31

2K 300 86
                                    

A caixa de madeira parecia chumbo na minha mão conforme eu sentia aquele aroma específico subir constantemente até meu nariz

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A caixa de madeira parecia chumbo na minha mão conforme eu sentia aquele aroma específico subir constantemente até meu nariz. Familiar e atrativo como um dia fora há tantos meses atrás.

Atravessando as tendas como uma sombra, fiquei invisível para aqueles guerreiros que se preparavam para a batalha final. Bastava olhar uma vez em suas expressões para enxergar a sede de vingança que carregavam sobre aquelas bestas do outro lado do campo, também como o cheiro do medo enraizado em seus estômagos.

As chamas das fogueiras se tornaram borrões de laranja e vermelho conforme eu corria entre as tendas, tentando me afastar do acampamento o máximo que podia. E só quando as árvores de pinheiro da floresta Alder ficaram mais presentes, diminui a velocidade e recuperei o fôlego segurando aquela maldita caixa com as mãos firmes.

Mesmo enquanto traçava meu caminho entre aquelas árvores, não conseguia parar de pensar na etapa que viria logo a seguir. Temia o pior, mesmo sabendo que estaria condenada a isso pelo resto da vida, viver acorrentada a uma entidade que não pertencia a este mundo.

Em um único salto, atravessei o pequeno rio e continuei caminhando para longe. As correntes de vento passando pelo meu corpo como facas afiadas e penetrantes.

O que eu chamaria de esquilo passou subindo uma árvore de casca podre, o pequeno animal se pendurando para cima a medida que fugia da presença que emanava dos meus ossos.

Quando nem mesmo minhas orelhas conseguiam captar os barulhos do acampamento, parei em um pedaço de terra reto da floresta, onde as árvores formavam um círculo como um escudo natural. E ao soltar um suspiro pesado, me decidi que seria aqui.

Deixei a caixa no chão e encarei aquele objeto que carregava o alimento temido por todos. Lembrei dos últimos meses e em como tinha sido tão tranquilo fingir ser um deles. Viver daquele jeito era simples, não precisava fugir e nem morrer em agonia. Mas, sentindo aquele aroma familiar, eu sabia que precisava retomar ao meu poder sem me importar com as consequências que viriam a seguir.

Será que mesmo depois de tudo, eu conseguiria cumprir a promessa de Lilian? Eu seria forte o bastante para tomar minhas próprias rédeas? Durante esses longos e árduos anos, nunca duvidei da minha capacidade tanto como agora.

Cansada de enrolação e pensamentos inúteis, soltei a pequena amarra da minha capa de inverno e deixei que o vento a levasse para longe quando me apoiei em um joelho e minhas mãos destrancaram o cadeado da caixa. Então segurei o fôlego e levantei a tampa pesada.

Lá estava. As inúmeras bolsas de sangue. O cheiro forte subiu como uma lufada de ar e a bile subiu a minha garganta tanto quanto minha língua salivou diante daquilo.

Meus dois joelhos encontraram o chão e eu segurei uma daquelas bolsas e levei até o nariz, inspirando o cheiro para sentir aquilo me embriagar como álcool.

"Beba." A voz masculina antiga e cruel sussurrou no meu ouvido e minhas mãos tremeram segurando aquele alimento estranho. Eu odiava voltar a ouvi-lo. Odiava que meus pensamentos fossem invadidos por ele.

DEMÔNIO DE AZAHARAOnde histórias criam vida. Descubra agora