A imagem do pavor estampada nos olhos de Ahri jamais se dissiparia da minha mente. Ao encarar meu pescoço através de um pequeno espelho, observando os dois pontos feridos onde os afiados dentes de Ahri penetraram minha pele, um peso opressor invadiu meus pensamentos.
Aquela sensação foi indescritivelmente horrível e desesperadora. Como agulhas afiadas, as presas dela se afundaram em mim, como se minha própria alma estivesse sendo sugada para sua voraz boca. Pela primeira vez, experimentei o poder maligno de Ahri sobre mim, ainda que por breves segundos.
Algo estava terrivelmente errado com ela. A voz que emergiu de seus lábios, uma voz que eu sabia não ser a sua, voltou a falar comigo como naquela vez no meio do campo de batalha.
Ahri disparou para fora do quarto com os olhos vermelhos e a cabeça baixa, levando uma expressão de constrangimento estampada em seu rosto.
Com o coração acelerado, levantei e fechei a porta com a chave, encostando minha cabeça contra a madeira conforme remoía os minutos anteriores.
Em um emaranhado de decisões e questionamentos, onde as consequências se multiplicam e as respostas são escassas, encontro-me imersa em um mar de incertezas.
O que a levou a fazer isso? Esse era o seu plano? Me encurralar com seduções? Mas, por que parar abruptamente e fugir cheia de arrependimento?
Bati a testa uma vez na porta e odiei o silêncio e o frio repentino que me sufocava no quarto. Alinhando minha camisa de volta ao corpo, me deitei na cama e encarei o teto pálido, sem conseguir parar de pensar no desespero que seu rosto expressava quando tanto se esforçou para se afastar.
Sua parte do acordo sempre foi a liberdade. Mas o que exatamente significava isso? Liberta-la para o mundo? Ou livra-la de si mesma?
As horas se passaram lentamente e meus olhos não pregaram sequer um segundo. Apesar da exaustão tomando meu corpo, meus olhos cheios de questionamentos encaravam as estrelas através da pequena janela, com esperança de que a noite passasse e me desse as respostas necessárias.
E quando o sol pouco se pôs no horizonte, eu já estava de pé, trocando de roupa e soltando o cabelo para cobrir a marca no meu pescoço.
Encarei a mochila de Ahri no canto da cômoda, coloquei a minha sobre os ombros e peguei a sua, deixando a cena do crime para trás ao descer as escadas.
Assim que alcancei o último degrau da escadaria velha, encontrei a mesma jovem da noite anterior atrás do balcão. Em suas mãos, ela segurava uma xícara de porcelana azul, onde uma fumaça quente fumegava.
— Bom dia. — Chamei sua atenção e ela rapidamente mudou a postura, abandonando seu café sobre o balcão.
Cheia de formalidades, ela me reverenciou como podia. — Bom dia, Majestade.
Me aproximei dela com calma e olhei ao redor, procurando sinais de um par de olhos verdes. — Me chame de Lilian. — Pedi ao voltar minha atenção a mais nova.
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DEMÔNIO DE AZAHARA
Fantasy+18 | Ahri Darfin está presa em um mundo onde suas mãos estão permanentemente manchadas com sangue inocente e seus olhos perdidos a humanidade. Possuída por um príncipe-demônio de outro mundo, ela é forçada a embarcar em uma jornada dolorosa em busc...