Amelia se pôs ao meu lado assim que chegamos no alto da colina. Minha espada presa na cintura pesava toneladas quando um vento forte bateu, afastando os fios soltos da minha trança para longe do meu rosto.
E quando encaramos aquele campo de batalha coberto de neve, lavado de sangue e repleto de guerreiros que ainda lutavam por suas casas, meu coração apertou. No meio de toda aquela confusão, o espelho refletia como um ponto de luz, pronto para um próximo ataque.
— Veja os círculos de explosão. — Amelia apontou com o dedo indicador para três círculos de cinzas nas extremidades do campo, onde nenhuma alma restara.
— É isso que o espelho causa. — Ela suspirou e abaixou a mão, encarando e ouvindo aquela batalha se estender infinitamente.
— Eu sei que fui dura nas palavras mais cedo, mas não acho que estou errada. — Ela retomou ao assunto da tenda.
— Irá anoitecer. — Encarei o horizonte alaranjado que alertava a noite se aproximando. — Os exércitos recuarão para os acampamentos e voltarão a lutar nos primeiros raios de sol. — Virei meu rosto daquele banho de sangue para encarar o de Amelia.
— Ahri quebrou a promessa, Lilian. Já se passaram dois dias. Dois dias em que nossos guerreiros morrem e continuam morrendo. — Amelia segurou forte seu grimório. — Não podemos ficar parados, torcendo pelo milagre de que ela apareça.
— Ela irá aparecer.
— Isso é o que você acredita. — Ela respondeu de volta. Os olhos acinzentados ainda focados no campo de batalha.
Eu não podia culpa-los por não confiarem em Ahri, ou por não conseguirem criar alguma esperança nela. Apesar de tudo, Ahri continuava sendo uma estranha. E para eles, que nunca tiveram uma conversa verdadeiramente longa com ela, não conhecem os pequenos fragmentos que ela deixa escapar em um papo casual, ou após algumas taças de vinho.
Ahri é cruel, arrogante, narcisista, tem um instinto naturalmente terrível, uma língua afiada, talvez um pouco de impaciência e uma habilidade insuportável de me tirar do sério, mas, ainda assim... ela guarda algo diferente. Não posso conseguir enxerga-los com tanta clareza em alguns momentos e posso até me esquecer deles algumas vezes, mas sempre sinto que ela os tem. Bem no fundo, consigo senti-los. Vivos e escondidos. Sentimentos de verdade.
— Ainda temos tempo. — Encaro minhas mãos cobertas por luvas de couro que as protegem do frio que ameaça congelar os ossos. — Sempre lidamos com guerras mesmo antes de Ahri. Isso não é um problema para nós, Amelia.
— Você a odiava até um tempo atrás, por que essa mudança repentina?
— Ainda a odeio. — Admiti, mordendo o lábio. — Mas em meio a guerra e tanta morte, me agarrarei a qualquer fiapo de esperança que houver. — Amelia se calou e o som da colisão das espadas a alguns metros me trouxeram o lembrete mortal de volta.
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DEMÔNIO DE AZAHARA
Fantasy+18 | Ahri Darfin está presa em um mundo onde suas mãos estão permanentemente manchadas com sangue inocente e seus olhos perdidos a humanidade. Possuída por um príncipe-demônio de outro mundo, ela é forçada a embarcar em uma jornada dolorosa em busc...