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Passos soaram no fim do corredor e me forcei a expressar feições menos desprezíveis, já fazia uma semana desde a primeira visita deles e nunca mais eu havia visto seus rostos arrogantes

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Passos soaram no fim do corredor e me forcei a expressar feições menos desprezíveis, já fazia uma semana desde a primeira visita deles e nunca mais eu havia visto seus rostos arrogantes. Um bando de idiotas pensando que me capturaram por mérito próprio quando ignoram o fato que literalmente me entreguei em uma bandeja de ouro, na verdade, até cheguei a brincar um pouco quando agarrei Lilian por trás e coloquei uma espada em seu pescoço.

Eu estava terrivelmente arrependida por ter me rendido, ouvir a voz profana do macho na minha cabeça não é uma das coisas mais agradáveis, principalmente quando suas garras pretas cortam minha alma como um chicote invisível. Eu sabia que enlouqueceria em pouco tempo, boa parte pelo ódio do príncipe-demônio sendo descontado em mim, mas também pela sede insaciável. 

A sede que me corroía a cada segundo dentro dessa cela, longe de qualquer fonte de sangue fresco, distante da alimentação do demônio irritado implantado em mim. Os calafrios começaram no mesmo dia em que fui jogada na cela como um simples objeto descartável, e então piorou. Eu não sabia se conseguiria controlar os tremores do meu corpo e nem o suor frio que me encharcava toda vez.

Mas comecei a respirar fundo, porque sem o sangue, seu alimento, o príncipe ficava fraco, mais distante, então eu respirava diversas vezes tentando controlar os tremores. Desde aquela noite na floresta sob uma lua intimidadora, eu nunca havia ficado sem o sangue que saciava sua sede. Nunca. 

Ele sussurrava algumas vezes quando eu estava perto de pegar no sono, algo como: não se deixe levar. Sua voz se tornava cada vez mais baixa e distante, sem o sangue para fortalecê-lo, mas eu ainda o sentia vibrando em mim, dentro das minhas veias e dos meus ossos, como um lembrete maligno e cruel de que ele sempre estaria com suas mãos em meu pescoço. Eu era dele, para fazer o que quisesse comigo.

Como consequência dos raros momento de ausência da sua voz grave e antiga, os vômitos acompanhavam os tremores e o suor. A agonia de não poder saciar suas vontades me fazia querer morrer, ou então eu só começava a gemer de dor, pela ausência do sangue. A falta dele.

Essa era a dívida, estar enroscada a ele para sempre.

Ele precisava do sangue tanto quanto eu precisava me alimentar, mesmo que as comidas tivessem um gosto cinza na minha língua fazia muito tempo. Uma fêmea velha de pele escura e cabelos chamuscados com fios prateados trazia uma bandeja com mingau e água pelo menos duas vezes ao dia, ela não parecia saber quem eu era, ou só não se importava.

Também comecei a contar os dias e as horas que passavam, mas depois simplesmente desisti, deixei que o tempo se passasse sozinho, porque as dores intensas não me permitiam raciocinar ou respirar. A abstinência da sua força me deixava fraca, impotente. 

Uma luz fogosa se aproximou iluminando um pouco do corredor escuro e consegui distinguir um par de sapatos caminhando quando uma silhueta feminina apareceu do outro lado das grades grossas da cela. Com meus cabelos cobrindo meu rosto como uma cortina negra, inclinei a cabeça levemente para cima no intuito de ver quem era a dona do vestido vermelho-sangue.

DEMÔNIO DE AZAHARAOnde histórias criam vida. Descubra agora