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Eu não sabia como me sentir

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Eu não sabia como me sentir. Não sabia como agir, nem que decisões tomar. Entretanto, eu mantinha minha mente focada nas palpitações do meu coração, gravando na mente os estrondos arrebatadores quando algum sentimento me invadia inesperadamente.

Um dia após a invasão, despertei dolorosamente em um quarto estranho, encarando um teto frio, enquanto as memórias de Lilian na minha mente me consumiam como chamas vivas. Porém, no segundo seguinte, tudo veio de uma vez.

Os sentimentos que eu pouco entendia e muitas vezes nem tinha acesso, soltaram-se do meu âmago como feras libertas de jaulas. E, quando me sentei na cama ofegante e levei a mão ao coração, sorri e chorei copiosamente, enquanto sentia meu ser encher-se de uma humanidade perdida no passado.

Frustração, alegria, mágoa, ira, tristeza e, acima de tudo, arrependimento. Como flashes de uma vida inteira, um filme de memórias passou pela minha mente, um lembrete constante da culpa que eu carregaria ao longo dos anos.

Levantando-me um tanto tonta da cama, segui cambaleante até a sacada do quarto e me apoiei no parapeito, contemplando a paisagem outrora deslumbrante de Orton, agora completamente devastada pelos monstruosos ataques da tarde anterior.

Conforme minhas mãos se agarravam ao mármore até os nós dos dedos ficarem esbranquiçados, eu sentia minha bochecha e colo molharem com minhas lágrimas enquanto um misto de sensações me abatia.

Eu era um monstro. No entanto, ao contrário de tempos passados, nos quais tentava reivindicar isso como um símbolo de poder, agora sentia uma aversão profunda, incapaz de suportar o peso dos séculos que se acumulavam sobre meus ombros.

Enquanto revisitava cada derramamento de sangue causado por minha própria mão, percebia que o poder ainda pulsava vivo em meus ossos. Foi então que recordei quando Lilian selou o poder do príncipe-demônio dentro de mim enquanto o consumia com sua luz.

Lilian...

Levei a mão ao peito mais uma vez e apertei o tecido da minha camisa larga, sentindo meu coração dar um salto enquanto cada emoção parecia tão surreal para mim.

— Lilian. — Murmurei seu nome, deslizando até o chão, cobrindo meu rosto com as mãos, sentindo o calor subir pelas minhas bochechas de um modo que jamais acontecera.

Eu não era merecedora dela. Ninguém merecia passar uma eternidade ao lado de alguém que deixava uma trilha de maldições por onde passava.

Lilian não precisava de uma assassina para manchar sua imagem imaculada. Contudo, mesmo consciente disso, ainda conseguia sentir a sensação do fio que nos unia, enrolado em meu dedo, como se me lembrasse que fomos destinadas uma à outra.

Mas, será que Lilian realmente foi destinada a viver com alguém como eu?

Não, ela não merecia isso.

Inalando o ar abruptamente para os pulmões, encarei o portal que se abria para o quarto vazio e fechei os olhos lentamente, sentindo minha mente limpa e distante das garras malignas que me confundiam no passado.

DEMÔNIO DE AZAHARAOnde histórias criam vida. Descubra agora