz para ocultar meu rosto de olhares curiosos. Com destreza, localizei as lâminas habilmente escondidas em meu corpo, protegendo minhas mãos com luvas de couro, enquanto uma tentadora visão se formava em minha mente. Os três corpos decapitados conforme enchiam minha taça com sangue fresco. 

DEMÔNIO DE AZAHARAOnde histórias criam vida. Descubra agora